Sandro Fernandes, Moscou – Opera Mundi – Foto EFE - ontem
Manifestações contra fraudes eleitorais ganham força na internet e se espalharam por 50 cidades
Um sentimento de coletividade e participação política que não era visto há pelo menos duas décadas tomou conta da Rússia neste fim-de-semana posterior às eleições legislativas do último domingo (04/11). Durante toda a semana, as redes sociais foram invadidas por demonstrações de insatisfação com o resultado das eleições, marcadas por fraudes e falsificações. Os russos, normalmente apáticos e pouco interessados em política, passaram a discutir os rumos do país em blogs e fóruns on-line.
Fraudes eleitorais não são uma novidade para os russos, mas parece que nem mesmo o Kremlin esperava por uma reação nesta proporção, envolvendo 50 cidades por todo país. Vladimir Putin, líder do partido majoritário, Rússia Unida, perdeu o encanto e não contava com o poder de mobilização das redes sociais. Num país onde as três únicas televisões que cobrem todo o território nacional são controladas pelo Estado, a internet se transformou na plataforma democrática por excelência.
Mesmo com os inúmeros casos de ilegalidade no processo eleitoral a favor do partido do primeiro-ministro Putin, o Rússia Unida não atingiu nem mesmo 50% de votos (em 2011, quase 65% da população votaram no partido).
O descontentamento demonstrado durante toda a semana culminou numa enorme manifestação na praça Bolodnaya. Nacionalistas, liberais e comunistas protestaram juntos contra a farsa eleitoral. Muitos aposentados e simpáticas “babushkas” não escondiam a sua nostalgia soviética. Ao lado, um grupo de jovens tirava fotos com modernos tabletes e enviava a amigos. Um pouco mais à frente, três rapazes agitavam timidamente a colorida bandeira gay, algo impensável numa cidade onde os grupos gays tentam há cinco anos aprovar uma parada do orgulho LGBT. “Parece que hoje é o dia da festa nacional, quando ninguém tem nem partido nem etnia”, revelou um dos participantes. Neste sábado, não importava com que ideologia de oposição cada um se identificava. O importante era ser esta oposição inconformada com o resultado eleitoral. “O povo unido jamais será vencido”, gritavam no protesto.
A quase total ausência de incidentes também surpreendeu os manifestantes. Flores foram distribuídas durante todo o evento e os oposicionistas não se renderam às provocações de grupos que apóiam o governo Medvedev-Putin.
A criatividade e a ironia também fizeram parte dos protestos deste sábado, mostrando o lado bem-humorado dos russos. No palco, um dos líderes da oposição ironizou: “Amanhã, os jornais vão dizer todos nós que viemos à manifestação recebemos um sms da Hillary Clinton obrigando-nos a participar dos protestos”. A secretária de Estado norte-americano, Hillary Clinton, criticou duramente as fraudes no processo eleitoral russo. No mesmo dia, Putin acusou Clinton de estar incentivando os protestos na Rússia.
Na próxima segunda-feira (10/12), às 16h locais (10h em Brasília), 20 mil pessoas são esperadas na praça Manezh, ao lado do Kremlin, numa manifestação chamada “Glória à Rússia”, de apoio ao partido majoritário Rússia Unida, do primeiro-ministro Vladimir Putin.
Autoridades russas advertem:
Protestar faz mal à saúde e distrai dos estudos
Vladímir Mkrtchian - Efe - Moscou
Ministro pediu que manifestantes contra fraudes eleitorais não saiam às ruas por causa do frio
Justamente na véspera de grandes atos de protesto contra a suposta fraude eleitoral cometida pelo governo da Rússia, as autoridades advertiram que manifestar-se faz mal para a saúde, e além disso, distrai dos estudos.
O chefe sanitário russo, Gennady Onishchenko, que ganhou grande fama por protagonizar o embargo de importações de verduras europeias à Rússia, e de vinho da Geórgia e Moldávia, declarou nesta sexta-feira que manifestar-se no inverno é nocivo para a saúde. "Eu recomendo não ir às manifestações levando em conta o frio que faz agora (...), sobretudo para as pessoas que padecem de doenças crônicas e endócrinas", disse Onishchenko, citado pela imprensa russa.
Sobre as condições do aumento de doenças, as manifestações maciças nas ruas poderiam "contribuir ao contágio da doença respiratória aguda", advertiu.
Além disso, uma fonte do Ministério da Educação da Rússia afirmou sob condições de anonimato à agência "Interfax" que os estudantes do ensino médio poderiam ser forçados a ir neste sábado à escola fazer exames de língua russa, para que não haja tempo para manifestarem-se.
O ministro da Educação russo, Andrei Fursenko, defendeu que os estudantes não devem ser chamados a participar de atos de protesto ou apoio de nenhuma natureza. "Os jovens devem estudar. Não vale a pena envolvê-los em atos de rua, e isto se refere a todas as organizações sociais", disse Fursenko.
Entretanto, essa preocupação das autoridades não impediu que em diferentes regiões russas, milhares de jovens partidários do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, comparecessem às ruas para apoiar seu líder, apesar do frio e da suposta necessidade de estudar.
