segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

MEMÓRIAS DA LUTA PELA LIBERDADE


Estátua da Liberdade na província do Lubango

Filomeno Manaças, Jornal de Angola, opinião, em A Palavra do Diretor

1. Estão no ar as celebrações à volta do 51º aniversário do 4 de Fevereiro e vale recordar o dia em que as catanas saíram à rua para reclamar para os angolanos a dignidade e o direito de, de forma livre e independente, dirigir os destinos do seu país.

Tem havido reclamações legítimas sobre a divulgação dos feitos históricos do país, em particular sobre a necessidade de a juventude os conhecer bem para que saiba o quanto custou lutar pela independência nacional e o que representou verdadeiramente o colonialismo em termos de tragédia para os angolanos. Sexta-feira à noite a Televisão Pública de Angola apresentou um trabalho digno de felicitações e que merece ser repetido. Vale a pena voltar a ver “Memórias do 4 de Fevereiro”. Mais do que as palavras, a que às vezes não se dá o devido valor, as imagens documentadas da presença colonial em Angola são o testemunho de um momento histórico que só conheceu o seu fim com a conquista da independência nacional, a 11 de Novembro de 1975. As “coisas de sonho e de liberdade” que as novas gerações aprenderam e da qual desfrutam surgiu de duras lutas para transformar a noite longa em madrugada de flores e luz.

Hoje, unidos e sem preconceitos, Angola não esquece os seus heróis e está embrenhada numa outra batalha, a da reconstrução, para honrar aqueles que lutaram por um país em que todos são merecedores do respeito e em que o desenvolvimento propicia a cada um oportunidade de realização.

São novos os desafios que se colocam aos angolanos em particular e aos países africanos em geral. Depois da luta pelas independências, depois da luta contra o hediondo sistema de segregação racial na África do Sul, é o combate à pobreza e à fome, às divisões artificiais e pela disseminação de conhecimentos e conquista do desenvolvimento em todas as latitudes que está em causa.

2. A 18ª Cimeira de Addis Abeba terminou sem a nomeação do novo líder da Comissão da União Africana. Os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), da qual Angola faz parte, apresentaram como candidata ao posto a sul-africana Nkosazana Dlamini Zuma e a retirada do apoio ao gabonês Jean Ping reflecte a defesa de uma perspectiva diferente de condução dos assuntos e de resolução dos problemas africanos. No âmago desta mudança de posição estão os acontecimentos políticos verificados em África em 2011, que colocaram vários países do continente na rota da instabilidade e de transições políticas que, por um lado, não trouxeram ganhos em termos de reforço dos valores da democracia e, por outro, redundaram em graves prejuízos económicos. Esses prejuízos estão a revelar-se agora como verdadeiros retrocessos para a economia desses países, que vão levar décadas para recuperar as performances que antes eram apontadas no continente como referência do bom desempenho. Este é o caso particular do Egipto, onde o turismo entrou em crise e as perdas em termos de receitas já começam a afectar os cofres do Estado, além da onda de desemprego que se instalou. Na Líbia, a situação não é diferente. A guerra que varreu o país desactivou várias empresas. A desarticulação económica era inevitável e não é seguro que os líbios falem de estabilidade enquanto prosseguir o cortejo de vinganças. Na Tunísia, embora os políticos tenham sabido evitar que a anarquia perdurasse, são o aumento do desemprego e dos preços dos produtos as principais queixas em relação ao que a “primavera árabe” produziu. O presidente Zine Abdin Bem Ali partiu, mas os políticos que ficaram estão longe de serem bem queridos. Tal como no Egipto.

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