Ana Loro Metan (Reposição)
QUE A PAZ E A SABEDORIA ESTEJAM CONNOSCO
A poucas horas do inicio da escolha do candidato vencedor destas eleições presidenciais, em absoluto período de reflexão dos eleitores, é tempo de fazer o balanço da campanha eleitoral e perspetivar os resultados que começam a ser escrutinados no final do dia. Domingo, em Timor-Leste, já teremos um novo presidente da república escolhido ou saberemos se vai ser necessário recorrer a uma segunda volta com o apuramento dos dois candidatos mais votados.
A parte mais positiva deste período eleitoral e respetiva campanha foi a contrariedade causada às mentes e vozes de mau agoiro que esperavam atos de violência e de destruição ao longo das manifestações e aglomerados de apoiantes dos candidatos, vulgares caravanas e comícios. A paz esteve connosco, exceptuando casos pontuais de uma briga aqui ou acolá, de um cartaz de candidato rival arrancado quando não devia acontecer. Sobre violência ou destruição é aquilo que há para assinalar. Nada de grande monta. Tudo em conformidade com a festa da democracia que têm sido estas eleições. A surpresa, para o auto denominado mundo civilizado do ocidente, deve ter deixado gagos uns quantos profetas da desgraça. Aqui, em Timor-Leste, nenhum doido frustrado desatou a cometer assassínios em massa, como aquele americano que no Afeganistão entrou pelas casas de civis fazendo matança de civis inocentes entre homens, mulheres e crianças. Também nenhum adolescente entrou por escolas e pôs a matar alunos na maior quantidade possível. Também não ocorreram atos bombistas ou outras ações terrificas quase dignas de Osama Bin Laden mas praticadas por norte-americanos, europeus, pela civilização dita democrática e auto denominada civilizada. Em Timor-Leste estivemos em paz e em concórdia a celebrar a festa da democracia. Pelos vistos somos uns selvagens, uns desmancha prazeres que nem sequer queimámos uma palha, nem cortámos a crista de um galo para que fosse dado o alarme de que a instabilidade no país justifica os centos de tropas australianas que injustificada e abusivamente continuam pelo país a movimentarem-se sem sabermos bem porquê ou a fazer o quê. Acrescente-se a isso uns quantos (muitos) indiscretos norte-americanos ou outros ao seu serviço sob diversas capas mas que mais parecem da CIA e agências paralelas do país onde a cada esquina podemos ser assaltados ou assassinados, quero dizer com todas as letras United States Of América. Desta vez, felizmente, nem ainda Xanana criou birra, nem a Igreja fez de conta que anteviu o diabo, nem australianos nem norte-americanos AINDA causaram desarmonia, nem acirraram espíritos, para que reinasse no país o caos, a mortandade e a destruição como em 2006. Mundo, Timor-Leste está em paz. Irmãos, estamos a dar mais uma lição ao mundo auto denominado civilizado, ocidental e democrático. Que assim prossigamos e saibamos ver quem são os amigos e os inimigos da paz possível em que sobrevivemos.
Durante a campanha eleitoral uma grande desgraça nos aconteceu: ficámos de vez sem a presença física de Xavier do Amaral, um amigo de todos nós e, principalmente, dos que melhor o conheceram e com ele partilharam a infância e a adolescência, além de muitos anos de progressiva maturidade. Tudo é inesquecível, saudoso e sem reparação. Resta-nos a memória e a presença do espírito e do valor de Xavier do Amaral. O homem, o timorense, que nunca devemos trair nem por um segundo no propósito de construir o nosso país, sarando feridas profundas, espantando querelas, construindo convergências, regando todos os dias a planta da tolerância, da justiça, da transparência e da democracia para que o fruto que dê seja a liberdade que durante séculos não tivemos. Será assim que manteremos vivo Xavier do Amaral e todos os que pereceram na luta para que usufruamos finalmente do trabalho e prazer de dar o rumo certo ao nosso país, rumo certo às nossas vidas e a todos nós.
Dentro de horas podemos ir votar e escolher quem queremos para presidente da república num mandato por cinco anos. Ao irmos votar devemos ponderar seriamente sobre o que esperamos do candidato que consideramos ser a melhor escolha para todos nós. Devemos questionar se o escolhido vai ser na realidade um presidente justo que não abandone à sua má sorte os timorenses mais desfavorecidos do interior, nem os seus irmãos que invadem Díli à espera de encontrar o El Dorado mas que somente deparam com a miséria e a fome, com o desemprego e uma vida marginal que tantas vezes leva à criminalidade muitos que anteriormente sempre foram bons timorenses. Em suma: devemos escolher em consciência um presidente que se interesse por todos os timorenses em igualdade de circunstâncias e de oportunidades, que não seja falsamente caridoso mas sim que saiba ser solidário e, mais importante que tudo, que seja justo e próximo dos muitos milhares de carenciados para que o deixem de ser.
Até aqui, apesar dos tempos de paz que estamos vivenciando, o que vimos foi ações de caridadezinha com esgares de hipocrisia, e cada vez mais pobreza, mais miséria, mais injustiças. Por outro lado vimos uns quantos enriquecerem sem que exista justificação plausível a não ser roubo daquilo que é do país. Não vimos em cinco anos de presidência uma única ação que fizesse frente a essas ações de roubo, de crime, a que chamamos KKN (corrupção, conluio e nepotismo). Não queremos outro presidente assim, nem pior que aquele, Ramos Horta. Muito menos um presidente e governo que liberte da prisão assassinos de nossos amigos e de nossos familiares como foi o caso do cruel Martenus Bere. Não só Ramos-Horta mas também Xanana Gusmão cometeram esse crime de lesa patriotas impunemente – apesar de Cláudio Ximenes, presidente do Tribunal de Recurso, ter acentuado nesse tempo que o ocorrido é crime e que os responsáveis seriam punidos. Tudo mentira. Tudo impunidade.
Ramos-Horta foi o candidato a PR de Xanana Gusmão em 2007. Depois entraram em divergências. Falta cumprir o adágio português “zangaram-se as comadres, descobrem-se as verdades”, mas o dia chegará. Taur Matan Ruak é desde há cerca de dois anos o candidato de Xanana Gusmão. Compreendemos porque Xanana fabricou o candidato Taur: se Taur vencer e ocupar o cargo de PR deverá estar na disposição de optar por duas posturas. Uma, no quadro de Xanana voltar a ser primeiro-ministro – a eleger em Junho – não se opondo a que os novos-ricos (ladrões) fiquem mais ricos nem que os pobres fiquem cada vez mais pobres (apesar de na campanha dizer e julgar poder fazer o contrário). A outra postura, se a Fretilin vencer (como se espera) e constituir governo, compete a Taur encorpar uma força de bloqueio e de instabilidade (queira ou não queira) a exemplo daquilo que Xanana Gusmão fez quando desempenhou o cargo de presidente da República, culminando com a destruição e mortes que sabemos e o derrube do governo através do golpe de estado em 2006…
É isto que queremos que volte a repetir-se? Com toda a certeza que não. Então, também de certeza absoluta que a maioria sabe em quem há-de votar para que isso não aconteça. Que decidamos o melhor, rapidamente, logo na primeira volta destas eleições.
Destaque Página Global
Ler mais sobre Timor-Leste - use os símbolos da barra lateral para se ligar aos países lusófonos pretendidos
Sem comentários:
Enviar um comentário