quarta-feira, 14 de março de 2012

Guiné-Bissau/Eleições: Henrique Rosa, o homem da Igreja que se fez político



Mussá Baldé, da Agência Lusa

Bissau, 14 mar (Lusa) - Henrique Rosa estava até 2003 ligado a negócios e à Igreja Católica, quando foi escolhido para Presidente de transição da Guiné-Bissau. A vocação política mantem-se desde aí e concorre pela segunda vez ao mais alto cargo do país.

Presidente por sugestão do bispo de Bissau após o golpe militar que destituiu Kumba Ialá, Henrique Rosa quer voltar ao lugar com um mandato do povo. As eleições presidenciais antecipadas de domingo serão as segundas em que se apresenta, já que foi candidato derrotado também nas presidenciais antecipadas de 2009.

Ainda se falou que iria criar um partido político quando então ficou em terceiro lugar, mas Rosa, homem discreto e respeitado na sociedade guineense pela sua postura de diálogo, voltou para a sua loja no centro de Bissau fazendo esporádicas aparições públicas no meio político.

Empresário no ramo dos seguros e cônsul honorário da Costa do Marfim na Guiné-Bissau, nos meios políticos é confundido com a voz da Igreja Católica devido à sua ligação à congregação e ao bispado guineense. É amigo pessoal do bispo de Bissau, D. José Camnaté Na Bissign.

É dos poucos políticos guineenses que é presença assídua na missa de domingo na Sé Catedral de Bissau, situada a escassos metros de sua casa, onde sempre viveu, mesmo quando foi Presidente interino do país de 28 de setembro de 2003 a 01 de outubro de 2005.

Filho de pai português e de mãe guineense, Henrique Rosa, que nasceu em Bafatá há 66 anos, assume-se como um "patriota amante da paz" que tem o diálogo como principal arma para o combate político ou ideológico, caraterísticas que diz ter herdado do primeiro bispo da Guiné-Bissau, D. Septimio Ferrazzetta, com quem trabalhou arduamente para o fim da guerra civil que assolou a Guiné-Bissau entre junho de 1998 a maio de 1999.

Antes da guerra civil, Henrique Rosa já era considerado uma figura consensual uma vez que o seu nome foi facilmente aceite pela classe política para o cargo de diretor executivo da Comissão Nacional de Eleições, nas primeiras eleições presidenciais e legislativas realizadas no país em 1994.

Dessa fase diz, com orgulho, ter guardado um "trabalho patriótico" feito numa altura em que o país se estava a abrir para o pluralismo democrático.

Tem boas ligações com o mundo francófono. Em 2010, foi distinguido pela França com as insígnias da Legião de Honra, embora na altura não desempenhasse nenhum cargo público no país.

Henrique Rosa, casado e com cinco filhos, é também um homem ligado ao futebol, por ter sido presidente da direção do Benfica de Bissau entre 1986 e 1997.

Conta-se que quando era Presidente da República os serviços de segurança ainda fizeram tenção de retirar os feirantes de produtos artesanais que ocupam o pátio da sua residência, mas quando Henrique Rosa soube disse aos guardas que aqueles só saíram daquele local no dia em que assim o entendessem. Mantêm-se lá até hoje.

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