domingo, 19 de fevereiro de 2012

CAVACO EVITA SAIR À RUA DESDE POLÉMICA DAS REFORMAS



Luís Claro – ionline

Presidente criticado por andar em “salas fechadas e longe do povo”. Cavaco tem optado por uma agenda recatada nos últimos tempos

Cavaco Silva evitou ontem o contacto com a comunicação social, um dia depois de ter cancelado a visita à Escola António Arroio, em Lisboa, onde o esperava um protesto dos alunos. No arranque dos Roteiro do Futuro, que teve uma primeira conferência dedicada à natalidade, o Presidente da República preferiu não dar nenhuma explicação sobre “o impedimento” que o fez cancelar a visita. Entretanto, a ida de Cavaco Silva à Escola António Arroio deixou de constar do histórico da agenda do chefe de Estado no site oficial da Presidência da República.

Desde que disse que a reforma não lhe chega para as despesas – uma declaração criticada por todos os quadrantes políticos e mesmo por alguns cavaquistas –, o Presidente tem optado por cumprir uma agenda mais recatada e a iniciativa Roteiro do Futuro não deverá ser excepção, já que, ao contrário dos roteiros realizados no primeiro mandato, não inclui contacto com a população, nem expõe o chefe de Estado às perguntas dos jornalistas.

Aliás, desde a cerimónia de abertura de Guimarães Capital da Cultura – um dia depois das declarações polémicas, e onde foi vaiado – que Cavaco evita o contacto com a população. Esteve na abertura do ano judicial, na inauguração da sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde fez intervenções e fez uma viagem à Finlândia.

A estratégia do Presidente não passou ao lado de alguns responsáveis políticos e José Junqueiro, vice-presidente da bancada do PS, comentava ontem, no seu blogue, que “o Presidente foge das responsabilidades como foge dos miúdos”. Junqueiro criticou ainda o novo modelo de presidências abertas “em salas fechadas e longe do povo”.

Mesmo dentro da maioria, os vários episódios que têm assombrado Belém nas últimas semanas são vistos com surpresa e preocupação. Anteontem, o líder da JSD, Duarte Marques, pediu “justificações” a Cavaco sobre o adiamento da visita à António Arroio, mas Belém não disse nem mais uma palavra.

Entretanto, o Presidente da República defendeu ontem, na sua intervenção no Palácio da Cidadela, em Cascais, que “importa olhar o futuro para além do calendário do Programa de Ajustamento e construir uma visão de mais longo prazo”. “Uma visão que vá para além dos ciclos políticos e partidários. Uma visão que nos mobilize e nos una no fundamental”, acrescentou.

A Presidência da República reuniu naquele espaço – a residência de Verão do chefe de Estado – especialistas nacionais e estrangeiros nesta para falar de natalidade. Na intervenção inicial, Cavaco defendeu ainda que a fraca natalidade conduz a outros problemas como “a desertificação humana de vastas zonas do território, o declínio do nosso potencial produtivo, a continuidade do chamado Estado Social” e “a degradação do principio da solidariedade entre gerações”.

No encerramento da conferência, o Presidente voltou a discursar e considerou que “o declínio da fecundidade não é uma inevitabilidade”, embora reconheça que “muito provavelmente teremos de nos habituar a níveis que não correspondem à reposição das gerações”.

O sociólogo António Barreto desdramatizou os problemas à volta da natalidade e – para além de pensar que “não ter filhos não é um problema” – constatou que “é verdade que se nasce muito menos em Portugal mas nasce-se muito melhor”.

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