terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Primavera Angolana: EM LUANDA ECOOU “DOS SANTOS, GATUNO, O POVO NÃO TE QUER”




REDAÇÃO, com Central Angola 7311

Os “Indignados de Angola”, no passado dia 3, voltaram a manifestar-se em Luanda contra a ditadura de Eduardo dos Santos-MPLA e todas as ilegalidades que vêm cometendo há décadas. Os manifestantes foram uma vez mais reprimidos pela polícia do ditador, desta vez com o testemunho de uma dirigente da Human Rights Hatch. Isso mesmo também testemunha o vídeo exibido.

Em prosa retirada do site CENTRAL ANGOLA 7311 transcrevemos apontamentos ali constantes sobre o que aconteceu, convidando os interessados a acompanhar as suas atualizações. O título “Cumplicidade Assassina” é dividido em duas partes, que aqui na nossa compilação juntamos. Ao site e aos insitentes lutadores pela Primavera Angolana manifestamos os nossos agradecimentos.

CUMPLICIDADE ASSASSINA


Não nos vamos estender em muitos detalhes e cingir-nos-emos aos factos mais marcantes que as nossas retinas registaram, que a nossa carne sentiu e aos quais centenas de pessoas testemunharam. Ficarão a faltar alguns, de certeza igualmente ou até mais graves que ainda não chegaram a nosso conhecimento.

- por volta das 9 da manhã, quando éramos ainda muito poucos em frente ao tanque do Cazenga, a primeira intervenção dos kaenches a civil sob o olhar atento da policia fardada: “assaltaram” os manifestantes retirando-lhes com agressividade os seus dísticos e cartazes.

- os manifestantes encetam a primeira tentativa de diálogo com o responsável de serviço da PN para se identificarem e discutirem a agenda da manifestação, mas são recebidos com as palavras: “quem vier falar comigo, vou dar na cara”.

- pouco antes das 13h, a marcha do Cazenga arranca mas não consegue percorrer 200 metros até se ver obstruída por um cordão policial.

- esse primeiro cordão é desorganizado e facilmente contornado pelos manifestantes.

- outra centena de metros foram percorridos até que um bloqueio mais consistente, com algumas viaturas, é formado.

- apercebemo-nos de um veículo a chiar atrás de nós. Era um Toyota Prado preto que furava o bloqueio da estrada realizado pelos manifestantes, em alta velocidade e criminosamente conduzido para cima destes PELA COSTAS!

- o inevitável aconteceu e o carro conseguiu atropelar o manifestante Massilon Chindombe, que, miraculosamente, não sofreu consequências mais graves do que uma séria dor de costas, uns arranhões do embate no asfalto e a inutilização do seu telemóvel.

- ficamos a saber minutos mais tarde, que o Prado era conduzido pelo Comissário Filipe José Massala, tirámos fotografias e a matrícula: LD-64-47-AE.

- em retaliação a essa atitude assassina da parte de quem esperamos protecção, alguns manifestantes se insurgiram contra o carro da policia que seguia o prado, tendo partido o vidro do condutor.

- enceta-se uma tentativa de negociação. Nós mostrámos a carta ao GPL e ao CGPN informando da realização da manifestação. Perguntamos por documentação ou lei que contrarie o nosso acto. Revelam-se incapazes de os produzir, repetindo apenas as suas ORDENS ARBITRÁRIAS E ILEGÍTIMAS.

- cria-se um impasse que leva largos minutos e, atrás da linha da policia fardada, começam a acumular-se indivíduos de feições maliciosas e de temível constituição física. Eram vários e não conseguiam dissimular a sua sede para a acção.

- quando chegou o seu momento, agiram de maneira concertada: uns seringavam os olhos dos manifestantes com um líquido artesanal para provocar ardor e cegueira temporária, enquanto os outros pegavam nesse manifestante e o enchiam de socos e pontapés, mais uma vez perante o olhar impávido da policia.

- o pânico instalou-se e os manifestantes entraram em debandada, atirando pedras e garrafas para os agressores.

- separámo-nos em pequenos grupos e fomos nos concertando para nos reorganizarmos já no largo da independência.

- os poucos jovens que se concentravam no S. Paulo aguardando estar mais gente para arrancar com a sua marcha, nem tiveram tempo de sair, sendo também eles submetidos a similares sevícias (porrada e agressões), não sendo poupados à este trato desumano nem os jornalistas e nem o amigo Adão Ramos, portador de deficiência física que lhe condena a locomoção com cadeira de rodas, tendo ele sido lançado, como se de um saco de batatas se tratasse, para a traseira da carrinha da polícia, levando ainda com a própria cadeira de rodas no lombo depois desta ser projectada para cima dele, acompanhados dos mais vis impropérios referentes à sua já diminuída condição.

