Fernando Peixeiro (Texto) e André Kosters (Fotos), da Agência Lusa
Bissau, 14 mar (Lusa) - As ações de campanha para as presidenciais na Guiné-Bissau atrasam-se horas em relação ao previsto e os comícios são sempre pelo menos duas horas depois do marcado, quando o calor acaba mas ainda há luz do dia.
Por estes dias há ações de campanha para as eleições presidenciais de domingo marcadas para as 09:00 que acontecem às 14:00, há comícios que mudam de lugar, candidatos que alteram a rota à última da hora. E o "mal" percorre todas as campanhas.
Os comícios são sintomáticos. Para a Praça do Bandim, em Bissau, anuncia-se um comício para as 16:00. Será num terreiro ladeado de 10 mangueiras, onde alguém já colocou cartazes do candidato, e onde duas balizas de madeira meio podre nos extremos indicam outras lides.
Mas à hora marcada, são só os cartazes a indicar que o país está em plena campanha eleitoral. Crianças, muitas crianças, quase todas descalças, sentadas pelo chão de terra, envoltas em pó, algumas empoleiradas numa árvore, à espera. Pequeno grupo de adultos aproveita a sombra das mangueiras.
Na praça central de Bafatá, cidade a leste de Bissau, à mesma hora também não acontece nada, além do calor e do pó. Na verdade, estão dois camiões no largo, as chamadas plataformas, que servem de palco e de transporte de grandes colunas de som que debitam música alta.
Mas do candidato nem sombras, essas apenas dadas por árvores escassas. Debaixo de uma, mulheres sentadas em cadeiras de plástico vendem laranjas descascadas e garrafas de litro e meio de gasolina. Noutra empoleiram-se crianças também mas que cedo desistem porque a "festa" não começa tão cedo: às 16:30 chega uma terceira plataforma, onde começam a alinhar cadeiras de plástico também.
Em Bissau, uma hora depois do marcado continua pouca gente. Uma menina atravessa a praça com um balde de água à cabeça e dois meninos atravessam a praça a correr atrás de dois pneus. Alguns dos que estavam na árvore desceram e estão a brincar com uma bola.
Em Bafatá, a plataforma que debitava música cala-se por momentos e começa a andar. As outras duas também. Ficam assim em manobras inexplicáveis. Uma voz feminina grita pelo candidato, sem convicção, quando recomeça a música e surge uma menina a vender sorvete, suco do fruto do embondeiro gelado. São cinco da tarde e na praça não estão mais de 20 pessoas.
Na praça de Bissau continuam a chegar toca-toca, com um jovem de megafone a sair de um deles. No terreiro para uma mota com dois jovens que carregam uma grande faixa de apoio ao candidato. Dão voltas e voltas sem saber onde e como a pendurar enquanto se instala um grupo com tambores. Começa a música e os jovens dançam. Dos seus pés sai uma nuvem de poeira que depressa envolve todo o recinto.
Em Bafatá passou hora e meia depois da hora prevista e o largo começa a compor-se. Na plataforma cantam artistas e a praça levanta as mãos, quase todas ainda de crianças e jovens sem idade para votar. Alguns abanam-se com pedaços de cartão e uma árvore atrás da plataforma começa a compor-se também.
Em Bissau, às 17:45, a praça está quase cheia e chega o candidato mas só cinco minutos depois uma plataforma, que demora mais 15 minutos a aconchegar-se, levando a movimentações das pessoas, que provocam ainda mais pó. Pelas 18:10 começa o comício, mais de duas horas após o marcado.
Já em Bafatá a demora é maior. O candidato aparece apenas às 18:30 e, aí sim, a praça está repleta. Segue-se mais animação musical, palavras de ordem, intervenções de muita gente. O sol desapareceu já e quando o candidato fala a praça está quase às escuras. Tinham passado três horas.
Na praça do Bandim é o mesmo. Intervenções, palavras de ordem, e o candidato a falar ao lusco-fusco, num país onde luz elétrica na rua é rara.
Em Bissau, em Bafatá ou em qualquer cidade são assim os comícios na Guiné-Bissau. Sem luz, sem hora certa para começar, mas com muito pó, muito calor, muitas crianças, muito barulho e muita alegria. E sempre, sempre ao lusco-fusco.
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