Martinho Júnior, Luanda
“La revolución más que uma idea, es un sentimento. Mas que un concepto es una pasión”...
"Fazer política é passar dos sonhos às coisas, do abstracto ao concreto”...
“A política é o trabalho efectivo do pensamento social: a política é a vida" - José Carlos Mariátegui – citações.
A resistência dos povos indígenas da América é um acto de refinação cultural que foi ocorrendo ao longo de séculos, em que o homem integral, individual e/ou colectivamente, responde hoje por inteiro com capacidade auto-crítica e crítica, ao beco sem saída onde se esvai a civilização burguesa ocidental e à lógica capitalista que a anima, reportando-se aos parâmetros sócio-culturais do passado ameríndio.
Desde os primeiros passos dos europeus no continente que essa resistência se foi assumindo e, a partir da primeira metade do século XX, a partir do pensamento de José Carlos Marriátegui, passou a integrar as ideologias progressistas das Américas, o que está na base aliás do amplo renascimento latino americano em curso, estimulado pelas revoluções cubana, nicaraguense e pelos zapatistas no México.
Ao longo dos mais de 500 anos da história da América que a resistência dos povos indígenas nunca deixou de existir, inspirando de alguma maneira os seus inúmeros heróis e mártires.
Essa resistência assumiu conteúdos multifacetados, que tiveram geometria variável ao longo dos tempos, mas o século XX correspondeu sem dúvida a um período em que se iniciou a sua moderna fermentação, à medida que o império surgia com toda a sua veemência com o arsenal de práticas de opressão.
No cerne da resistência, as culturas ameríndias serviram sempre de referência essencial e por isso os povos indígenas foram sobrevivendo a todas as hecatombes e impactos de toda a ordem, até a esquerda moderna o redescobrir, propiciando o renascimento que se levanta também como alternativa ao capitalismo e ao neo liberalismo por toda a América Latina, a segunda independência 200 anos depois do hastear das bandeiras.
As respostas ao capitalismo neo liberal estão hoje disseminadas na América Latina e dinamizam as respostas políticas e sociais num movimento que apesar de não ser completamente homogéneo, constitui-se em vanguardas múltiplas dos povos, vanguardas prontas para uma luta que vai ser longa, mas que se tornou inadiável.
No México o Exército Zapatista de Libertação Nacional é o expoente da tradição indígena e da revolução, dando sequência no sul à acção concentrada historicamente à volta da figura proeminente que foi Emiliano Zapata, na sua saga de enfrentar os ricos fazendeiros que espoliavam as terras dos autóctones em finais do século XIX e princípios do século XX.
O EZLN mergulha na evocação histórica e na cultura sucedânea dos Maias, que há milhares de anos haviam implantado sua civilização na selva Lacandone.
Há 200 anos o México viveu a sua luta pela independência, que se viria a consumar em 1821, quando a coroa espanhola reconheceu a independência (Tratado de Córdoba e Plano de Iguala).
Há 100 anos, Emiliano Zapata levava a cabo a Revolução que se estendeu a partir do sul, coligando-se a várias forças, entre elas as que se haviam colocado sob comando de Francisco Villa (Pancho Villa).
“Terra e liberdade”, era o lema de Zapata que teve nos espoliados indígenas e na massa trabalhadora rural sua maior capacidade de mobilização.
A 1 de Janeiro de 1994 o México assinou o Tratado Norte Americano de Livre Comércio (NAFTA) e no mesmo dia o Exército Zapatista de Libertação Nacional iniciou a nova rebelião no estado de Chiapas, uma rebelião que continua activa ao se assumir como fórmula de luta contra o neoliberalismo e a globalização, nos termos que são impostos pelo império.
A rebelião tem definido novos parâmetros de organização e tem merecido a atenção do mundo: “Para todos todo, para nosotros nada”, mandar, obedecendo, é um dos princípios elementares que tem sido seguido à risca, intimamente associado à democracia directa e à identidade social.
O Sub Comandante Marcos é um dos ideólogos da revolução dos despojados de Chiapas:
“La patria que construimos es una donde quepan todos los pueblos y sus lenguas”.
“No hay lugar para nosotros en el mundo del poder, el mundo que queremos es uno donde quepan muchos mundos”.
O EZLN assume-se em consonância com a rica história do México (“28 anos de congruência e luta ética” – http://www.proyectoambulante.org/?p=10359):
“Somos producto de 500 años de luchas: primero contra la esclavitud, en la guerra de Independencia contra España encabezada por los insurgentes, después por evitar ser absorbidos por el expansionismo norteamericano, luego por promulgar nuestra Constitución y expulsar al imperio francés de nuestro suelo, después la dictadura porfirista nos negó la aplicación justa de leyes de Reforma y el pueblo se rebeló formando sus propios líderes, surgieron Villa y Zapata, hombres pobres como nosotros a los que se nos ha negado la preparación más elemental para así poder utilizarnos como carne de cañón y saquear las riquezas de nuestra patria sin importarles que estemos muriendo de hambre y enfermedades curables, sin importarles que no tengamos nada, absolutamente nada, ni un techo digno, ni tierra, ni trabajo, ni salud, ni alimentación, ni educación, sin tener derecho a elegir libre y democráticamente a nuestras autoridades, sin independencia de los extranjeros, sin paz ni justicia para nosotros y nuestros hijos”.
