domingo, 11 de dezembro de 2011

ONU: Organizações regionais deveriam passar a integrar CS, defende Adriano Moreira




A reforma das Nações Unidas é um imperativo e nela não caberá nem França nem Inglaterra, substituídas pela Europa, devendo unir sobretudo as organizações regionais para manter um equilíbrio de poder.

A ideia foi defendida pelo académico português Adriano Moreira que, numa entrevista à Agência Lusa, no Mindelo, ilha de São Vicente (Cabo Verde), sustentou que as "especificidades" do regionalismo devem ter um papel a desempenhar, entre elas a própria Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"As pessoas preocupam-se tanto com o globalismo, que no fundo é uma teoria de interdependência, e esquecem-se das especificidades, que são cada vez mais importantes. A CPLP tem uma especificidade em relação ao globalismo que tem uma importância extraordinária para a reorganização da ordem mundial", afirmou.

Nesse sentido, Adriano Moreira, que recebeu sábado o doutoramento "Honoris Causa" pela Universidade do Mindelo, frisou que as Nações Unidas "precisam de ser reformuladas e o respetivo Conselho de Segurança redefinido.

"Haverá grandes países que terão o seu lugar, mas as organizações internacionais especializadas terão de ter o seu lugar. A Inglaterra e a França não devem estar no Conselho de Segurança, mas sim a Europa. Em muitas organizações, como a CPLP, o regionalismo das especificidades vai ter o seu lugar", sustentou.

"A essas organizações, a que chamo regionais porque me parece ser a palavra mais expressiva, aglomeram países e é pela sua aglomeração que se apresentam como uma unidade que pode equilibrar o poder dos grandes países. Isso tem de ser tido em conta. É um assunto para discutir minuciosamente", acrescentou Adriano Moreira.

Questionado pela Lusa sobre se o facto de uma universidade de Cabo Verde - o ensino superior no arquipélago "nasceu" em 2001 - ter, pela primeira vez, atribuído um grau de doutoramento escolhendo uma personalidade portuguesa que deixou "marcas" no país, o antigo ministro do Ultramar considerou a iniciativa "reconfortante".

"Na vida académica é a honra maior que se pode receber. Considero importante, do ponto de visto da cultura portuguesa, que isto seja feito num território que foi colonizado por Portugal e se tornou independente. Isso deve ser reconfortante e animador para todos os que se interessam pela manutenção da comunidade destes povos das CPLP", justificou.

"Tenho impressão que, não apenas em Cabo Verde, mas em todos os antigos territórios, o bom entendimento é crescente. Um dos ramos que presta melhor serviço de cooperação com todos os territórios é as Forças Armadas, o que parece surpreendente.

Cabo Verde foi sempre um caso especial nas relações com Portugal", acrescentou.

Sobre as críticas lançadas pela Associação dos Ex-Presos Políticos (/ACEP) do Campo de Concentração do Tarrafal, que consideram "um insulto" à memória dos nacionalistas cabo-verdianos, angolanos e guineenses que por lá passaram, Adriano Moreira, que em junho de 1961 decretou a reabertura da prisão, desdramatizou.

"Sei que há uma polémica qualquer. Não tomei conhecimento, não quero tomar conhecimento. Quando me falam nesse assunto, eu digo que vim cá para uma cerimónia académica. Interessa-me a opinião e os votos dos académicos. Não conheço, não quero conhecer pessoas que não sei quem são, cuja opinião é livre, e eu também tenho a liberdade de não querer saber e não ligar importância", referiu.

"[Naquele tempo] Sempre defendi a mudança, o regresso àquele velho projeto de ter o estatuto de ilhas adjacentes. Foi discutido no meu tempo. Não foi aqui aceite, mas foi discutido. Mas há uma relação muito especial e íntima entre portugueses e cabo-verdianos", concluiu.

*Foto em Lusa

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