quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

SOMOS TODOS HELENOS, SE PREFERIREM



Ana Sá Lopes – i online, opinião

Um deputado alemão de origem grega, Yiorgos Chatzimarkakis, militante do Partido Liberal incorporado na coligação Merkel, arranjou uma solução para a crise do euro. É uma ideia, como se diz agora, “out of the box”: a Grécia tem de mudar de nome.

Preocupado por o país onde nasceu ser continuamente vilipendiado pela opinião pública alemã, Yiorgos descobriu o “rebranding” simples. Para o greco-germânico Yiorgos, o nome “Grécia” está associado na cabeça de muitos europeus “a um sistema político morto pelo nepotismo e pelo clientelismo”. Numa entrevista ao diário alemão “Bild”, é assim que Yiorgos descreve a sua proposta revolucionária: “Para um honesto ‘new beginning’, a constituição grega deve ser escrita a partir do zero e o país deve passar a ser conhecido em todas as línguas como ‘Hellas’, porque precisa de uma nova imagem.”

Parece que os amigos de infância de Yiorgos não gostaram e interrogaram-se sobre se o agora alemão estaria a engrossar as hordas germânicas que querem expulsar a Grécia do euro. Ao “Athens News”, Yiorgos assegura a pureza dos seus princípios e a genuína fidelidade à pátria maternal. O que ele quer é assistir a um recomeço, com um novo sistema político e um novo nome que não recorde à população helénica as escravaturas passadas, como acontece com “Grécia” e “gregos”, nomes associados ao domínio romano e otomano. Para Yiorgos, os nomes que reflectem a glória passada e a independência são “Hellas” e “helenos”.

A história tem graça porque é o último e acabado exemplo da inanidade que atravessa a discussão sobre a Europa, a crise das dívidas soberanas, a sobrevivência do euro e o futuro da União. O “rebranding” bacoco não é um exclusivo do curioso Yiorgos – é a política oficial de Merkozy e de Bruxelas.

A mais recente acção de “rebranding” foi a introdução da palavra “crescimento” na agenda das cimeiras e nos discursos dos principais líderes. Agora que se tornou consensual que a política de austeridade e a paranóia do limite do défice conduzirão a uma recessão histórica na Europa (a coisa já é assumida por quase todos, incluindo o convertido FMI e as agências de rating que desqualificam agora tudo o que é europeu e mexe), Merkel, Durão e os outros passaram a dizer alto e a repetir muitas vezes a palavra “crescimento”.

Mas repetir muitas vezes a palavra “crescimento” não faz crescer nada. A tentativa de “rebranding” das políticas europeias através de um novo meme (e sem políticas que o permitam) é tão vazia e ridícula como substituir o nome de Grécia por Hellas para arranjar uma nova imagem. No fim seremos todos gregos. Ou helénicos, se preferir.

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