FERNANDO SANTOS – JORNAL DE NOTÍCIAS, opinião
No próximo mês e meio será avisado o País fazer um desvio da espuma dos dias para se concentrar em algo de verdadeiramente essencial para o seu futuro: a Reforma Curricular ontem apresentada pelo ministro da Educação, Nuno Crato.
Portugal deu nas últimas décadas alguns pulos qualitativos no sistema de Ensino mas mantém-se longe de um quadro satisfatório num mundo cada vez mais exigente. Os avanços realizaram-se em larga escala mercê de facilidades apenas compreensíveis à luz da frieza estatística - e sem um fio condutor.
Infelizmente, os grupos de pressão formatados a partir dos professores, dos encarregados de educação e dos alunos, foram capazes de influenciar as políticas do mastodôntico Ministério da Educação. Pior só mesmo a incapacidade dos partidos políticos do arco da governação para se entenderem sobre uma linha comum para uma prática convergente: quantidade e qualidade de Ensino.
Certo, os problemas da Educação não se esgotam numa reforma curricular. No entanto, no naipe das insuficiências, ela integra o quadro prioritário a partir do qual será possível fortalecer algo de essencial a qualquer ser humano: o conhecimento.
Naturalmente passível de poder ser melhorada, a proposta de Reforma Curricular assinada por Nuno Crato contém objectivos bem definidos. E só por mera birra ou antipatia para com o ministro será possível não admitir dispor de um enunciado clarificador.
Se é positivo o reforço da carga horária em disciplinas como Português, Matemática, História, Geografia, Ciências ou Físico-Química, das linhas gerais da Reforma Curricular salta à vista o objectivo de reforço da aprendizagem obrigatória do Inglês e das Tecnologias da Informação e Comunicação. Ninguém em bom juízo achará mal disporem os alunos de reforço e antecipação da capacidade para manejarem duas ferramentas indispensáveis nos tempos de hoje. Claro: o estabelecimento de novas prioridades faz-se em detrimento de opções instaladas - e assim se compreende o facto de a Fenprof, em vez de proceder à ponderação das vantagens e prejuízos decorrentes da proposta para os... alunos, estar já aos tiros pela defesa dos postos de trabalho dos professores de Educação Visual e Tecnológica, reduzidos a um por turma e obrigados a "ceder" tempos lectivos.
A abertura da discussão é, no fim de contas, um ponto primordial para o avanço do sistema de Ensino. Obter o convencimento das várias partes em presença, sem capitulação nos princípios, será, agora, a forma mais adequada e prudente para avaliar o resultado final da intervenção do ministro da Educação.
Os poucos meses de governação de Nuno Crato podem não ser do agrado de alguns agentes ligados ao Ensino. Há, porém, uma marca de água sua no Ministério: tem sido capaz de fazer um esforço de aproximação das práticas à defesa de princípios enunciados quando ainda estava muito distante de imaginar o convite e a hipótese de derrubar o autêntico monstro em que há décadas se transformou o mais emblemático edifício da lisboeta Avenida 5 de Outubro...
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