Martinho Júnior, Luanda
A “defesa” das monarquias arábicas por parte dos Estados Unidos e dos aliados anglo-saxónicos, que conseguiram rebocar a NATO para os mesmos objectivos, em redundância do que tenho vindo a denunciar no quadro do “Tratado Quincy”, é desde o final da IIª Guerra Mundial, um contínuo fervor de lesa democracia, não só pelo que se vai registando intra-muros na Arábia Saudita, no Qatar, no Bahrein, nos Emiratos Árabes Unidos, em Mascate, em Oman, na Jordânia… mas também por que “a salvação dos reis” está a ser feita para lá das fronteiras desses países, recorrendo a aliados que foram em tempo “excomungados” pelas Administrações norte americanas, em especial pela Administração de George W. Bush, como a muito originalmente saudita Al Qaeda! (1)
As castas do petróleo norte americanas, que têm na família Bush seu núcleo duro mais “democraticamente representativo”, estão intimamente associadas a esse fenómeno elitista de amplo espectro, em termos de ingerência e manipulação, por que seus interesses têm de ser assegurados “sem limites”, mesmo que isso implique em reflexivas contradições e “efeitos boomerang”: é em território das monarquias arábicas, tal como na Líbia e no Irão, onde os custos de exploração de petróleo e gás são incomparavelmente os mais baixos no mundo!
Efectivamente o petróleo e o gás estão quase à superfície e em terrenos arenosos: enquanto os custos de exploração correntes são na península arábica à volta de 10 USD /barril, noutros lugares que não possuem as mesmas características (a Líbia e o Irão têm características similares), são sempre muito superiores!
A “guerra santa” supostamente contra a Al Qaeda, foi uma “ementa” deliberadamente utilizada contra o Iraque, contra a Líbia (com a “diabolização” dos líderes que estavam à frente dos regimes) e agora está a ser utilizada contra a Síria, uma vez que, sem a garantia duma monarquia segundo o modelo da casa Saud, esses países conformam com o Irão e outros pequenos aliados disseminados por todo o Médio Oriente e Norte de África, o verdadeiro inimigo a abater: aquele que se constituiu em obstáculo para a gula das multinacionais do petróleo anglo-saxónicas e de seus aliados!
Esta interpretação tem também que ver com os interesses da casta Bush, com os da multifacetada família saudita Bin Laden (2).
Por essa razão a Al Qaeda, livre da liderança de Bin Laden, uma Al Qaeda que é preciso recordar, está intimamente associada às monarquias arábicas, se está a tornar para o império num instrumento versátil e dócil, conjuntamente com outros fundamentalismos, a fim de em nome da democracia, continuar a sua senda de ingerências e manipulações a quem obsta aos desígnios estabelecidos no âmbito das conversações do “Tratado de Quincy”!
“Salvar os reis” é também o tipo de ingerências e manipulações de largo espectro e difusão, que coincide com o salvamento dos falcões de Israel, uma questão essencial para a afirmação da aristocracia financeira mundial enquanto mentora persistente de hegemonia unipolar, mesmo que is falcões persigam vias de “apartheid”, de injustiças de toda a ordem, de tensões e de guerra.
O Global Research deu a conhecer que Hilary Clinton reconhece que grupos da Al Qaeda estão a lutar integrados na oposição rebelde, sendo por isso aliados dos interesses dos Estados Unidos.
As grandes batalhas que os anglo-saxões e seus aliados estão a travar passam-se dentro das sociedades e atingem em cheio todo o tipo de comunidades, começando por modelar a psicologia social a seu contento, alterando os comportamentos, sobretudo os da juventude, para seguir com processos de subversão em crescendo:
- Num “baixo perfil” assumir os esforços de penetração clandestina seguindo métodos de inteligência.
- De seguida passar para o estágio de treino e apoio aos rebeldes, mantendo regras de clandestinidade na fermentação e preparação do que irá ser a força tarefa.
- Passar depois para o fornecimento de armas e munições, mas de forma a esconder a origem dos fornecimentos.
- Constituir uma força tarefa local ligeira mas com boa capacidade de manobra (de forma a procurar aparecer em tantos locais quantos os possíveis), suficientemente explícita para fortalecer o caudal de apoios em meios aéreos, em unidades especiais e em meios de inteligência.
- Empolar os acontecimentos de forma a garantir a invasão com emprego de forças convencionais aliadas.
O que se passa em Homs na Síria é um indicador evidente dessa trilha, um indicador que, por muito que se esforcem os poderosos meios da hegemonia, agora já não pode ser “apagado”.
A rede Voltaire tem publicado algumas dessas evidências, abrindo as portas a outras para uma melhor explicação “a posteriori” (4).
Os rebeldes lançados pelos ocidentais na Síria estão a ser identificados após os últimos acontecimentos em Homs; alguns de entre eles são pseudo jornalistas, outros são mesmo componentes de unidades especiais.
“Depuis onze mois, les puissances occidentales et du Golfe conduisent une entreprise de déstabilisation de la Syrie.
Plusieurs milliers de mercenaires se sont infiltrés dans le pays.
Recrutés par des officines de l’Arabie saoudite et du Qatar au sein des milieux extrémistes sunnites, ils sont venus renverser l’usurpateur alaouite Bachar el-Assad et imposer une dictature d’inspiration wahhabite.
Ils disposent du matériel militaire le plus sophistiqué, incluant des systèmes de vision nocturne, des centraux de communication, et des robots de combat urbain.