O EZNL assume-se também como apostado na luta contra o neo liberalismo, tendo organizado em 1996 o “Primeiro Encontro Intercontinental pela Humanidade e contra o Neo Liberalismo”, ao qual estiveram presentes representantes de 40 países.
Nas comemorações do 28º aniversário do início da sua luta, o EZNL produziu a “6ª Declaração da Selva Lacandona”, da qual evidenciamos o seguinte:
“I.- DE LO QUE SOMOS.
Nosotros somos los zapatistas del EZLN, aunque también nos dicen neo zapatistas.
Bueno, pues nosotros los zapatistas del EZLN nos levantamos en armas en enero de 1994 porque vimos que ya está bueno de tantas maldades que hacen los poderosos, que sólo nos humillan, nos roban, nos encarcelan y nos matan, y nada que nadie dice ni hace nada.
Por eso nosotros dijimos que “¡Ya Basta!”, o sea que ya no vamos a permitir que nos hacen menos y nos traten peor que como animales.
Y entonces, también dijimos que queremos la democracia, la libertad y la justicia para todos los mexicanos, aunque más bien nos concentramos en los pueblos indios.
Porque resulta que nosotros del EZLN somos casi todos puros indígenas de acá de Chiapas, pero no queremos luchar sólo por su bien de nosotros o sólo por el bien de los indígenas de Chiapas, o sólo por los pueblos indios de México, sino que queremos luchar junto con todos los que son gente humilde y simple como nosotros y que tienen gran necesidad y que sufren la explotación y los robos de los ricos y sus malos gobiernos aquí en nuestro México y en otros países del mundo”.
Entre 30 de Dezembro de 2011 e à data em que escrevo, 2 de Janeiro de 2012, o EZLN organiza o IIº Seminário Internacional de Reflexão, sob o lema “Planeta Terra: movimentos anti sistémicos”, com a adesão e a presença de organizações internacionais, entre elas a “Occupy Wall Street” (http://www.segundoseminarioint.ya.st/).
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos é também um dos presentes.
O EZLN foi das primeiras organizações que se declararam na luta contra o neoliberalismo seguindo uma linha anti imperialista e hoje, apesar dos esforços de ingerência daqueles que procuram a todo o transe defender a democracia representativa para que os povos não ganhem nem cidadania, nem participação, o EZLN está em posição, graças ao respeito pela história dos povos indígenas do sul do México e às ligações que internacionalmente foi cultivando, de poder separar o que é autêntico por que identificável com os povos, do que é ingerência por que responde às conveniências e aos interesses do império!
Até ao momento tem mantido a sua afirmação pelos povos e com os povos, denunciando toda a opressão que tem caído sobre os seguidores de Zapata, mas torna-se cada vez mais imprescindível que assuma também a luta contra as ingerências, quando elas se vão tornando mais palpáveis e sensíveis conforme aos acontecimentos e os exemplos, sobretudo aos que se reportam por todo o Médio Oriente.
Para falsa, basta o que os poderes do império estão a fazer com a democracia representativa!
No Manifesto por uma Democracia Global, de 15 de Outubro de 2011, o EZLN sintetiza, sem se referir às capacidades de ingerência dos serviços de inteligência ao serviço do império, que tanta influência têm aliás sobre o actual poder no México:
“Hoy, más que nunca, las fuerzas globales modelan la vida de los pueblos.
Nuestros trabajos, salud, vivienda, educación y pensiones son controladas por bancos, mercados, paraísos fiscales, corporaciones y crisis financieras.
Nuestro entorno es destruido por la polución en otros continentes.
Nuestra seguridad está determinada por guerras internacional y el comercio internacional de armas, drogas y recursos naturales.
Estamos perdiendo el control sobre nuestras vidas.
Esto debe parar.
Esto parará.
Los ciudadanos del mundo deben de tomar el control sobre las decisiones que les afectan a todos los niveles, desde lo global a lo local.
Esto es la democracia global.
Esto es lo que pedimos hoy.
Como los zapatistas mexicanos, decimos “¡Ya basta.
Aquí el pueblo manda y el gobierno obedece!”.
Como las plazas tomadas en España decimos “¡Democracia Real Ya!”.
Hoy llamamos a los ciudadanos del mundo:
¡Globalicemos la Plaza de Tahrir! ¡
Globalizemos la Puerta del Sol!”
Foto: Mulheres zapatistas de Chiapas, sul do México.
2 comentários:
REVISTA REBELDIA - http://revistarebeldia.org/
Ao povo colombiano
por FARC-EP
Em decorrência do ano novo, nós das FARC-EP queremos convidar o povo colombiano a um momento de reflexão sobre o futuro de nossa pátria. Nada nos importa mais que a sorte de nossos filhos e o bem-estar das novas gerações. Coincidentemente, as coisas no país em nada se assemelham às festas de fim de ano. Os reis magos não vêm saudar a boa ventura carregados de tesouros. No entanto, chegam avarentos e levam consigo toda a riqueza encontrada pelo caminho.
Além disso, são escoltados por gigantescos aparatos militares de repressão e de esmagamento. São defendidos por uma casta política antipatriótica, corrupta e entreguista que só pensa em seu bolso. Apresentam-se cheios de soberba porque contam a seu favor com o poderoso aparato midiático de propaganda e publicidade, que representam os monopólios informativos com seus jornalistas e articulistas assalariados.
...
http://resistir.info/colombia/mensagem_31dez11.html
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