Bernardino Gonçalves (Dino – Safende) – Liberal, opinião
"Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota” - Madre Teresa de Calcutá
Amo a cidade que me viu nascer. Tenho especial carinho por ela. Quando estou fora de Cabo Verde não paro de pensar no meu bairro as suas gentes, os altos e baixos, o ritmo e a poesia das vidas, muitas vezes não escrita mas vivida…
A vida desde sempre foi caracterizada por conjunto de relações e interacções entre o indivíduo, a família, a escola, o trabalho, os amigos e com ela mesmo! Nunca ninguém garantiu que estas relações fossem às mil maravilhas. Quem nunca teve um momento de tensão mesmo com a pessoa mais amada? Então, se é inevitável haver conflitos, já é perfeitamente evitável que a resolução implique, custe a vida. Este intro quer concorrer para partilhar consigo amigo, amiga que estás a ler este texto, uma pequena reflexão sobre o direito-mor, a sacralidade da vida humana e o seu desrespeito aqui na Praia e não só!
Este valor último sofre hoje, por demais, ameaças através de acções, omissões, pensamentos e não sei que mais. Falar do direito à vida hoje na Praia é quase um insulto! Morre-se matado a quase ritmo de final de semana; não há indignação, não há chamadas de responsabilidades mais enérgicas, não se fala além do dia do acontecimento. Há sim os lamentos de dois minutos e um rodapé. como se é isso fosse a ordem natural das coisas.
SEM VIDA É INÚTIL FALAR NOS OUTROS DIREITOS...QUO VADIS PRAIA?!
O mais terrível de tudo é que estamos a entrar na via de considerar normal a violência e isso é perigosamente perigoso. Para ilustrar um exemplozito: dirijo a umas pessoas e após cumprimentos pergunto: e então o final de semana como é que foi? Recebo a pronta resposta: foi bom, só houve dois tiros ou “bai dretu so ki flano que da sicrano pancada”. Depois continua a conversa como se fosse a coisa mais natural. Não, não e não …não é normal! Não pudemos normalizar isto. É anormal, completamente anormal! Recuso-me a aceitar isto. São inimagináveis as consequências da cultura “dexa bai” neste particular da violência violenta! Cada um de nós vem (des) contribuindo para enraizamento dessa cultura de normalizar a violência, se não por acção, por omissão! Quo vadis concidadãos?! Será que acordaremos a tempo!? Que achas meu amigo, minha amiga?
A tempos tinha partilhado a reflexão “O vosso silencio mata-nos”. Nas horas, dias que se seguiram recebi inúmeros emails, chamadas e congratulações. Quase todas as pessoas a dizerem convictamente, que sim, que devemos fazer algo. Não me empolguei muito pois os meus anitos de vida permitiram-me conhecer boa parte do meu povo; mais fatos do que gangas!
Vejo um jovem na rua da minha cidade e subitamente dou-me conta que começo a pedir aos céus que ele não seja o próximo a ser chorado! Porquê minha cidade? Segundo alguém, após prever mortes violentas na semana passada, dizem os entendidos que isto, que está a passar entre nós, já é endémico. Paremos todos de brincar com o primeiro e o último dos valores - a vida. Fale com o seu vizinho, convence o seu amigo, desafie o seu amado; chore, reflicta não fique à espera; não mais mortes violentas na Praia. Ao menos neste Natal, neste final de ano! E que tal o ano todo?
Tenha um final de semana normal.
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