Soutenus en sous main par les puissances de l’OTAN, ils ont en outre accès aux renseignements militaires indispensables, notamment des images satellites des déplacements des troupes syriennes, et des interceptions téléphoniques.
Cette opération est présentée mensongèrement au public occidental comme une révolution politique écrasée dans le sang par une dictature sans pitié.
Bien sûr, ce mensonge n’est pas universellement accepté.
La Russie, la Chine et les États américains membres de l’ALBA le récusent.
Chacun dispose en effet d’expériences historiques qui leur permettent de comprendre rapidement ce qui est en jeu.
Les Russes pensent à la Tchétchénie, les Chinois au Xinkiang, et les Américains à Cuba et au Nicaragua.
Dans tous ces cas, au-delà des apparences idéologiques ou religieuses, les méthodes de déstabilisation de la CIA étaient les mêmes.
Le plus étrange dans cette situation est d’observer les médias occidentaux s’auto-persuader que les salafistes, les wahhabites et les combattants de la mouvance Al-Qaïda sont épris de démocratie, alors que ces derniers ne cessent d’appeler sur les chaînes satellitaires saoudiennes et qataries à égorger les hérétiques alaouites et les observateurs de la Ligue arabe.
Peu importe qu’Abdelhakim Belhaj (numéro 2 d’Al Qaida et actuel gouverneur militaire de Tripoli, Libye) soit venu personnellement installer ses hommes au Nord de la Syrie, et qu’Ayman Al-Zawahiri (numéro 1 d’Al-Qaïda depuis la mort officielle d’Oussama ben Laden) ait appelé au jihad en Syrie, la presse occidentale poursuit son rêve romantique de révolution libérale ».
Enquanto Sarkozy se embaraça na sua própria teia, o que terá reflexos negativos na sua candidatura nas eleições próximas para a Presidência francesa, a Turquia desesperadamente e sob pressão reconheceu os seus próprios agentes infiltrados na Síria, alguns deles feitos prisioneiros e está a rectificar quase numa viragem de 180º, o seu papel na região como uma das impulsionadoras das ingerências na Síria.
As monarquias arábicas possuem enormes arsenais de armas, arsenais comprados aos países ocidentais, pelo que armas é que não faltam aos candidatos à insurgência, aos fundamentalistas de todo o tipo e às redes da Al Qaeda !
À partida as ingerências e as manipulações trazem rótulos inocentes: são muitas organizações de “activistas” que dizem defender direitos humanos, são “organizações não governamentais” de todo o tipo, desde as que “combatem” a SIDA, até às que se interessam pelo habitat, são seitas religiosas com as interpretações e os conceitos mais díspares, cuja mancha se alastra incontrolável, são finalmente os partidos de mão que correspondem, quantas vezes com seus mentores a passarem pelas escolas de conveniência e quantas vezes ao abrigo de exílios dourados que um dia hão-de dar os seus frutos.
A atitude e o comportamento são ostensivamente provocatórios, as mensagens são curtas, de forma a que traduzam a contradição indispensável, os métodos emocionais são valorizados, a agressividade é aferida à qualidade das respostas dos sistemas que têm por objectivo derrubar e estão garantidas caixas de ressonância nos “mass media” de conveniência, de forma a ampliar a difusão dos impactos na sociedade, criando o clima favorável à implosão dos estados e à agitação social controlada pelos grandes interesses e em contínua expansão.
O financiamento das correntes de conveniência são também garantidas no próprio jogo ambíguo do elitismo, da filantropia e da especulação financeira, mesmo que o discurso de George Soros seja agora outro, aparentemente contraditório com o do passado recente (5).
A aristocracia financeira mundial, ela própria uma casta elitista e tendente a actos unilaterais (é só constatar o carácter de suas manifestações no Bilderberg, na Trilateral, no Council on Foreign relations…), a aristocracia tutora do império, há muito fez promover a morte da democracia e nada se pode esperar de ético nesse seu frenesim, cujo fim último é a perpetuação duma lógica cada vez mais distante do sentido de vida, por que desrespeita a humanidade e o próprio planeta (6).
A iniciativa da ONU, com Kofi Annan à cabeça, não salvará a face do império e dos mentores dos mais hediondos expedientes da hegemonia unipolar.
… coisas que a globalização tece…
Notas:
- (1) – Salvar o(s) rei(s) – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html ; A doutrina Obama a pleno vapor – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-35.html ; O diktat da hegemonia – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/06/o-diktat-da-hegemonia.html ; Iraque, Iraque, 75 anos depois – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html
- (2) – Bin Kaden family – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Bin_Laden_family ; Bush-Bin Laden family links – Wikipedia – http://www.911myths.com/index.php/Bush-bin_Laden_family_links
; Bush’s former oil company linked to Bin Laden family – http://www.rense.com/general14/bushsformer.htm ; Castas das arábias – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/castas-das-arabias.html
- (3) – Clinton admits US on same side as Al Qaeda to destabilise Assad government – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29524
- (4) – La guerre secrète de la France contre le peuple syruen – http://www.voltairenet.org/La-guerre-secrete-de-la-France ; Fin de partie au Proche Orient – http://www.voltairenet.org/Fin-de-partie-au-Proche-Orient ; O fiasco dos agentes secretos franceses em Hons – http://www.voltairenet.org/Siria-O-fiasco-dos-agentes ; La Conferencia del Club de amigos de Síria concluie sin resultados aparentes – http://sp.ria.ru/opinion_analysis/20120228/152854453.html
- (5) – Jogos africanos de George Soros – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/blog-post_26.html
- (6) – Opção pelo inferno – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/opcao-pelo-inferno.html
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