sábado, 14 de janeiro de 2012

Angola: DEFENDER OS NOSSOS VALORES




Filomeno Manaças - Jornal de Angola, em A Palavra ao Diretor - 08 de Janeiro, 2012

1. Os angolanos assinalam hoje o Dia da Cultura Nacional com um olhar retrospectivo sobre o que foi feito nos vários domínios da arte, desde os tempos mais remotos, e é com grande orgulho que constatam que o edifício construído é tremendamente rico e de variadas matizes.

Desde Njinga Mbande a Kimpa Vita, de Mandume ya Ndemufayo a rainha Nyakatolo, vamos encontrar a preocupação em cultivar valores próprios, de que hoje a nossa identidade é herdeira. Os vários povos que constituem hoje a nação angolana deram, cada um a sua maneira, contributos valiosos para que a nossa cultura conhecesse avanços significativos. Nas artes, nos costumes, na gastronomia, na religião e até mesmo no complexo domínio das ciências vamos somando ganhos para tornar cada vez mais forte o país e mais felizes por vivermos livres, independentes, a consolidar a democracia e a construção do Estado.

Em diferentes momentos os nossos músicos, os nossos escritores, os nossos artistas em geral souberam desempenhar o seu papel para que a cultura nacional se projectasse como bandeira das nossas aspirações, dos nossos desejos, e das nossas realizações. Conscientes de que a cultura tem uma forte vocação e força ímpar para marcar os momentos psicológicos cruciais dos grandes acontecimentos políticos e sociais, os artistas e escritores angolanos trataram de, com invulgar mestria, sublimar os valores da nossa tradição, a resistência anti-colonial, as guerras de libertação, o advento da independência nacional, e agora a construção de uma nova realidade, a de uma Angola nova para todos e em paz, que queremos erguida com o resgate dos bons costumes, dos bons princípios morais e éticos. Com efeito, a cultura, enquanto comportamento, não está dissociada da moral e da ética. E ela é tanto mais rica quando, apesar de manifestação local, apesar de vivência particular, não se abstrai dos valores universais, fazendo destes um componente que lhe confere textura refinada e, por conseguinte, carácter mais forte e perenidade.

Hoje é um dia para, de modo particular, enaltecermos os nossos heróis, os monumentos e sítios, a nossa música, a nossa, dança, o teatro, o desporto, e redobrarmos esforços para preservarmos todo o conjunto de bens materiais e imateriais que possuímos e respeitarmos e valorizarmos o grande significado que representam para todos os angolanos e para o país, porque só assim estaremos de facto a contribuir para que haja memória colectiva e as gerações vindouras compreendam a grande tarefa histórica que está a ser levada a cabo.

2. A semana que hoje começa é marcada pela tomada de posição do Executivo, por via do Ministério da Comunicação Social, contra o tipo de jornalismo praticado pelo “Folha 8”. Em boa verdade, e ainda bem que assim é, já lá vai o tempo em que se entendia que fazer “jornalismo independente” era sinónimo de atacar o Governo e as figuras que nele estavam. Nesse tempo, em que se davam os primeiros passos na implantação do pluralismo político e de ideias no país, atacar o Governo, por tudo e por nada, com e sem razão, era, para os cultores desse tipo de jornalismo, sinónimo de “prática de jornalismo credível”. Até o papel de partido da oposição se confundiu com a do exercício da profissão de jornalista.

Mas hoje os estudantes de jornalismo sabem que o princípio do contraditório é uma das pedras angulares da profissão. E sabem também que o exercício do jornalismo não confere direitos absolutos; que há conexão entre os princípios que norteiam o exercício da profissão e normas de direito específicas. Hoje os estudantes de jornalismo sabem que, passe o pleonasmo, o jornalismo não é uma “profissão à toa”. Por isso mesmo sabem destrinçar quando há promiscuidade no exercício da política e do jornalismo que leva à violação de princípios sagrados da profissão. E porque, à semelhança do resgate dos bons valores na cultura e na sociedade também queremos que o nosso jornalismo siga pelo caminho da excelência, faz todo sentido que as más práticas sejam devidamente tratadas.

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