A importante revista inglesa The Economist anunciou em suas manchetes, há algum tempo, que a leitura no Brasil é uma vergonha. Para a revista, a situação das bibliotecas públicas e o baixo índice de leitura dos brasileiros constituem “motivo para vergonha nacional”, juntamente com o crime e com as taxas de juros.
“Muitos brasileiros não sabem ler. Em 2000, um quarto da população com 15 anos ou mais eram analfabetos funcionais. (…) Apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livros não-acadêmicos por ano – menos da metade do que se lê nos EUA ou na Europa. Em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura, os brasileiros ficaram em 27º em um ranking de 30 países, gastando 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos, vizinhos, ficaram em 18º.”
Não por acaso, as sociedades menos desenvolvidas e mais dominadas são justamente as que menos lêem. São aquelas que admitem o analfabetismo com naturalidade. Aliás, um dos indicadores de desenvolvimento usados na atualidade é o número de televisores difundidos pelo país. Não é o número de livros publicados ou lidos pelo cidadão.
Não devia nos estranhar que o deputado mais votado do Brasil nas últimas eleições seja alguém vindo da televisão, onde alcançou popularidade. E o pior, corre risco de não ter homologada a sua eleição, por supostamente ser analfabeto.
A Inquisição não queimava apenas as ”bruxas” e os hereges. Incinerava montanhas de livros em praça pública para que não fossem lidos. No regime militar, agentes do governo invadiam casas, apreendiam e destruíam livros cujos títulos e autores achassem inadequados. Jornais foram duramente censurados. Em vez de criarem escolas para alfabetização e estímulo à leitura, optaram por uma rede de televisão concebida como monopólio para impor ao povo idéias, padrões de consumo e dependência.
Saramago, em “A Historia do Cerco de Lisboa”, apresenta uma metáfora importante do poder do leitor e, por que não, do eleitor. Cansado de apenas revisar obras de uma editora, Raimundo Silva resolve um dia inserir no texto uma única palavra sua. Num tratado de história, num trecho onde dizia que “os cruzados ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa”, introduziu um “não” antes do verbo. A pequena intervenção do revisor passou despercebida e o livro foi publicado. Descoberta a alteração, assume uma nova chefe dos revisores. Essa desafia Raimundo a escrever uma outra história, para provar que aquele “não” inserido tinha razão de existir. E o revisor é “castigado” a se tornar escritor de outra história. Seu ato de rebeldia traz muitas outras conseqüências à sua vida, inclusive no amor.
Lemos e elegemos mal. Por sermos maus leitores, somos também maus eleitores. Poucos se dão conta do poder que temos para intervir na história contada.
*Pablo Morenno é servidor público federal e escritor. Publicou os seguintes livros: Por que os homens não voam?, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2003. Um menino esquisito, infantil, com CD. Porto Alegre: WS Editor, 2006. Flor de Guernica, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2009. O Menino-peixe & outras histórias verídicas, crônicas. Porto Alegre: WS Editor, 2011. Com o livro “Flor de Guernica” recebeu o prêmio de Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores e foi finalista do Prêmio Açorianos em 2010, categoria crônicas.
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1 comentário:
Isso é ridículo! Matéria sensacionalista e totalmente desinformada.
Vou concordar em uma parte. Sim, não temos o hábito de ler livros. Eu particularmente só gosto de livros bibliográficos e relacionados a minha profissão.
E outra, ler livro consome muito tempo, o cotidiano aqui no Brasil é muito agitado, os senhores de maior idade, ao chegar no final de semana, não estão com tanta disposição para ler!
Deixo como uma dica para informações sobre dados/estatísticas do brasil o site do IBGE. www.ibge.gov.br
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