Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O ministro das Finanças de Portugal, Vítor Gaspar, admitiu hoje que o agravamento do desemprego foi "significativamente superior" ao que estava previsto.
Numa reunião na comissão parlamentar para o acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira da 'troika', Vítor Gaspar disse que a evolução da economia em 2011 (uma queda de 1,6% do PIB) representou uma "contracção da actividade económica inferior ao previsto inicialmente".
O mesmo não ocorreu com o emprego, disse o ministro. "Verificou-se um agravamento do desemprego significativamente superior ao esperado", admitiu Gaspar.
Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego atingiu os 14% no último trimestre de 2011 - um valor já mais elevado do que o inicialmente previsto pelo Governo para este ano. No mês passado, Vítor Gaspar reviu a previsão do Governo para 14,5%.
Registe-se que o Governo português também não está satisfeito com os 20% de pobres (acha que seria aconselhável chegar, pelo menos, aos 30%), nem com os outros 20% de miseráveis (quer que sejam muito menos por baixa nos efectivos – ou seja, por terem morrido).
Seja como for, no Governo actual só existem Pedro Miguel Passos Relvas Coelho e Vítor Gaspar. O resto é paisagem, uma mais protegida do que outra, não em função dos pastéis de Belém mas das jogadas partidárias e das ordens superiores da EDP, nomeadamente de António Mexia.
Mas estarão os portugueses preocupados? Os mesmos de sempre estarão, com certeza. Não pelas questões macroeconómicas mas pelo facto de já nem cotão terem nos bolsos.
Segundo os economistas David Haugh e Álvaro Pina, que são responsáveis pela análise da economia portuguesa na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), "o ano mais difícil para Portugal será 2012, porque será um ano de um grande esforço em termos de consolidação orçamental, também porque será um ano em que os desequilíbrios no sector privado começarão a ser resolvidos, em termos de desalavancagem do sector privado por exemplo".
Também creio que, como disse o suposto ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, 2012 será o princípio do fim. Não da crise, mas do país. Tudo, é claro, a bem da nação esclavagista que este governo tem como meta suprema, como desígnio nacional.
Não creio, contudo, que a taxa de desemprego seja assim tão preocupante. Desde logo porque há cada vez mais portugueses que, com engenho e arte, estão a montar os seus próprios negócios. São disso exemplos os assaltos às caixas multibanco ou às ourivesarias. Em breve serão também os hipermercados pois, reconheça-se, nenhuma tarefa pode ser bem desempenhada com a barriga vazia.
Razão tinha Passos Coelho – antes de apanhar o cheque em branco que os portugueses lhe deram – quando dizia: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de se descobrir que é um aldrabão – quando dizia que “para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de assumir a liderança de um governo esclavagista – quando dizia: “Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas. Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.
Razão tinha Passos Coelho – antes de ter comprado o reino – quando dizia: “A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”.
Tal como tinha razão quando perguntava: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: CONTA-ME COMO É NÃO SER POBRE
Sem comentários:
Enviar um comentário