sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LOBOS, OVELHAS & CIA




ROMEU PRISCO*, São Paulo – DIRETO DA REDAÇÃO

São Paulo (SP) - A Presidência da República conta com a assessoria de uma seleta Comissão de Ética, integrada, entre outros, por um jurista do estofo de Sepúlveda Pertence. Este órgão, em casos anteriores, não desabonou totalmente a conduta de ministros e auxiliares do Governo Federal, mas, mesmo assim, os investigados acabaram sendo demitidos, ou substituídos, por Dilma Rousseff.

Recentemente ocorreu o contrário. Enquanto aquela Comissão recomendava a demissão de Carlos Lupi, ex-Ministro do Trabalho, a Presidência da República chamava para si a "revisão" do procedimento ético e o seu líder parlamentar, deputado Cândido Vaccarezza (não confundir com "Vagareza") dizia não vislumbrar "comprovante" da prática de ilícitos pelo ministro ora demissionário.

Afinal, quem estava jogando sujo com quem ? A Comissão de Ética contra Carlos Lupi ? Contra a Presidência da República ? Ou seria a Presidência da República e seu líder parlamentar contra a Comissão de Ética ? Uma coisa era certa: desse jogo, confortavelmente instalado na tribuna de honra, Carlos Lupi passou a ser um espectador privilegiado, torcendo para que terminasse empatado.

Lá na geral, mais precisamente lá no tobogã, ficou o povão. A maioria almejando uma derrota fragorosa do "Lobos do Planalto Futebol Clube", que, apesar de acuado, mas, com a ajuda de fatores extra campo, resistia heroicamente. No lado oposto, a "Sociedade Esportiva Ovelhas Brasilianas", orientada pela competente treinadora Marília Muricy, embora contando com todos seus titulares, não conseguia finalizar corretamente no arco do adversário.

Surpreendentemente, minutos antes do apito final da prorrogação da peleja, quem sabe temendo uma decisão por pênaltis, Carlos Lupi sumiu da tribuna de honra e mandou retirar seu time do gramado. Voltou às pressas para casa, dirigiu-se ao escritório e redigiu uma carta devolvendo o cargo, para o qual fora nomeado, à sua proprietária. Diante dos antecedentes, não foi um gesto de nobreza de quem fizera uma "rompante" declaração de amor, mas sim de covardia, pela expectativa de ser rejeitado por sua amada, que pouco antes declarara,bem humorada, não ser uma adolescente sonhadora e nem uma adulta romântica.

Eis aí curiosos lances da pretensa e "sui generis" democracia brasileira. Ironias à parte, eles não representam nada de bom. Ideal seria que sequer chegassem a acontecer. Trata-se de um desgastante duelo entre forças, antagônicas, porém, aparente e paradoxalmente fracas e fortes ao mesmo. Nesse entrevero, a nação joga fora tempo extremamente precioso, que melhor seria empregado na solução de problemas de real importância e interesse popular.

Lupi desocupou suas ex-dependências ministeriais ostensivamente irado com a imprensa, mais lembrando um suposto parente distante, que costuma aparecer em noite de lua cheia.

*Paulistano, advogado e ator, dedica-se, atualmente, à arte de escrever artigos, crônicas, contos e poemas, publicados em espaços literários e jornalísticos, impressos e virtuais. Define-se como um sonhador, que ainda acredita nos seus sonhos.

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