Nuno Azinheira – Diário de Notícias, opinião
Bastou, à tarde, o Presidente da República, num desgraçado momento, atrever-se a fazer contas à sua vida em público para o coro de indignação se formar no espaço mediático. Uma hora depois já líderes partidários e comentadores políticos zurziam em Cavaco e na sua reforma.
À noite, o Facebook estava cheio de imagens de Cavaco. Montagens do Presidente da República sentado no passeio a pedir esmola, pedidos de solidariedade coletiva para ajudar o chefe de Estado, ou o supremo magistrado da Nação de mão estendida, numa cruel metáfora de um país que deixou de acreditar em si próprio.
Houve um tempo em que as coisas eram claras: acontecia porque dava na televisão. Hoje, com a massificação da Internet e a proliferação das redes sociais, se acontece está na televisão. É um novo paradigma, porquanto a televisão já não é o centro do mundo. Já não acontece porque está televisão. Acontece por todo o lado e acontece muito na Internet, em registo viral, tipo bola de neve que nasce e cresce no espaço virtual, até rebentar de forma real.
O povo de brandos costumes, uma das imagens de marca de Portugal, manifesta-se agora na Internet - uma espécie de tubo de ensaio para o que se segue.
Acabo de ver na TVI24 uma reportagem que mostra Cavaco a pedir esmola na Internet. Sentado na escadaria do metro, no meio da rua de mão estendida junto aos semáforos, num cartaz de pedido de ajuda. Eis a televisão a legitimar o Facebook e esta nova espiral comunicacional que tomou conta de nós. A Internet é um mundo. Tem tudo. Até receitas de bolo rei. Uma fatia comida no momento certo teria, de novo, feito maravilhas...
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