terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Reticências portuguesas sobre adesão da Guiné Equatorial estão a dissipar-se - MNE Angola



FPA - Lusa

Lisboa, 07 fev (Lusa) - O ministro das Relações Exteriores de Angola manifestou-se hoje confiante de que estão a dissipar-se as reticências portuguesas sobre a adesão da Guiné Equatorial à CPLP e recordou que há muitas empresas portuguesas no país.

"Portugal já deu um passo considerável, estamos a trabalhar nas etapas que definimos em Luanda. Queremos fazer com que isso não seja um problema de Portugal dentro da CPLP", disse Georges Rebelo Pinto Chicoti, que falava à Lusa em Lisboa, à margem do colóquio "CPLP - Uma Oportunidade Histórica".

Durante o debate, o ex-presidente de Moçambique Joaquim Chissano sublinhou que a intenção da Guiné Equatorial de aderir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é antiga: "Eu ainda era ministro das Relações Exteriores, há 27 anos, quando a Guiné Equatorial começou a manifestar essa intenção", disse.

E explicou que, nas reuniões da União Africana, se percebe que a Guiné Equatorial se sente bem na CPLP porque está isolada. "Enquanto nós, lusófonos, estamos cochichando e concertando, enquanto os anglófonos e os francófonos fazem o mesmo, a Guiné Equatorial está sozinha".

Chissano defendeu, por isso, que os países da CPLP devem ajudar o país, que precisa de um fórum onde possa ter exemplos e discussão.

Referindo-se a estas declarações, Chicoti, que representa o país que detém a presidência rotativa da CPLP, afirmou ser importante que a adesão da Guiné Equatorial possa ser consagrada na cimeira de Maputo, em julho próximo, "porque já se fizeram avanços consideráveis".

Questionado sobre as críticas dos que apontam a falta de liberdade na Guiné Equatorial para defender que o país não deve ser aceite na CPLP, Chicoti respondeu que "há faltas de liberdade em muitos países".

"Se usássemos esses critérios, não podíamos criar uma organização como esta. Criámos a CPLP em momentos em que vários países estavam em guerra", disse, defendendo, por outro lado, que a adesão da Guiné Equatorial à organização lusófona "vai permitir que haja uma evolução significativa" naquele país.

"Ninguém pode dizer que é campeão das liberdades fundamentais. Aqui também há racismo", disse. O que é importante, sublinhou, é que se possa dizer que "todos os países da CPLP estão engajados na construção dos valores democráticos, do respeito pelos direitos humanos".

Para ilustrar a vontade da Guiné Equatorial em entrar na organização, o chefe da diplomacia angolana recordou que o país já instituiu o português na Constituição como língua oficial e há um programa que está em curso.

"Vai haver uma abertura da embaixada da Guiné Equatorial junto da CPLP e em Portugal, vai haver uma equipa técnica baseada em Portugal. [As autoridades guineenses] pretendem abrir um centro cultural português na Guiné Equatorial", financiado pelo próprio país, acrescentou.

Além disso, o Governo de Malabo já manifestou a intenção de unir os seus esforços aos da comunidade internacional para criar um fundo de pensões que permita avançar com a reforma do setor de defesa e segurança na Guiné-Bissau, "num montante extremamente importante".

"Estamos à procura desses fundos há três ou quatro anos. Temos de ser pragmáticos", disse, defendendo "que não seja apenas Portugal a colocar dificuldades". "Não acredito que Portugal queira que continuemos assim. Pode ter havido algumas reticências, mas pensamos estarem a dissipar-se", acrescentou.

A Guiné Equatorial aprovou em outubro o português como terceira língua oficial, além do espanhol e do francês, como parte do seu processo de aproximação à CPLP.

Na cimeira de Luanda, em julho de 2010, os chefes de Estado e de Governo lusófonos decidiram condicionar a decisão final sobre a adesão a mais negociações.

A Guiné Equatorial tem pouco mais de 600 mil habitantes, é rica em petróleo e gás natural e tem um PIB per capita de 27 mil dólares.

O país ocupa a posição 136 entre 187 países classificados no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.


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