Liliana Valente - ionline
Notícias dos últimos dias não causaram apreensão junto da maioria. Passos pede silêncio sobre relação com Presidente
Nas vésperas de mais um Conselho Europeu, Passos Coelho foi surpreendido por mais um aviso saído de Belém. As notícias dos últimos dias que dão conta de uma discórdia do Presidente da República em relação à estratégia seguida por São Bento – e pelos líderes europeus com quem o primeiro-ministro reúne hoje – não caíram bem na maioria PSD/CDS. O i sabe que o governo encarou com surpresa e apreensão o conjunto de notícias citando Belém dos últimos dias e, num momento de crise, fonte da maioria parlamentar diz ao i que é preciso um “envolvimento leal” do Presidente.
A discórdia pública entre Cavaco Silva e Passos Coelho sobre o caminho a seguir para tirar o país da crise não é de hoje. Mas perante as últimas notícias, a ordem em São Bento é de silêncio. Fonte da maioria contou ao i que o primeiro-ministro deu indicações dentro do executivo para que ninguém comente as notícias, tanto do “Expresso”, que dizia que o Presidente discorda do “Estado mínimo” depois das reformas estruturais que o governo quer levar a cabo, como do “Público” que ontem garantia que no núcleo cavaquista já se fala da necessidade de afastar Vítor Gaspar do Ministério das Finanças. A mesma fonte da maioria acrescenta no entanto que com a troika em Portugal, o governo precisa do envolvimento leal do Presidente para recuperar a soberania.
Do governo não houve resposta até agora. O primeiro-ministro não teve ontem agenda pública, colocou apenas um vídeo no site do governo sobre a iniciativa “O meu movimento”. No vídeo Passos diz que perante as transformações em curso “é importante” “alargar e aprofundar o debate democrático e isso não se faz sem a participação de todos os cidadãos”.
A guerra entre Passos e Cavaco foi no entanto criticada pelo líder socialista. António José Seguro disse que “este não é o momento para termos desavenças entre os principais órgãos de soberania” e acrescentou que “numa altura em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, estes são momentos de concentrarmos todos os esforços e todas as nossas energias para conseguirmos resolver a crise que nos defrontamos”.
As notícias sobre as ideias do Presidente surgem uma semana depois de Cavaco Silva ter passado por um dos momentos mais duros destes segundo mandato, quando disse que o que ganhava de reformas “não dava” para as despesas, e nas vésperas do Conselho Europeu. Aliás, as críticas do Presidente ao caminho de austeridade seguido em Portugal começa exactamente na dimensão europeia. Em Outubro do ano passado, Cavaco, em Florença, dizia que o caminho seguido pelos líderes europeus nos últimos anos tinha falhado e deixava na receita a ideia de que o caminho para sair da crise tem de incluir “obrigatoriamente uma agenda voltada para a promoção do crescimento e a criação de emprego” e não só de austeridade. Uma ideia que viria a retomar dias depois, já com o Orçamento do Estado para 2012 entregue na Assembleia da República. No discurso no Congresso da Ordem dos Economistas – que viria a mostrar publicamente a ruptura no pensamento entre o Presidente e o governo – Cavaco lembrou que “a austeridade orçamental, só por si, não garante que, no futuro, o país se encontrará numa trajectória de crescimento económico e melhoria das condições de vida” defendendo que era normal a “interrogação sobre se os sacrifícios que estão a ser exigidos aos portugueses valem a pena e se nos conduzem a bom porto”. Mas isto depois de dizer que “o caminho que melhor garante a defesa do superior interesse nacional é o do cumprimento dos compromissos” independentemente “da dureza e das exigentes condições que nos foram impostas”.
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