- depois da debandada, ficámos bastante reduzidos e, quando chegámos às proximidades do Largo da Independência, demo-nos conta que o efectivo que lá estava e nos transcendia em número, não tinha ido para “distribuir rebuçados” e não faziam intenção de nos deixar progredir até ao Largo da Independência. Adivinhava-se um segundo round de brutalidade policial que, infelizmente, se veio a constatar.

- O grupo que chegou ao Largo depois da debandada no Cazenga era bastante diminuto, sobretudo tenho em conta o contingente da Polícia com que nos deparámos.

- Mal nos avistaram começaram a comunicar com os seus walkie-talkies. Sentiu-se uma tensão instantânea.

- Começaram a dispor-se em linha ao longo da divisória central por onde nos aproximámos.

- Seguimos em direção a eles, determinados em atingir o nosso objetivo final, o Largo da Independência.

- Ao chegarmos em frente a eles perguntámos “Quem é o responsável por esta missão? Queremos falar com o
responsável e só com ele!”

- O responsável identificou-se com um simples “sou eu o responsável”. Comunicámos a nossa intenção de chegar ao Largo exibindo-lhe a carta enviada ao GPL e ao CGPN cumprindo com a totalidade dos trâmites legais.

- Apesar de tudo isso, mais uma vez e de forma arrogante, o Comandante nos comunicou que voltassemos para as nossas casas que para o Largo não iríamos.

- De imediato começou o empurra-empurra, que foi degenerando pois recusámo-nos acatar uma ordem arbitrária sem respaldo legal.

- Os cães entraram em serviço, mas acabaram por ser retirados depois de morderem um rapaz.

- Os kaenche de serviço carregaram uma, outra e ainda outra vez, tantas vezes que perdemos a conta.

- Foi deveras revoltante pois tudo isso se passava e menos de um metro da linha da polícia e eles continuavam a assobiar para o ar.

- O Jang Nómada que estava incansável a tentar mediar o diálogo entre PN e manifestantes foi o primeiro a sofrer, tendo-lhe sido desferidos vários socos que lhe rebentaram os lábios.

- Não recuou por um segundo e assim que o largaram, voltou a ocupar o posto do qual se auto-incumbiu.

- Essa valentia valeu-lhe mais duas agressões ao longo da tarde e banho do líquido.

- Numa das investidas o Adolfo Campos e o Luaty Beirão levaram com o líquido, o Adolfo mais gravemente atingido nos olhos e tendo uma reacção de choque, quase perdendo os sentidos.

- Começou então uma operação de socorro no local, com os manifestantes a despejarem-lhe água no rosto, enquanto ele parecia ter entrado em estado catatónico.

- A polícia, em mais uma atitude criminosa, não facilitou a tarefa, continuando a empurrar-nos para trás com violência, mesmo vendo o Adolfo sentado no chão, quase desprovido de sentidos.

- Resistimos e implorámos que nos deixassem levá-lo ao Hospital Militar, o mais próximo do local.

- Passaram-se mais de 10 minutos de empurrões e caos até que o Comandante Franck desse ordem para metê-lo num carro da Polícia.

- Via-se que havia várias pessoas a dar ordens pois os menos de 50 metros que tivemos de percorrer para chegar ao carro não foram sem sobressaltos, cada agente tentando impedir-nos de continuar.

- O Adolfo foi levado para o Hospital da Polícia, por trás da Unidade Operativa, acompanhado pelo Luaty e pelo Luamba.

- Mais tarde juntou-se a eles o Alexandre Dias dos Santos “Libertador”, também ele vítima do infame líquido.

- Entretanto no largo um dos Kaenches descuidou-se e caiu na mão de um grupo de manifestantes que descarregaram nele a fúria acumulada e inverteram a regra enchendo-o de pontapés e socos. A polícia veio socorrer o seu homem.

- O Carbono que estava periférico à manifestação assistindo de longe, enquanto conversava com a activista da Human Rights Watch, foi agredido por 3 kaenches que lhe despejaram 4 garrafas do “sumo” nos olhos.

- Correu, cego, procurando o socorro da polícia a menos de 10 metros, mas esta agarrou nele e facilitou a tarefa aos agressores, ajudando com uma torrente de puretes na cabeça.

- Depois de serem socorridos, Adolfo, Luaty, Luamba, Libertador, foram encontrar-se com o Jang que ainda estava no Largo.

- Aí repararam que os cães tinham sido levados e os cavalos tinham vindo substituí-los.

- Com o cordão policial misturaram-se os kaenches que transportavam porretes da polícia nas mãos.

- Um deles fez questão de exibir uma arma.

- Os cavalos carregaram, os manifestantes correram, desgastados mas não vencidos.

A luta continua!

- Mais Angola se clicar no símbolo correspondente que se encontra na Barra Lateral (bandeira)

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