ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*
Segundo a Angop, 3.512 novas militantes ingressaram hoje, no Huambo, nas fileiras do MPLA, no âmbito de uma campanha especial de crescimento realizada pela sua organização feminina OMA.
É verdade. E se o povo do (meu) Huambo tem de se inscrever no MPLA para ter um saco de fuba, faz bem em filiar-se. Deve, aliás, inscrever também os filhos nascidos e os que pensa vir a ter. O MPLA agradece.
A cerimónia, que marcou este ingresso em massa de novas militantes foi orientada pelo primeiro secretário provincial do MPLA, Fernando Faustino Muteka, e inseriu-se nas comemorações dos 55 anos de existência do partido, que hoje se assinala.
Os novos militantes prometeram honrar e cumprir os compromissos em volta do partido e contribuir para a promoção da democracia (o que, como eles sabem, só se consegue votando no MPLA), bem como conservar a paz e a integridade territorial angolana.
Fernando Faustino Muteka sublinhou que este importante ingresso é resultado de um árduo e amplo trabalho desenvolvido pelo comité provincial da OMA, a nível das suas estruturas de base, com a realização activa de campanhas de mobilização e sensibilização.
Mobilização e sensibilização em que os dirigentes do MPLA levam numa mão a comida e a ficha do partido, e na outra o chicote.
“Podemos constatar que as pessoas estão à nossa inteira disposição, daí devemos trabalhar cada vez mais com objectivo de recrutar-mos mais militantes para o nosso partido de carácter especial para o povo angolano”, disse Muteka.
E tem razão. “As pessoas estão à inteira disposição” do regime e sabem que, se assim não for, só lhes resta fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilares.
Muitos recordam-se de, no dia 24 de Fevereiro de 2002, ter ouvido alguém dizer: “sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!” (morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados).
E assim foi. Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, os soldados e simpatizantes da UNITA, bem como a maioria do Povo angolano, nomeadamente o do Huambo, têm estado deste então a apanhar café, ou algo que o valha.
No rescaldo da guerra imediatamente a seguir à Independência, entre 1976 a 1978, o MPLA reeditou a guerra do Kwata-Kwata, obrigando pela força das armas os contratados ovimbundos e ou bailundos (que outros poderiam ser?) a ir para as roças, sobretudo do norte de Angola.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
«Ise okufa, etombo livala» (prefiro antes a morte, do que a escravatura), dizia Savimbi aos seus homens, militares ou não.
E agora? Agora (e depois de ter sido assassinado por alguns dos seus próprios militares) os seus discípulos mais ilustres preferem a escravatura de barriga cheia do que a liberdade com ela vazia.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu nem vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e Samuel Chiwale.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro. Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
É que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.
E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como dizia o arcebispo da minha cidade (Huambo), D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão. E é esse povo que para sobreviver se inscreve no MPLA.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: DEUS NO CÉU E O MPLA NA TERRA
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