Tocando tambor e isolados por policiais, os movimentos juvenis governistas marcharam pelo centro de Moscou sob o tema de John Williams de Star Wars, glorificando Putin e atacando o Ocidente, que supostamente "instiga os inimigos da pátria".
Essa grande manifestação, convocada pela organização "Nashi" (Os Nossos), foi autorizada pelos funcionários da Prefeitura da capital sem limite do número de participantes.
Os opositores, que teriam que se conformar na segunda-feira com um máximo imposto de 500 manifestantes, saíram em número de entre três e cinco mil pessoas devido aos altos níveis de inconformidade em Moscou, a região mais crítica com a gestão do partido Rússia Unida.
Apesar da passeata dos movimentos governistas ter recebido elogios na televisão russa, os opositores receberam golpes das autoridades, segundo mostram as imagens recolhidas no local por várias testemunhas.
"Mal saí do metrô, de repente me agarraram os "cosmonautas" (policiais com capacete) e me colocaram em um caminhão. Não me explicaram nada", disse à agência Efe Alexei Sulin, um das testemunhas da manifestação.
Mais de mil opositores foram detidos desde o dia das eleições durante atos de protesto contra a fraude, enquanto os governistas permaneceram "intocáveis".
As detenções provocaram fortes críticas tanto na imprensa russa quanto no Ocidente, cuja reação negativa foi imediatamente classificada pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como uma mostra da implicação dos Estados Unidos nos protestos na Rússia.
Os resultados das eleições legislativas incentivaram o descontentamento popular que cresceu por numerosos casos de corrupção e permissividade por parte dos funcionários do RU.
Enquanto isso, cerca de 35 mil usuários do Facebook confirmaram que se reunirão no sábado em Moscou para uma manifestação antigovernamental, que poderia ser a maior desde o último século.
O chefe sanitário russo, Gennady Onishchenko, que ganhou grande fama por protagonizar o embargo de importações de verduras europeias à Rússia, e de vinho da Geórgia e Moldávia, declarou nesta sexta-feira que manifestar-se no inverno é nocivo para a saúde. "Eu recomendo não ir às manifestações levando em conta o frio que faz agora (...), sobretudo para as pessoas que padecem de doenças crônicas e endócrinas", disse Onishchenko, citado pela imprensa russa.
Sobre as condições do aumento de doenças, as manifestações maciças nas ruas poderiam "contribuir ao contágio da doença respiratória aguda", advertiu.
Além disso, uma fonte do Ministério da Educação da Rússia afirmou sob condições de anonimato à agência "Interfax" que os estudantes do ensino médio poderiam ser forçados a ir neste sábado à escola fazer exames de língua russa, para que não haja tempo para manifestarem-se.
O ministro da Educação russo, Andrei Fursenko, defendeu que os estudantes não devem ser chamados a participar de atos de protesto ou apoio de nenhuma natureza. "Os jovens devem estudar. Não vale a pena envolvê-los em atos de rua, e isto se refere a todas as organizações sociais", disse Fursenko.
Entretanto, essa preocupação das autoridades não impediu que em diferentes regiões russas, milhares de jovens partidários do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, comparecessem às ruas para apoiar seu líder, apesar do frio e da suposta necessidade de estudar.
Tocando tambor e isolados por policiais, os movimentos juvenis governistas marcharam pelo centro de Moscou sob o tema de John Williams de Star Wars, glorificando Putin e atacando o Ocidente, que supostamente "instiga os inimigos da pátria".
Essa grande manifestação, convocada pela organização "Nashi" (Os Nossos), foi autorizada pelos funcionários da Prefeitura da capital sem limite do número de participantes.
Os opositores, que teriam que se conformar na segunda-feira com um máximo imposto de 500 manifestantes, saíram em número de entre três e cinco mil pessoas devido aos altos níveis de inconformidade em Moscou, a região mais crítica com a gestão do partido Rússia Unida.
Apesar da passeata dos movimentos governistas ter recebido elogios na televisão russa, os opositores receberam golpes das autoridades, segundo mostram as imagens recolhidas no local por várias testemunhas.
"Mal saí do metrô, de repente me agarraram os "cosmonautas" (policiais com capacete) e me colocaram em um caminhão. Não me explicaram nada", disse à agência Efe Alexei Sulin, um das testemunhas da manifestação.
Mais de mil opositores foram detidos desde o dia das eleições durante atos de protesto contra a fraude, enquanto os governistas permaneceram "intocáveis".
As detenções provocaram fortes críticas tanto na imprensa russa quanto no Ocidente, cuja reação negativa foi imediatamente classificada pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como uma mostra da implicação dos Estados Unidos nos protestos na Rússia.
Os resultados das eleições legislativas incentivaram o descontentamento popular que cresceu por numerosos casos de corrupção e permissividade por parte dos funcionários do RU.
Enquanto isso, cerca de 35 mil usuários do Facebook confirmaram que se reunirão no sábado em Moscou para uma manifestação antigovernamental, que poderia ser a maior desde o último século.
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