Lisboa - Guineenses em Portugal consideram que a utilização dos recursos do Estado para favorecer em eleições o candidato do partido no poder, como nas presidenciais que ocorrem no próximo dia 18, já é uma prática corrente na Guiné -Bissau.
"Isso vai acontecer necessariamente (a utilização dos recursos em favor do candidato do partido no poder)", declarou à agência Lusa Fernando Ka, um luso -guineense que vive desde 1969 em Portugal.
As eleições presidenciais no país africano foram antecipadas devido à morte, em Janeiro passado, de Malam Bacai Sanhá, Presidente eleito em 2009.
Segundo Fernando Ka, "está fora de questão essa situação de favorecimento não acontecer (...) porque (o PAIGC, partido no poder, do candidato Carlos Gomes Júnior) tem o aparelho nas mãos e controla tudo e mais alguma coisa".
"As pessoas são muito preparadas para escutar as opiniões dos caciques locais e, muitas vezes, esses são controlados porque são subornados pelo próprio partido ou por quem tem o dinheiro, que nesse caso é o Governo da Guiné-Bissau", considerou Fernando Ka, que é presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social e ex -deputado do PS em Portugal (1991-1995).
Por seu lado, Malam Gomes, que vive há 28 anos em Portugal, considerou que é errado utilizar recursos do Estado para favorecer um candidato, sobretudo "numa eleição que se diz transparente, livre, justa e democrática".
João Tatis Sá, médico guineense que mora em Portugal há mais de 30 anos, também referiu a contestação da oposição sobre a utilização dos recursos do Estado para favorecer a candidatura de Carlos Gomes Júnior.
O juiz Lassana Camará proibiu, na quinta-feira, o Governo da Guiné-Bissau de utilizar meios do Estado na campanha eleitoral, avisando que caso a ordem não seja respeitada, o Executivo incorrerá no crime de desobediência qualificada.
A notificação deu como procedente uma providência cautelar interposta pelo advogado Abdu Mané, em nome de seis candidatos.
"Agora, na Guiné-Bissau toda a gente quer o poder, não para fazer melhor para o país, mas sim como um meio de sobrevivência. Infelizmente, essa é a realidade que acontece no país", lamentou Fernando Ka.
O líder associativo indicou que está muito preocupado com a possibilidade de fraude eleitoral, apesar da actuação de observadores internacionais, que considerou muito limitada.
Sobre a não realização do recenseamento eleitoral para as presidenciais, João Tatis Sá indicou que os cidadãos, sobretudo os jovens que atingiram a idade para votar, têm o direito de exercer a sua cidadania.
Por todas essas situações, Tatis Sá - que foi candidato presidencial na Guiné-Bissau nos sufrágios de 2005 e 2009 pelo Partido Popular Guineense (PPG) - questiona-se se todo o processo eleitoral está mesmo a decorrer de "forma regular" e com normalidade.
Por seu lado, Malam Gomes culpou os partidos políticos pela não realização do recenseamento, já que "tinham consciência de que, com os prazos constitucionais estabelecidos, não seria possível fazê-lo".
Nove candidatos estão a concorrer às presidenciais, entre eles, Carlos Gomes Júnior, até agora primeiro-ministro e presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e Kumba Ialá, ex -Presidente guineense (PRS).
Henrique Rosa, Baciro Djá, Luís Nancassa, Manuel Serifo Nhamadjo, Serifo Baldé, Vicente Fernandes e Afonso Té são os outros candidatos.
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