domingo, 5 de fevereiro de 2012

SALVEM OS ESTALEIROS!




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

O Norte e o Alto Minho, em particular, necessitam imperiosamente de toda a mobilização social e política com vista à defesa dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), empresa referência da industrialização e do desenvolvimento daquela região durante mais de seis décadas.

O país não pode continuar a deixar destruir subsectores produtivos fundamentais e estratégicos para o seu desenvolvimento, como é o caso da construção e reparação naval. Onde está a acção política decidida e ofensiva do Governo, ou do presidente da República, que confirme afirmações feitas pelos próprios há pouco tempo sobre a importância vital do sector do mar?

O Governo tarda em tornar decisões, enquanto os trabalhadores, as suas famílias e a população de Viana esperam e desesperam perante as incertezas que resultam da ausência de perspectivas de futuro.

Os ENVC sempre tiveram um extraordinário colectivo de trabalhadores e a empresa foi uma excelente escola de formação profissional ao longo dos tempos. Desde jovem, habituei-me a ver aqueles trabalhadores orgulhosos da sua empresa, motivados e empenhados no trabalho mas também na vida social, cultural e política da cidade e da região. Hoje lutam, sempre determinados, contra a acção de "predadores e oportunistas" que atacam em busca de negócio chorudo à custa do sofrimento colectivo, lutam pela defesa do emprego e da sua dignidade, e pela salvaguarda da empresa e dos interesses do país.

As causas da actual situação dos ENVC são bem conhecidas, mas algumas devem ser relembradas: as políticas de desindustrialização seguidas por diversos governos ao longo de décadas, por vezes à sombra da invocação de "crises irreversíveis" neste ou naquele sector, em outros momentos convencendo o povo de que a sociedade do futuro, ou as condições específicas de Portugal, já não iam precisar de determinado sector, e que neste "cantinho à beira-mar plantado" iríamos prosperar como sociedade de serviços e turismo; depois o ataque contínuo ao sector empresarial do Estado propiciou a existência de administrações sem empenho e, quantas vezes, sem capacidade nem vontade para construírem soluções de futuro, administrações que se arrastaram sem procurarem carteiras de encomendas, sem introduzirem novos impulsos de mobilização e sem buscarem novos horizontes.

Os governos alimentaram essa ausência de responsabilização e o proliferar do desleixo. Houve ministros a pensarem em privatização e não faltaram gestores a sonharem com a sua oportunidadezita na concretização dessa hipótese, donde, "até dava jeito" deixar a empresa degradar-se.

Agora surgiram os travões do "programa de governação" da troika: o Governo, em absoluta obediência, suspendeu os investimentos da Lei de Programação Militar e, por outro lado, nas orientações desse desastroso e pernicioso programa, as disponibilidades financeiras do Estado ou da Banca são todas para encher os bolsos dos credores e agiotas, não "podem" ser canalizados para investimento produtivo, para impulsionar o crescimento da economia.

Os ENVC precisam de um plano de reestruturação e viabilização estratégico. No contexto que acabei de enunciar, será preciso vencer algumas barreiras, mas jamais se pode admitir que, em nome dessa solução de longo alcance, não se cuide do presente A degradação da empresa por mais algum tempo compromete o seu futuro.

Os ENVC têm uma carteira de encomendas significativa - na ordem dos 500 milhões de euros. Neste momento, é imperioso dar início à execução do contrato com a Venezuela, que vale 128 milhões de euros. É preciso financiamento para a aquisição de matérias-primas e de máquinas indispensáveis, e para os salários. As tarefas de construção dos navios têm de começar já. Seria criminoso não se fazer tudo para defender a empresa e os seus 650 postos de trabalho ainda existentes.

Não existam complexos no apoio à luta dos trabalhadores ou a iniciativas que pressionem a resolução dos problemas imediatos, como p.e. a recomendação apresentada pelo Grupo Parlamentar do PCP esta semana.


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