sábado, 14 de janeiro de 2012

PANDAS




Manuel. M - Bloguer Convidado de Aventar

Em 1998 após um referendo, e pela primeira vez desde o inicio do Sec. XVIII, a Escócia voltou a ter um Parlamento. Foram logo estabelecidas as regras para as futuras eleições de maneira a impedir que qualquer partido obtivesse uma maioria absoluta, pensando sobretudo no Scottish National Party (SNP) que, para os defensores da União, vinha aumentando de popularidade de forma preocupante.

Porém em Maio de 2011, e sob a liderança de Alex Salmond, para muitos o mais brilhante, sagaz e astuto politico do ainda Reino Unido, o SNP obteve uma retumbante vitória e a tal julgada impossível maioria. E fê-lo prometendo ao eleitorado referendar a independência da Escócia, quase certamente em Junho de 2014. A escolha da data é tudo menos inocente, pois será nessa altura que se comemoram os 700 anos da famosa batalha de Bannockburn e a vitória do pequeno exército Escocês, comandado por Robert the Bruce, Rei da Escócia, sobre uma muito mais poderosa força Inglesa.

É verdade que o First-Minister Salmond propunha que nesse futuro referendo constassem além do Sim ou Não à independência, uma terceira alternativa que seria algo de intermédio, uma “devolução máxima” dos poderes do Parlamento de Westminster ao Parlamento de Holyrood; tudo suficientemente vago que permitisse negociar e negociando manter a integridade do Reino Unido.

É bom que se esclareça que se em 2011 o SNP obteve uma esmagadora vitória, o Partido Conservador arrecadou uma acabrunhante derrota, não tendo conseguido eleger um único deputado pela Escócia.

Estavam as coisas neste pé quando há dias David Cameron, certamente influenciado pelo filme “Iron Lady”, resolveu dar uma “a la Thatcher“ e largou a “bomba” numa entrevista à Sky News: O referendo na Escócia teria de se realizar impreterivelmente até ao final de 2013 e apenas poderia conter duas perguntas: o Sim ou o Não.

Adivinham certamente a resposta que veio do Norte: Curta e grossa. A Cameron foi sucintamente dito para não se meter onde não era chamado. Eu que sempre o achei um jovem irreflectido e petulante nunca esperei contudo este atirar de gasolina para a fogueira e sou dos que se recusam a acreditar que a razão desta atitude está num mero cálculo eleitoral: Tendo o Partido Conservador sido apagado eleitoralmente da Escócia e com esta independente , os deputados por ela eleitos deixariam obviamente de ter assento em Westminster, garantindo-lhes assim uma maioria ad aeternum.

Seja como for, é fácil calcular o pandemónio que tudo isto causou, com toda a gente a discutir em como dividir o que desde há séculos está unido, desde as Fronteiras à Defesa, aos impostos, à representação externa, para não falar no problema constitucional de intratável complexidade.

Mas parecia que, com mais ou menos dificuldade, inevitavelmente o Reino Unido deixaria de existir tal como o conhecemos, até que um formidável obstáculo, um monumental escolho, inesperadamente surgiu capaz de impedir o fim que se avizinhava: Refiro-me a Tian-Tian e a Yang-Guang , os dois Pandas oferecidos pela República Popular da China , presentemente num Zoo de Glasgow .

Nos corredores de Westminster onde o assunto é discutido, a opinião é unânime: ”Eles foram uma oferta do Estado Chinês ao Governo Britânico e portanto terão de ser devolvidos a Inglaterra!”. Os Escoceses porém respondem: ”Os Pandas vieram para a Escócia devido a um acordo entre a China Wildlife Conservation Association e a Royal Zoological Society of Scotland, e portanto são nossos e daqui não saem!”.

Felizmente parece que o acordo é impossível e sem ele o Reino Unido continuará unido e eu acho que pela melhor das razões: Terem sido os dois simpáticos pandas a devolver alguma sanidade a um Povo conhecido pelo seu amor aos animais. Se isto não é uma Justiça poética, então não sei o que será.

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