sábado, 14 de janeiro de 2012

Europa ao fundo: Após rebaixamentos, Merkel cobra pressa para novo fundo de resgate





Líder alemã pede rapidez na criação do fundo permanente de resgate como resposta à redução das notas de nove países da zona do euro pela Standard & Poor's. Decisão de agência de rating é motivo de críticas na Europa.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, cobrou neste sábado (14/01) rapidez no estabelecimento do fundo permanente de resgate, o chamado Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), ao comentar a redução das notas de nove países da zona do euro anunciada na sexta-feira pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P). Ela também ressaltou que a Europa tem um "longo caminho" pela frente para reconquistar a confiança dos investidores.

A Standard & Poor's anunciou na sexta-feira o corte na classificação da maioria dos países da zona do euro, entre os quais a França e Áustria, que perderam a nota máxima, e Portugal, Espanha e Itália, que baixaram dois pontos. "Reduzimos as classificações de Chipre, Itália, Portugal e Espanha, em dois níveis, os de Áustria, França, Malta, Eslováquia e Eslovênia, em um ponto, e mantemos os níveis da Bélgica, Estônia, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo e Holanda", informou um comunicado da agência.

"Creio que agora fica mais claro que necessitamos rapidamente do MEEF, que estará abastecido de capital", disse a chefe de governo alemã, ao discursar diante de correligionários em uma reunião de cúpula de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), na cidade de Kiel. Ela afirmou que o fundo tornará as economias da Europa "independentes de tais classificações", porque os países não precisam recorrer ao mercado para conseguir mais dinheiro.

De acordo com o que foi acertado na última cúpula europeia, o MEEF substituirá a partir de julho o atual Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), que se nutre de capital nos mercados e sofrerá provavelmente as consequências do rebaixamento de classificações.

Merkel sublinhou, ainda, que o rebaixamento reflete apenas a opinião de uma das três grandes agências de rating, e lembrou que a agência Fitch anunciou que manterá neste ano a melhor nota da França.

França avançará com medidas de austeridade

O primeiro-ministro francês, François Fillon, também deixou claro que o rebaixamento deve impelir os países europeus a implementarem rapidamente o pacto destinado a reforçar a disciplina orçamentária. Alemanha e França têm liderado os esforços de resgate de outros países da zona do euro, num momento em que o continente tem enfrentado crise após crise nos últimos dois anos.

Ele disse que seu país vai avançar com as medidas de austeridade após a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) ter rebaixado a nota da França.

Fillon adotou um tom sombrio ao comentar o rebaixamento, que feriu particularmente a autoconfiança francesa e pode prejudicar os esforços contra a crise europeia. A França é um país central para esses esforços, e o rebaixamento pode tornar os esforços franceses para ajudar outras nações ainda mais difíceis, já que pode onerar seus próprios custos ao pedir empréstimos.

Fillon disse que o rebaixamento confirmou a necessidades de seu governo conservador prosseguir nos planos de reformas para reduzir dívidas, apesar das preocupações de que mais medidas de austeridade possam sufocar o crescimento.

Ele assegurou que o governo não iria ajustar o orçamento ainda, afirmando que este foi planejado levando em conta uma suposição de aumento dos custos de empréstimos. A S&P havia alertado 15 nações europeias em dezembro que elas estavam em risco de rebaixamento.

O rebaixamento, que ocorre três meses antes das eleições presidenciais na França, foi "um alerta que não deve ser dramatizado mais do que deve ser subestimado", disse ele. A S&P retirou na França seu cobiçado status AAA, rebaixando a nota do país em um nível para AA+. A Itália caiu ainda mais. Já a Alemanha manteve sua classificação máxima.

Surpresa em Bruxelas, críticas de Chipre e Áustria

O comissário europeu responsável pela regulação dos mercados financeiros, Michel Barnier, disse estar "surpreso" com o momento escolhido pela S&P para descer a notação de vários países, quando a zona do euro está endurecendo as regras orçamentárias. "Quando todos os governos e instituições europeias estão mobilizados para reforçar o controle das contas públicas da União Europeia, me surpreendo com o momento escolhido pela agência Standard & Poor's e com a sua avaliação, que não leva em conta os progressos atuais", comentou.

O ministro das Finanças de Chipre, Kikis Kazamias, chamou de "arbitrária e infundada" a decisão da Standard & Poor's de cortar a nota de seu país em dois níveis, reduzindo a status de lixo. Ele disse no sábado que a agência ignorou as medidas de austeridade tomadas na ilha, assim como a descoberta de significativos depósitos de gás natural em sua costa. Ele afirmou que a medida ilustra uma vez mais como as agências de classificação de crédito exacerbam a crise da Europa.

O chanceler federal da Áustria, Werner Faymann, criticou a decisão da S&P de retirar de seu país a classificação máxima AAA e sublinhou que seu governo de coalizão está trabalhando em um pacote de austeridade. Ele escreveu em sua página no Facebook que "os dados econômicos da Áustria continuam a ser muito bons" e acrescentou que a decisão mostrou "que Áustria deve se tornar mais independente dos mercados financeiros".

MD/lusa/dpa/ap - Revisão: Carlos Albuquerque

*Título alterado por PG

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