sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O ERRO HUMANO



ROMANO PRATES

Ficou famosa a frase de Cavaco Silva quando era primeiro-ministro, uma década daquela “coisa”, expressando sem titubear que “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”. Por tão elevado absolutismo o arrogante convencido ficou então conhecido pelo cognome de “Erro Humano”. Depois disso tivemos e temos oportunidade de assistir a quanto assenta como uma luva o cognome no atual PR de Portugal.

De erro em erro – dependendo dos critérios, opiniões e branqueamentos – o certo é que Cavaco Silva tem conseguido passar pelos intervalos da chuva, que é como quem diz: tem conseguido manter-se mais ou menos à margem dos escândalos que têm assolado homens de sua confiança absoluta e certezas, nunca dúvidas. A contas com a justiça está um seu amigo de há longa data acusado de falcatruas no BPN, Oliveira e Costa – que experimentou por pouco tempo uma cela mas logo foi arranjado modo de aguardar em liberdade o desenrolar do processo. Decerto que foi um erro de Cavaco, tal amigo. Melhor seria que pusesse dúvidas sobre a sua honestidade. Este não foi o caso em que raramente ele teve dúvidas. E agora, já terá?

Pois então dúvidas tem o povoléu sobre o negócio entre Cavaco, a filha e Oliveira e Costa nuns títulos que do pé para a mão resultaram num lucro colossal. O prejuízo foi para Oliveira e Costa de 275 mil euros e significou um lucro, em dois anos, de 147 mil euros para Cavaco e filha… Coisa pouca e que deveria ser melhor esclarecido… Talvez não. Sejamos Cavacos e assumamos a postura de raramente sermos invadidos por dúvidas. Pelo sim pelo não aguardemos sentados, porque Oliveira e Costa foi tão amigo que considerou que perder com Cavaco é ganhar… Contas esquisitas que só cérebros superiores são capazes de elaborar… Mas Cavaco é um cidadão acima de qualquer suspeita. Isso é, sem dúvidas.

Outro amigo e companheiro de partido e de andanças alaranjadas que anda às voltas com a Justiça é o autarca amado de Oeiras. Isaltino Morais. O sujeito tem sido condenado a prisão mas vai descobrindo os tais “alçapões” construídos para o efeito e lá se escapa. Continua livre que nem passarinho e tem arrastado a “novela” desde 2009. Também, diga-se em abono da verdade, os crimes são de corrupção e talvez abuso, roubo… Coisas de pouca monta. Por crimes muito mais graves está acusado DuarteLima, outro Homem do Primeiro-Ministro-Presidente. Por último até há crime de sangue, devido ao processo no Brasil, em que foi acusado do homicídio de Rosalina Ribeiro, antiga companheira do milionário Lúcio Tomé Feteira. Mas, segundo é alegado, o móbil do crime prende-se com falcatruas que envolve imenso dinheiro… Enfim, amigos de Cavaco, o falado Erro Humano que nunca se engana, vítima daquela mania de raramente ter dúvidas. Nem sequer sobre os amigos. Isso mesmo ele também mostrou entender sobre Dias Loureiro, um seu amigo e ministro de quando Cavaco foi PM. Dias Loureiro foi apontado numa embrulhada do BPN, o tal banco de Oliveira e Costa… Tardiamente se demitiu de Conselheiro de Estado mas lá foi e agora anda com interesses em Cabo Verde… Tantas reticências… Foi o próprio Cavaco que declarou que nada o levava a perder a confiança em Dias Loureiro. Cá está: “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas.” Só por isso Loureiro está no altar e… escapou. Enfim, estamos num Estado de Direito.

Dúvidas também Cavaco não teve quando tardiamente veio a público tentar explicar um imbróglio com o pagamento de SISA sobre uma complexo habitacional que adquiriu no Algarve, na Aldeia da Coelha, em Albufeira. Residência em que está rodeado por casas de amigos, e que amigos! Oliveira e Costa, Eduardo Catroga… Um seu ex-ministro. Fernando Fantasia, um amigo com faro para negócios, que 15 dias antes de se saber a localização do novo aeroporto em Alcochete comprou 4 mil hectares de terreno… em Alcochete... Coincidência. Coincidência. Nem merece dúvidas.

O.E. SEM VIOLAÇÃO DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS

Pela certa que Cavaco Silva também não teve dúvidas ao promulgar o Orçamento de Estado para 2012. Foi hoje, a notícia corre célere. Se tivesse realmente dúvidas sobre inconstitucionalidades em determinados aspetos do OE decerto enviaria o mesmo para o Tribunal Constitucional. Não se imagine que o Erro Humano faria o favor ao governo de Passos Coelho, se ainda fosse a Loureiro, ou a outro dos amigos de longa data… Mas não. O OE foi promulgado porque não tem nada de inconstitucional nem suscetivel de suscitar dúvidas… Temos a garantia do Erro Humano. Mas há quem tenha dúvidas sobre esta promulgação de caráter urgente. Pois é, só quem não se chama Cavaco pode ter dúvidas e enganar-se. Nem se duvide.

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