terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cavaco Silva na final da Taça de Portugal apesar de não ganhar para as despesas...




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, convidou hoje o presidente da República, Cavaco Silva, a assistir à final da Taça de Portugal e estar presente na fase final do Euro2012.

Consta que o evento vai ser aproveitado para se fazer um peditório, com rifas e tudo, para ajudar Cavaco Silva a amealhar uns cobres para as suas despesas.

"Convidámos o senhor presidente a estar presente na final da Taça e a estar presente na Ucrânia com a selecção portuguesa", disse Fernando Gomes, no final de um encontro com Cavaco Silva, no Palácio de Belém.

O líder federativo assegurou "ter havido grande receptividade do presidente da República em, dentro dos limites da sua agenda, tudo fazer para poder aceitar os convites".

Neste encontro com Fernando Gomes, Cavaco Silva evitou falar sobre a sua reforma que, como ele diz, mal chega para pagar as despesas. Foi pena. Mas, apesar disso, continua a ser relevante recordar-lhe coisas importantes.

Por exemplo, que ele em termos vitalícios tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro, ou, ainda, que no seu curriculum consta que foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, que venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011.

É claro que um dia destes os portugueses o vão ouvir dizer que a dívida externa existe, mas que ele nada tem a ver com o assunto. Como todos sabem, até mesmo ele, as sucessivas políticas de desmantelamento do aparelho produtivo, na indústria, na agricultura e nas pescas; as negociatas com as parcerias público-privadas; os negócios como o BPN, as derrapagens orçamentais em obras públicas; a fraude, a evasão fiscal, a corrupção etc. são culpa exclusiva dos trabalhadores.

Em vez de taxar a Banca e a Finança, os bens de luxo e as empresas e negócios offshore, o Governo agrava os impostos – o IRS, as taxas moderadoras e o IVA –, penalizando os que menos ganham e a própria classe média. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

O Governo rouba (toma posse) de parte dos subsídios de Natal dos trabalhadores e pensionistas. Já cortou nos salários dos trabalhadores da Função Pública e do Sector Empresarial do Estado em 2011 e vai cortar nos subsídios de férias e Natal de 2012 e de 2013 a todos os pensionistas e aos trabalhadores do sector público empresarial e à função pública. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Os trabalhadores já pagam uma factura pesada: em 3,8 milhões de empregados por conta de outrem, 2,3 milhões ganham menos de 900 euros por mês; o salário mínimo é o mais baixo da Zona Euro; trabalham mais horas do que os trabalhadores na União Europeia a 15 países; a precariedade atinge mais de um milhão de trabalhadores. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Apesar da enorme desregulação que campeia nas empresas, o Governo agrava-a através de um banco de horas, fulminando o direito ao descanso e entregando às empresas a gestão do tempo de trabalho e prejudicando a vida familiar. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Com um desemprego galopante e cada vez mais prolongado, o Governo desprotege ainda mais os trabalhadores, fazendo aprovar leis que tornam os despedimentos ainda mais fáceis e mais baratos e reduzindo o valor e a duração dos subsídios de desemprego. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

As alterações ao Código do Trabalho já concretizadas e outras anunciadas já estão a permitir intensificar a exploração dos trabalhadores, aumentando a precariedade e agravando as condições de trabalho e de vida, ao mesmo tempo que servem já de chantagem para forçar inúmeros trabalhadores a aceitar rescisões ditas “amigáveis”. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Com a situação social a agravar-se, o Governo piora as condições dos idosos, cortando 1.880 milhões de euros no Orçamento de Estado para as pensões e reformas; e corta mais de dois mil milhões de euros para prestações sociais como pensões mínimas do regime geral, subsídio social de desemprego e abono de família, que será eliminado para muitas famílias. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Com medidas de austeridade socialmente gravosas e diminuindo drasticamente o poder de compra dos salários, das pensões e de outras prestações sociais, a retracção e a recessão afundarão ainda mais a economia, empobrecendo os portugueses e empurrando o país para o desastre. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

Com a obsessiva cruzada pela “ideologia do Estado mínimo”, como bem a caracterizou a organização Comissão Justiça e Paz, o Governo impõe cortes brutais nas funções sociais do Estado, nas áreas da Saúde e da Educação, quer privatizar ainda mais empresas e sectores estratégicos, dos transportes à comunicação social, das águas à energia. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

É necessário – é urgente – combater as injustiças, a exploração e o empobrecimento dos trabalhadores e do país; dinamizar a produção nacional na agricultura, nas pescas e na indústria; promover o crescimento económico e distribuir a riqueza de forma mais justa e sustentada, criando mais e melhor emprego, combatendo o desemprego e a precariedade; defender a negociação colectiva, aumentar os salários e as pensões. E então não é isso que Cavaco tem feito?

É também urgente barrar a agiotagem da Banca, renegociar a dívida com condições justas quanto aos montantes, juros e prazos, no respeito pela soberania nacional, no interesse do povo e pelas gerações futuras. É por isso que Cavaco se queixa da sua parca reforma…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Mais de 80% dos luxuosos condomínios privados de Luanda estão sem clientes

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