domingo, 25 de dezembro de 2011

Indonésia: Wati sobreviveu ao tsunami e voltou para casa sete anos depois


Em 2004, o tsunami que atingiu vários países asiáticos causou mais de 230 mil mortos (Beawiharta/Reuters)

Isabel Gorjão Santos, com agências - Público

Rapariga indonésia de 14 anos conseguiu reencontrar os pais

Wati tinha sete anos quando o tsunami que devastou a região onde morava na província indonésia de Aceh a separou da família. Lembrava-se do nome da vila, Meulaboh, e do avô, Ibrahim, e isso chegou para voltar a reencontrar a mãe, sete anos depois.

O que aconteceu naquele dia foi uma catástrofe de que Wati só guarda memórias dispersas. Era 26 de Dezembro, 2004, um tsunami causado por um terramoto de 9,1 na escala de Richter espalhou a destruição e a morte em vários países da região, mais de 230 mil pessoas perderam a vida e a província indonésia de Aceh foi das mais afectadas. Wati – foi assim que lhe chamou a mulher que acabou por “adoptá-la” – lembra-se do pai a colocá-la num barco, a ela e à irmã, que nunca mais apareceu. E não voltou a saber nada da família, até agora.

Na verdade, Wati não é Wati. O seu verdadeiro nome é Meri Yuranda, foi assim que a família lhe chamou até lhe perder o rasto. O que aconteceu naquele dia não sabe bem, ela lembra-se de um barco, o pai diz que a deixou, e ela e à irmã, no telhado da casa onde viviam, conta a Associated Press.

Hoje Yuranda é uma adolescente de 14 anos, lembra-se bem do que aconteceu depois do tsunami. O seu pai, Tarmius, contou à AFP que ela foi retida por uma mulher que tomou conta dela e a obrigou a pedir nas ruas, muitas vezes até de madrugada. Yuranda acabou por deixar de levar dinheiro para casa e decidiu fugir. Quando o fez, foi p’ara finalmente procurar os pais.

Passados tantos anos, tinha duas certezas: vivia em Meulaboh e o avô chamava-se Ibrahim. E foi com estas duas informações que apareceu esta semana num café da localidade onde nascera. Ibrahim será um nome comum naquela região, mas no café não desistiram e acabaram por encontrar um homem que deveria ser o seu avô. Este teve dúvidas, contou a Associated Press, mas para as desfazer chamou os prováveis pais.

Foi então que Yusniar binti Ibrahim Nur, de 35 anos, foi ao encontro dela e disse nem precisar de testes de ADN para saber que aquela rapariga era sua filha. “Ela é a cara do pai”. Uma cicatriz junto ao olho e um sinal de nascença na coxa terá posto fim às dúvidas que restavam.

“Quando vi a minha mãe soube que era ela, soube logo”, contou Yuranda. Ela fazia parte de uma longa lista de desaparecidos, muitas vezes terá duvidado que pudesse voltar a dormir sob o olhar atento da mãe, de pijama bege, envolta num cobertor. Mas foi isso que acabou por acontecer.

Um taxista ajudou-a a voltar para casa e a procurar um homem chamado Ibrahim que tivesse perdido uma neta. “Não consigo dizer o quanto estou grata”, disse Yusniar. Na longa lista de desaparecidos está ainda o nome da outra filha que não conseguiu salvar.

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