CARVALHO DA SILVA – JORNAL DE NOTÍCIAS, opinião
Nesta quadra de Natal e fim de ano, sem deixarmos de ser realistas e objectivos na análise dos tempos que vivemos, até porque o binómio individualismo/consumismo não desapareceu da sociedade, impõe-se um esforço acrescido na busca de mensagens positivas.
Tenho para mim que, perante grandes dificuldades, a atitude construtiva e eficaz que um ser humano pode assumir é olhar os problemas com determinação e rigor, não desistir da vida (nunca) e decidir avançar para o combate com coragem, sacudindo medos e resignações, disposto a vencer. E, quando os problemas são de todos, é por esse caminho que se faz despertar a "alma colectiva" que impulsiona o avanço da sociedade.
A sujeição amorfa, o aprisionamento dos temores, o imobilismo do susto, jamais contribuíram para as respostas necessárias em momento difícil e muito menos podem ser forma de viver prolongado na expectativa de que desses estados de vida emanará um novo impulso de progresso. No caminhar das sociedades, quando se foi por aí sempre correu mal, por vezes muito mal.
Estamos a viver o que o meu amigo e prestigiado sociólogo António Casimiro Ferreira (ACF) chama de sociedade da "austerização" caracterizando-a por, entre outros aspectos, os poderes dominantes (em regra não eleitos) e os governos ao seu serviço, buscarem a legitimidade e credenciação das suas políticas violentas nas inevitabilidades, na exploração dos medos e resignações inerentes à "não existência de alternativas", na emergência da mentira, na imposição de conceitos e mitos manipulados, na inculcação da negação do futuro.
Nesse processo assistimos à desconstrução do valor do trabalho, do direito do trabalho, da cidadania, que agora nos é apresentada, criminosamente, como a resultante de um conjunto de produtos que se adquirem no mercado e debaixo das regras do mercado. E, para estas governações neoliberais e retrógradas, a estrutura e funções do Estado também se podem contratualizar no mercado.
Quando as políticas em curso nos afundam na recessão económica e no empobrecimento a pique, quando o que está delineado pelo Governo no plano social e laboral nos conduz à pobreza (também porque nos roubam o acesso à saúde, ao ensino, à protecção social ou à justiça), quando nos querem impor mais 30 dias de trabalho por ano sem receber e a abdicar de 2 a 3 salários, quando o impacto dessas políticas pode provocar o desemprego de mais 200 mil trabalhadores e trabalhadoras num espaço muito curto, não pode haver hesitações: é preciso, com confiança, ir à luta e construir na sociedade denominadores comuns que afirmem caminhos alternativos de políticas e de governação.
O professor Jorge Leite, provavelmente o mais sólido jurista português que se debruça sobre o trabalho, refere, a propósito da tentativa de aumento do horário de trabalho em mais 2,5 horas por semana, que tal objectivo se configura como trabalho forçado ou novo "imposto", espécie de reposição da corveia da sociedade medieval. Corveia significa "Trabalho ou serviço gratuito que o servo devia prestar ao suserano".
Como diz ACF é preciso afirmar a ética da indignação. Os trabalhadores e povo português vão ser capazes de dar a volta à situação e ganhar o futuro!
Como ser humano (cidadão) empenhado na sociedade, que sente o presente do seu país carregado de expressões de malvadez e perigos, e também de desafios (num contexto de descalabros a nível europeu e global), mas que ao longo da sua vida já viu e participou numa excepcional transformação social e política que tantos sonhos individuais e colectivos concretizou, desejo para 2012 que:
- os portugueses não cedam ao medo e à resignação e, em vez de prepararem o kit da emigração, se mobilizem e lutem pelos seus direitos e pelo futuro do seu país;
- os jovens afirmem, com determinação, não aceitarem uma vida pior que a dos seus pais ou avós;
- avance a luta contra a pobreza, a injustiça e as desigualdades, pela dignidade e pela solidariedade, pela soberania dos povos e países, pois assim poderemos evitar grandes catástrofes ou guerras.
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