quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O “EXCEDENTE” QUE O NÃO É




BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Miguel Relvas foi apupado no XIII Congresso Nacional das Freguesias. O ministro é um homem infausto e tem a insensata tineta de desejar estar sempre em primeiro plano. Por vezes, até é confundido com o primeiro-ministro. Também nas contradições. Mas ambos fazem uma boa parelha de beques. Dizem uma coisa apressada e infundada e, logo a seguir, o seu contrário. Relvas foi pateado exactamente pela impetuosidade com que diz coisas. Sabe-se que a questão das freguesias deve ser tratada com extremo cuidado. Sabe-se, é como quem diz: pelos vistos, o ministro Relvas não sabe.

Acredito que as há a mais. Também acredito que esse excesso tem a ver com razões históricas, sentimentais, emocionais e outras. Tanto José Mattoso como António Borges Coelho podem explicar, dando-se o caso de os governantes estarem dispostos a ler e a ouvir. Duvido. E foi, eventualmente, por não querer ouvir, e por soberba e altanaria de poder, que Miguel Relvas levou com a pateada na visagem.

Apareceu na magna assembleia com um papel definitivo debaixo do braço. Não estava ali para atender: estava para falar. Um desastre. De desastre em desastre, parece que este Executivo possui, apenas, um desiderato: fazer valer o que entende ser, sem atentar nas razões dos outros. Agora, e de súbito, surgiu nas contas públicas um "excedente" de dois mil milhões de euros.

Passos revelou o facto, liso, formal, veemente e, até, um pouco dramático. Quase a seguir, disse que não dissera o que disse, e alinhavou uns remendos no discurso, deixando um legado de incredulidade e de perturbação no comum dos mortais. A pateada a Relvas e o diz-que-sim-e-que-não de Passos são sintomas de uma política confusa e indeterminada, obstinada e torta. Aliás, Passos Coelho afirma e repete, com enfadonha teimosia, que tanto se lhe dá como se lhe deu o protesto, a contestação, a revolta.

Quanto aos dois mil milhões de "excedente", que mereceram atabalhoadas "explicações" dos habituais comentadores do óbvio, e uma crítica académica e dispersa de Seguro, o seu destino estava traçado, e custar-nos-á os olhos da cara nos anos mais próximos. Como salientou Alfredo Barroso, no Frente-a-Frente da SIC Notícias, quem vai pagar são os trabalhadores.

Estas três personagens são exemplos típicos de uma época na qual a ignorância, a intemperança e a hipocrisia constituem valores tributários de uma nova leitura do mundo. Nada do que dizem é verdade, tudo o que dizem parte de equívocos e de evasivas. E estes "princípios" estão longe de ser passageiros. Podemos protestar, vaiar, proceder a acções mais ou menos violentas que o discurso deles é inalterável e, embora os não incomode, põe em evidência a sua amoralidade.

O assunto do "excedente" que o não é vem reforçar o conceito de agressividade (não apenas simbólico) comum à ideologia do Governo.

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