quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

AVÉ NEVES!



Liberal (cv), editorial

Justificar a violência de hoje com uma suposta "irreversibilidade histórica", seria o mesmo que o Primeiro-ministro italiano justificar a insegurança e violência urbana em Roma com o argumento histórico do Coliseu do império de César, onde se atiravam literalmente seres humanos às feras

Já uma vez o havíamos sugerido, mas voltamos ao assunto por razão das últimas declarações do Primeiro-ministro, desta feita sobre o crescendo de violência urbana a que vimos assistindo, desde logo na capital do país. É que José Maria Neves alimenta cada vez mais as suspeições sobre a sua sanidade mental e aumenta o constrangimento, inclusive, de proeminentes figuras do seu partido que admitem a possibilidade de a chefia do governo estar nas mãos de alguém perturbado psiquicamente.

Os sinais são preocupantes. A tendência galopante para o disparate, e vertigem incontrolada e incontrolável para o improviso, a obsessão doentia de marcação serrada à agenda do Presidente da República, o exponencial de contradições, de diz agora e nega depois que caracterizam o comportamento de José Maria Neves…

O último disparate, ao defender que “a sociedade cabo-verdiana sempre foi violenta”, dando exemplos avulsos de sustentação da tese em função da sua limitada e mal resolvida vivência de infância, lá para Pedra Barro e em Santa Catarina de Santiago, logo depois sedimentada com o suposto “argumento científico” da “origem escravocrata” da nossa sociedade, vem reforçar suspeições e constrangimentos, fazendo acreditar que JMN já habita irremediavelmente no espaço virtual que construiu através da sua página no Facebook [e de onde já se permite, até, abordar assuntos de Estado].

Comparar a violência que tomou as nossas cidades com brigas de feira, facadas em bailes e parvoíces próprias de crianças em idade púbere e adolescente com a criminalidade violenta, atentados à segurança de bens e pessoas e homicídios por razões fúteis, é uma desonestidade, uma manifestação de insanidade e um insulto à inteligência dos cabo-verdianos.

Procurar repescar origens escravocratas para justificar a violência urbana é, para além de uma manifestação de ignorância, passar a nós todos um certificado de estupidez. Porque, a fazer fé nessa tese, o essencial das sociedades em todo o mundo – também de origem escravocrata – seriam, de igual modo – e historicamente –, violentas.

Justificar a violência de hoje com uma suposta "irreversibilidade histórica", seria o mesmo que o Primeiro-ministro italiano justificar a insegurança e violência urbana em Roma com o argumento histórico do Coliseu do império de César, onde se atiravam literalmente seres humanos às feras. E, por outro lado, é dar legitimidade “científica” aos bandos de marginais que, por inépcia - se não mesmo por cumplicidade - do governo tomaram conta das ruas das nossas cidades.

O crescendo de insanidade revelado pelo Primeiro-ministro, com antecedentes que seria enfadonho enumerar, mas que a título de exemplo nos apraz destacar, como aquela vez em que – talvez acometido de um rasgo de exaltação patriótica destravada – defendeu publicamente [no que se transformou em alvo de chacota] que Cabo Verde teria os melhores alunos do mundo, mais bem formados do que os dos EUA, quando toda a gente sabe das fragilidades do nosso sistema de ensino, dá para perceber que vindo de José Maria Neves já nada é confiável ou para ter em conta.

O Primeiro-ministro que agora bolçou esta atoarda é precisamente o mesmo que não muito atrás enaltecia a morabeza cabo-verdiana e que, em 20 de Janeiro último, declarava a um jornal da nossa praça que “somos um país de paz”, precisamente o mesmo país que, agora, regista ser historicamente uma sociedade violenta, por razão da sua origem escravocrata…

Ao refugiar-se numa suposta especialização histórica – que não tem – e ao dizer que a insegurança e a violência são responsabilidade de todos, o Primeiro-ministro procura sacudir a água do capote e desresponsabilizar o governo pelo caos em que se transformaram as nossas cidades. E revela, claramente, que José Maria Neves e o seu bando de assaltantes do aparelho de Estado e dos dinheiros públicos não têm nenhuma ideia de como se resolve o problema, por mais aviões, helicópteros e barcos que queiram comprar.

E, mais ainda, a ser verdade o historial – segundo o PM, provavelmente genético – de violência dos cabo-verdianos, há muito que estariam pendurados nos postes os delinquentes que tomaram conta das nossas ruas e corrido do governo o bando de assaltantes. Pelo contrário, a não-violência dos cabo-verdianos e o seu exagerado apego aos brandos costumes, é que permitem que um aldrabão encartado venha prometendo mais e melhores água e luz, mais empregos, 13º mês, salário mínimo e outras miragens, perante a pacatez colectiva e sem um sinal que seja de rebelião.

Como os gladiadores de Roma, enviados por César à carnificina da arena do Coliseu, parece que às vítimas indefesas da matança apenas resta, antes de mergulharem diariamente na insegurança da urbe, clamar ululantes ao chefe e senhor de todas as ilhas: "Have imperator, morituri te salutant!". Ave Neves, nosso querido líder…

Leia mais sobre Cabo Verde – use os símbolos da barra lateral para se ligar aos países lusófonos pretendidos

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