quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Portugal: Sócrates terá "negociado" com a Lusa cobertura das eleições de 2009



Expresso - Lusa

Ex-diretor do "Público", José Manuel Fernandes, acusa Sócrates e ex-diretor da Lusa de "contratarem diretamente" cobertura das eleições de 2009.

José Manuel Fernandes, ex-diretor do "Público", afirmou hoje - na Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação - que o executivo socialista de José Sócrates teria negociado diretamente com Luís Miguel Viana a contratação de meios da Agência Lusa para a cobertura noticiosa da campanha das eleições legislativas de 2009, ganhas pelo PS.

O antigo diretor da Lusa, Luís Miguel Viana, diz que esta afirmação é "totalmente falsa" e "caluniosa", pelo que irá processar José Manuel Fernandes por difamação.

"Estratégia de contratação de meios"

José Manuel Fernandes disse ainda que estas negociações eram feitas diretamente com José Sócrates, "e à revelia do ministro da tutela", Augusto Santos Silva.

Muitas coisas desse género se passaram nas empresas públicas na anterior legislatura e, infelizmente, a entidade reguladora (para a Comunicação Social, ERC) encarregou-se de branquear muitas delas", acusou o jornalista.

Em declarações aos jornalistas após o encerramento dos trabalhos, José Manuel Fernandes precisou algumas das declarações anteriores, afirmando que o período a que se tinha referido "tinha a ver com as eleições de 2009, mas foi bastante antes", e que o grupo de trabalho tinha sabido durante o processo de audições que "havia uma relação direta entre o primeiro-ministro (José Sócrates) e o diretor da Lusa (Luís Miguel Viana), que inclusivamente passava por cima do ministro da tutela da altura, que era Augusto Santos Silva".

"Isso traduziu-se numa estratégia de contratação de meios, não sei realmente se jornalistas se não, mas meios no território português e num investimento fora de Portugal", acrescentou.

Instado a precisar se tinha havido contratação de jornalistas para o propósito específico das eleições de 2009, como antes afirmara, José Manuel Fernandes retroquiu: "Não sei quantos jornalistas foram, tinha que ver as notas, não sei se foram jornalistas, se foram correspondentes, se foi abertura de delegações, tinha que ver as minhas notas".

Segundo o ex-diretor do "Público", "houve uma estratégia de investimento em recursos no território nacional, que inclusivamente prejudicou investimentos fora do país". Ou seja, "investimentos em recursos humanos e técnicos para acompanhar e garantir a cobertura noticiosa, designadamente das atividades próximas do governo no período antes das eleições de 2009. Isso foi ouvido nas audições, foi-nos contado por pessoas que foram à comissão. Ouvimos isto", garantiu.

Contratações eram "transparentes"

O antigo diretor da Agência Lusa, por sua vez, salienta que as contratações de meios e de jornalistas foram sempre e apenas negociadas com o presidente da empresa. E acrescenta: "Nunca falei sobre este assunto com o ministro Augusto Santos Silva e muito menos com José Sócrates".

Luís Miguel Viana diz que todas as contratações que fez na Lusa foram "transparentes" e "podem ser escrutinadas" nos orçamentos da empresa.

O antigo diretor da Agência Lusa (que ocupou este lugar entre 2006 e 2011) recorda ainda que "a edição das peças noticiosas sobre a campanha eleitoral para as legislativas de 2009 foi feita por Rui Batista, o então editor de Política da Lusa e gora assessor do atual primeiro ministro, Pedro Passos Coelho". E explica: "Fui eu quem o escolhi para editor de Política".

Luís Miguel Viana diz-se surpreendido com as declarações de José Manuel Fernandes, de quem foi sub diretor no jornal "Público", entre 2000 e 2002, acrescentando: "Penso que ele tem uma fixação em mim, porque quando ainda era diretor desse jornal envolveu-se pessoalmente em artigos noticiosos que procuravam manchar a minha imagem".

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