quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Macau: Classe política quer reforma sem alteração dos métodos eleitorais



PNE – Lusa, com foto

Macau, China, 05 jan (Lusa) - A classe política de Macau reivindica uma reforma que passe apenas pelo aumento do número de deputados e de membros da comissão eleitoral do chefe do Executivo para que "mais interesses" estejam representados, sem alteração dos métodos eleitorais.

Na primeira de oito "palestras sobre o desenvolvimento do sistema político" que o Governo está a organizar este mês e que teve lugar na noite de quarta-feira no Instituto Politécnico de Macau, a classe política local foi praticamente unânime no apoio a mudanças que, na prática, não abrirão caminho ao sufrágio universal.

O deputado eleito por sufrágio indireto Chui Sai Cheong, irmão do líder do Governo, foi um dos 18 participantes a usar da palavra para defender uma reforma face ao "grande desenvolvimento de Macau e da estrutura social baseada na realidade local, sem prejudicar a estabilidade e prosperidade do território".

Ao constatar que a composição do hemiciclo - 12 deputados eleitos pela população, sete nomeados pelo chefe do Executivo e dez escolhidos entre as associações -, vigente desde a década de 70, "assegura os diferentes interesses sociais", Chui Sai Cheong defendeu apenas o "aumento do número de deputados do sufrágio direto e indireto e da dimensão da comissão eleitoral do chefe do Executivo até 400 membros" face aos atuais 300.

Io Hong Meng, delegado de Macau à Assembleia Nacional Popular (ANP), sugeriu o aumento de dois deputados eleitos por sufrágio indireto e direto, respetivamente, "para uma maior representatividade dos diferentes grupos de interesses" e Ieong Wan Cheung, da Associação de Divulgação da Lei Básica, mais dois deputados no sufrágio direto, um no sufrágio indireto e a adição de 100 membros à comissão eleitoral do chefe do Executivo.

Mas houve vozes a reivindicar mudanças mais radicais, como as dos deputados eleitos por sufrágio direto Ng Kuok Cheong e Paul Chan Wai Chi, que defenderam a eleição pela população de mais três deputados, a redução de três no sufrágio indireto e de até outros três na bancada dos nomeados. Os mesmos apelaram ainda ao sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo, de modo a que este "seja representante da população e não de interesses".

Também o deputado Pereira Coutinho salientou a necessidade de criação de mais quatro lugares no hemiciclo por via do sufrágio direto, a redução de quatro deputados nomeados e o aumento para 600 do número de membros da comissão eleitoral do líder do Governo, bem como de se avançar com um "calendário para o sufrágio universal".

Lionel Leong, membro do Conselho Executivo e delegado à ANP, afirmou que o "sistema político no caminho da democracia não está errado", alertando, porém, que a "importação de modelos de outros países e regiões prejudicará o desenvolvimento" do território.

Já no final da palestra, Tsui Wai Kwan, deputado nomeado pelo Executivo, confessou "não entender a necessidade" de uma reforma política, salientando que a "população local quer é que a sua qualidade de vida seja melhorada".

"Um voto por pessoa é bom?", questionou, considerando que Macau "deverá traçar o seu próprio caminho, de sistema capitalista com características locais, não seguir as ondas do mundo e otimizar o sistema político de modo a garantir a estabilidade política a longo prazo".

O Governo de Macau vai recolher opiniões da sociedade até ao final do mês para apresentar em fevereiro um relatório a Pequim de modo a que uma proposta de reforma política seja submetida em março a consulta pública, tendo em vista a sua adoção nas eleições do hemiciclo em 2013 e escolha do chefe do Executivo em 2014.

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