sexta-feira, 9 de março de 2012

Guiné-Bissau: A POLÍTICA É TUDO NO PAÍS - analista Mamadu Jao




Fernando Peixeiro, da agência Lusa, com foto

Bissau, 09 mar (Lusa) - A política é a "única fonte de acumulação de meios de sobrevivência" na Guiné-Bissau, onde se desvaloriza "o trabalho e o saber", e daí haver tantos candidatos às presidenciais, considera o analista Mamadu Jao.

Num país de 1,6 milhões de habitantes apresentaram candidatura a Presidente 14 pessoas e nove vão a votos, "o que é um exagero", entende o diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP).

"O poder é tudo neste país, a Guiné-Bissau terá de se organizar de forma a criar mais oportunidades para os cidadãos. Há que organizar o país para que as pessoas possam encontrar outras alternativas de sobrevivência que não seja o poder", disse Mamadu Jao em entrevista à Lusa, a propósito das eleições antecipadas do próximo dia 18.

O responsável reconhece que a maior parte dos candidatos a Presidente não "vai a lado nenhum", mas explica que as candidaturas surgem numa ótica de "alianças e contra-alianças".

"É uma falta de organização do próprio país, na medida em que quem está no poder tem tudo e quem está fora não tem nada. Penso que é um risco para o país. Já ter 30 e tal, quase 40 partidos, num país de 1,6 milhões de habitantes não é normal. A tendência para ter muitos candidatos é por isso; na segunda volta as pessoas reagrupam-se, impõem condições, e mesmo se não ganharem garantem alguma coisa para o partido e para a sua pessoa", explica.

O problema maior é que na Guiné-Bissau "tudo passou a ser em torno do poder, porque o poder controla tudo", explica, acrescentando que é necessário "criar mais oportunidades para todos", porque agora o que há é situações "em que ser engenheiro ou ser doutor não conta, e ser político, mesmo que analfabeto, é o que importa neste país, o que não é normal".

Para o analista, diz, o processo eleitoral não teve até agora grandes novidades, com a mesma maneira de sempre de ver a política mas também sem grandes percalços. Mas Mamadu Jao lamenta "a confusão entre ser candidato à Presidência e ser a primeiro-ministro", porque "muitos fazem discursos como se fossem estar à cabeça do Governo".

Discursos à parte, a campanha eleitoral é "uma festa". Num país onde a "pobreza e o analfabetismo continuam a ter um peso muito grande" o processo democrático "quase não diz nada à maioria dos cidadãos" que "vê isto tudo como uma festa".

"É uma oportunidade também para o cidadão comum. Pode parecer que uma camisola não tem significado, mas não terá para quem nada tem? E se tiver oportunidade de no fim da campanha ter cinco camisolas?", questiona.

E camisolas não querem dizer votos, tudo se decide nos últimos dias de campanha. E a campanha é uma oportunidade para todos, para os políticos que vendem alianças, e para a população, que dança e canta e que às vezes consegue uma camisola, uma chapa de zinco ou um saco de arroz, diz o diretor do INEP.

Mas a verdade de Mamadu Jao, aquilo que realmente o preocupa, é que na Guiné-Bissau há "uma inversão de valores incrível em quase todos os domínios", onde se incentiva "mais a mediocridade do que qualquer outra coisa".

A verdade de Mamadu Jao é que apostar no conhecimento, no capital humano, é o caminho para o futuro. "Mas na Guiné-Bissau a situação é inversa".

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