Ana Isabel Castanho – Diário de Notícias, com foto
Dezenas de cidadãos, indignados com as declarações de Cavaco Silva sobre a sua reforma, reuniram-se, ontem, em frente à Presidência da República, respondendo assim ao apelo feito nos blogues Arrastão e Jugular e no Facebook.
A "flash mob", cujo objectivo era a recolha de "moedinhas para o Presidente", juntou cidadãos de uma faixa etária mais elevada, sobretudo reformados e pensionistas, facto que causou algum espanto a Ana Matos Pires, do blogue "Jugular", uma das plataformas que divulgou o evento. "Estou espantada mas percebo quem [desta faixa etária] se tenha sentido ofendido", afirmou. O espanto também se fez sentir em relação ao forte dispositivo policial que se encontrava no local. Três carrinhas do corpo de intervenção, vários carros e um cordão humano de duas dezenas de polícias impediram que, durante o decorrer da iniciativa, os cidadãos de aproximassem da entrada da Presidência.
Meia-hora após o início do "flash mob", foi estendido um pano preto no chão onde as pessoas depositaram algumas moedas e mercearias - cereais, carcaças, pacotes de massa e arroz - e também alguns produtos mais originais: pacotes de canela e açúcar em pó e cigarros. "Trouxe um pacote de arroz para o senhor Presidente", disse João Paulo Oliveira, um dos cidadãos ali presentes. "Os portugueses são um povo solidário. Eu ainda ganho menos mas vim aqui ajudar. O Presidente não pode passar fome", rematou. Enquanto as pessoas cumpriam o propósito de "ajudar Cavaco Silva", podiam-se ouvir várias palavras de ordem: "Cavaco, eu quero a tua pensão, eu não tenho um tostão" e "os Silvas estão a passar por necessidades, dêem uma moedinha" foram os que mais adesão tiveram.
Por volta das 18:30, o pano foi recolhido por duas pessoas, uma delas o jornalista Paulo Querido, com o objectivo de o entregar ao chefe de Estado, tentativa que se revelou frustrada, uma vez que o pano não passou da entrada do Palácio de Belém. "A esmola fica à porta", gritaram os manifestantes quando se aperceberam da situação.
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