quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CELESTE E EDUARDO PASSARAM À CLANDESTINIDADE




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

"Isto dá que pensar! Eu deixei a política ativa há cerca de 8 anos. Porque será que se continua a achar que, estando fora da política ativa, estou na política. Deve haver um fenómeno qualquer, que eu desconheço e não compreendo, para se continuar a laborar neste erro. Mas enfim...como dizia uma pessoa minha amiga, ser mulher em Portugal ainda é difícil...!" Foi isto que Celeste Cardona escreveu no seu facebook, a propósito das críticas à sua nomeação para a EDP, talvez irritada com o incómodo do senhor que lhe fez companhia, Eduardo Catroga.

Numa entrevista ao "Expresso", Eduardo Catroga foi claro: "Eu nem sou do PSD". Voltou a insistir, numa entrevista à RTP, que era "independente".

Lê-se, numa notícia do Expresso online (http://aeiou.expresso.pt/celeste-cardona-quebra-o-silencio-no-facebook=f699694), que o nome de Maria Celeste Cardona aparece como vogal da Comissão Política Nacional do CDS na página oficial do partido. Das três uma: ou há duas marias celestes cardonas no CDS, ou a girl honorária do partido considera que ser eleita para uma comissão política não é estar na política ativa ou está a mentir. Deixemos de lado a vitimização que só pode dar a volta ao estômago a qualquer verdadeira feminista.

Recordava-se, numa notícia do "Público" recente (http://fotos.sapo.pt/sergiolavos/fotos/?uid=cfztWBW48jP1J375n3JY#grande), que, para comemorar mais um aniversário do PSD, o então líder do partido, Marques Mendes, tinha anunciado a adesão de 33 vários novos e notáveis militantes. Entre eles, Eduardo Catroga. Das três uma: ou o anúncio foi falso e Marques Mendes filiou Catroga à revelia, ou Catroga abandonou, entretanto, o partido, ou está a mentir.

O problema mais grave já nem é a mentira. O mais grave nem chega a ser o insulto aos partidos de que fazem parte e perante os quais, na hora de receber o prémio, demonstram tão grande ingratidão. O mais grave é esta gente achar que a promiscuidade entre empresas privadas e os partidos políticos se resume à existência de um cartão partidário. E que ela se resolve com a sua entrada na clandestinidade. Ou seja, que a indignação perante as suas nomeações resulta de um ódio geral aos partidos políticos e não lhes diz diretamente respeito.

Que fique claro: sou militante de um partido. Levo isso a sério e a ideia de alguma vez o negar parece-me tão absurda, desonesta e sintomática da pouca seriedade com que certas pessoas se envolvem na vida partidária, que tudo isto é incompreensível para a minha cultura política. Sendo militante de um partido, mesmo que sem qualquer responsabilidade de direção (de topo ou intermédia), nunca me passaria pela cabeça dizer que estou fora da vida política ativa. Ainda mais se fosse membro de uma comissão política.

Mas o problema é outro: a rede de influências e o tráfico de lugares (seja no Estado, seja nas empresas privadas) não se resume à existência de um cartão partidário. A razão porque as pessoas continuam a achar que Celeste Cardona está na política não tem nada a ver com a sua atividade partidária. Uma pessoa envolver-se na vida da sua comunidade, através da militância num partido, só pode merecer respeito. É porque Celeste Cardona está ligada ao pior da política: aquela que dá aos que nela se envolvem uma carreira que o seu currículo não justifica.

O problema não é Eduardo Catroga ter o cartão do PSD. É ter, em nome do PSD, negociado com a troika o memorando que assinámos e ter eito o programa eleitoral do partido (as duas coisas comprometem-no muito mais com o PSD do que o simples pagamento de quotas), onde constava a privatização da parte do Estado da EDP e, no fim, lucrar pessoalmente com isso.

O problema, caros Eduardo e Celeste, não é serem ou não militantes ou dirigentes de partidos políticos. É darem tão pouco à política que nem a vossa militância levam a sério. E, no entanto, não se esquecerem de cobrar à política o sucesso das vossas carreiras.

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