segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

TENHAM A BONDADE DE AUXILIAR O ANÍBAL




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, Blogues

Há seguramente alguns portugueses que não estão na situação do Presidente da República. Haverá quem não acumule duas reformas. Acredito que até haja quem não receba cerca de mil euros por mês. Apesar dele não saber bem quanto ganha. Provavelmente alguns invejosos não sofreriam muito se tivessem de dispensar o salário de Presidente da República em troca das suas reformas. Alguma gente mal intencionada pensará que, ao comparar-se com os restantes reformados a quem têm sido pedidos sacrifícios, o Presidente denuncia um total alheamento da realidade nacional.

Compreendo estes argumentos mas acho que resultam de um erro de perspetiva. Sou uma pessoa de esquerda, por isso um incorrigível relativista. Sei que não há meninos maus. É o meio que molda os seus comportamentos. Por isso, sei que temos de olhar para o contexto em que vive e viveu, nos últimos anos, Aníbal Cavaco Silva. Sem isso, não compreendemos as suas palavras.

O presidente Cavaco Silva dá-se, como cada um de nós, com os seus amigos. Gente com um percurso de vida semelhante ao seu. É aí que faz a sua socialização. É essa a realidade que ele melhor conhece. E o que vê Aníbal à sua volta? Vê os seus vizinhos e velhos amigos da Quinta da Coelha com dachas maiores que a sua. Vê os seus ex-companheiros de partido saírem de um banco falido melhor do que entraram. Talvez com a exceção de Oliveira e Costa, outro injustiçado. Vê os seus ex-ministros espalhados por empresas privadas e públicas. Todos com salários e rendimentos que fazem dele um reles pelintra.

Será justo que as criaturas vivam melhor que o criador? É aceitável que Eduardo Catroga, Mira Amaral, Ferreira do Amaral, Dias Loureiro, Braga de Macedo e tantos outros vivam como uns nababos e ele ande aos caídos com míseros dez mil euros mensais? Cavaco Silva, que está para os políticos espertalhões como Júlio Isidro esteve para os novos talentos musicais (foi ele que descobriu quase todos), tem ficado para trás. E é agora obrigado a socorrer-se das suas poupanças.

Aqui vai um apelo: vamos auxiliar Aníbal Cavaco Silva. É pegar no que vos sobrou do 13º mês (ou já estouraram tudo?) e entregar-lhe em mão. Vamos fazer dele o mais rico dos cavaquistas. É um objetivo ambicioso, bem sei. Mas se tomarmos isto como um desígnio nacional, iremos conseguir.



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