sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O “HOMEM DA LUA” E A ILHA DO PRÍNCIPE



ABEL VEIGA – TÉLA NÓN

Mark Shuttleworth, o milionário sul-africano, por sinal primeiro homem africano que viajou para o Espaço, é vulgarmente chamado pela população do Príncipe de “homem da lua”. Ele é actualmente proprietário de cerca de metade das terras da ilha do Príncipe, onde pretende desenvolver um ambicioso projecto de turismo ecológico. A dificuldade do Governo central em assinar o acordo administrativo final, está na base da manifestação popular de hoje.

Ña semana passada a bandeira nacional foi queimada na ilha do Príncipe. Os panfletos que foram espalhados na cidade de Santo António na mesma noite da última quinta – feira, comprovaram que a agitação popular era iminente e que estava tudo relacionado com a execução do projecto de desenvolvimento do turismo ecológico, sob a liderança de Mark Shuttleworth, o chamado “homem da lua”.

Desde Maio passado que o Governo Regional do Príncipe na pessoa de José Cardoso Cassandra, assinou um acordo de investimento com o Grupo Empresarial de Mark Shuttleworth, designado HBD-Boa Vida.

Na altura o Téla Nón divulgou o acontecimento, e fez referência que o Governo Central, ficou amuado pelo facto do Presidente do Governo Regional ter assinado o acordo com o milionário sul-africano. Aliás Téla Nón foi único órgão nacional de comunicação social que deu a notícia da assinatura do acordo. Os órgãos estatais foram silenciados, porque alegadamente o executivo não estava contente com a consumação do negócio, sem o seu aval.

No entanto o Governo Regional do Príncipe, garantiu que assinou cumprindo com as prerrogativas definidas no novo Estatuto Político e Administrativo da ilha, garantido pelo diploma legislativo que criou a Região Autónoma do Príncipe.

O grupo sul-africano HBD – Boa Vida, mostrou claramente que não estava para brincar. Logo após a assinatura do acordo de investimento, começou a realizar acções no sentido de a médio prazo transformar a ilha do Príncipe, num santuário de turismo ecológico de alto nível. Comprou roças como Paciência, e comprou participação de outras empresas que pretendiam realizar projectos turísticos na orla costeira do Príncipe. Assim, o grupo sul-africano, passou a ser proprietário das mais lindas praias do Príncipe, como Macaco, Boi e também o ilhéu Bombom.

A extensão de terra que já tinha em mãos parecia pouca para o grupo sul-africano, que junto ao Governo Regional, propôs estender a área de desenvolvimento de turismo ecológico para o norte da ilha do Príncipe, envolvendo a roça Sundy. No dia 29 de Maio passado, quando se assinalou mais um aniversário sobre a comprovação da teoria da relatividade, acontecimento que teve lugar na Roça Sundy em 1919, o Téla Nón testemunhou a concessão da Roça Sundy para o grupo sul-africano.

Na ex- casa de patrão da Roça, Mark Shuttleworth e membros da sua empresa HBD, apresentaram o grande projecto turístico que vai nascer na ilha incluindo a Roça Sundy. Na cerimónia foi anunciado que o património arquitectónico da Roça iria ser reconstruído, para potencializar a agricultura, e alimentar o turismo cultural e ecológico. Os trabalhadores da Sundy mais de 200 chefes de famílias que estavam desempregados, passaram a ganhar sustento mensal graças a intervenção do grupo Sul Africano.

Mas alguns meses antes da cerimónia de Sundy, o Presidente do Governo Regional, José Cassandra, deu uma entrevista ao Téla Nón na cidade de Santo António, tendo anunciado que a roça iria ser concedida ao grupo sul-africano. José Cassandra, disse que o anterior projecto que o Governo Central, tinha assinado para Sundy, que visa a produção de óleo de palma, não se ajustava à política estratégica definida para o desenvolvimento da ilha.

Na entrevista José Cassandra explicou que o plantio de palmeiras, teria como consequência o derrube de parte da floresta da ilha, e o mais grave ainda é a destruição dos solos que o palmeiral poderia provocar. Segundo José Cassandra, o governo regional definiu a manutenção e preservação da natureza virgem do Príncipe, como prioridade número 1, assim como a promoção do turismo ecológico na ilha.

No entanto o anterior Governo de Rafael Branco, já tinha assinado acordo com o grupo privado belga SOCFINCO S. A, para plantio de palmeiras e produção de óleo de palma na Roça Sundy. Um projecto com duração de 25 anos, que envolveu também a Roça Ribeira Peixe em São Tomé e parte da zona de Porto Alegre no extremo sul de São Tome.

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