segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

PROTESTOS POPULARES E COABITAÇÃO



Diário de Notícias,opinião

Deu imenso jeito a Pedro Passos Coelho a manifestação de protestos vários (portagens, operários no desemprego, professores) que ontem o aguardava em Gouveia. O chefe do Governo não deixou fugir a oportunidade: mesmo vaiado, foi ao encontro dos manifestantes, ouviu-os, disse-lhes que o pior no desemprego ainda está para vir, prometeu-lhes a luz ao fundo do túnel lá para o fim do ano. Pelo meio - e num possível recado ao Presidente da República - Passos Coelho produziu teoria geral sobre as obrigações dos homens políticos perante o descontentamento popular: "Estar com as pessoas não exige coragem, exige bom senso. Porque sabemos que há dificuldades e temos de ouvir o povo. Não tenho nenhum problema em ouvir as pessoas, dar-me conta das suas dificuldades."

Mais do que isso, deixou ao Presidente um importante alerta: "Um chefe de Estado fortalecido é importante para o País." Temos assim que Passos se revela um político cada vez mais impedioso, mesmo que na aparência mostre exatamente o contrário: ontem deu lições de política ao Presidente da República, exibindo a autoridade de ter dado o corpo às balas perante protestos populares. O Presidente "fortalecido" que Passos Coelho quer é um Presidente que partilhe com ele o desgaste político de liderar o País em tempos difíceis. Cavaco Silva poderia querer para si outro papel porventura mais simpático - "provedor do povo", como há dias se qualificou -, mas agora já é muito difícil. Culpa sua, culpa exclusivamente sua.

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