quarta-feira, 14 de março de 2012

Guiné-Bissau/Eleições: Henrique Rosa avisa PAIGC que vitória não será fácil



Fernando Peixeiro, da Agência Lusa

Bissau, 14 mar (Lusa) - Henrique Rosa, candidato às eleições presidenciais de domingo, admite a criação em breve de um partido político e avisa Carlos Gomes Júnior, candidato apoiado pelo partido no poder, que será difícil cumprir o sonho de vencer na primeira volta.

Em entrevista à Agência Lusa, Henrique Rosa deixa também críticas à promiscuidade que diz haver entre o que é público e privado na Guiné-Bissau, faz um balanço positivo da campanha e garante que é urgente definir a questão da bandeira, porque o país não pode ter uma bandeira nacional que é também bandeira partidária (do PAIGC, Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde).

A questão da bandeira, diz, nem sequer é nova, ainda que seja urgente o debate. Porque é "uma agressão" para o cidadão ver o símbolo nacional ser "quase ultrajado" com a inscrição "da sigla do partido do PAIGC e o nome do candidato".

"Há que fazer uma opção. Eu respeito o facto de ser a bandeira eleita no tempo da luta e ser anunciada como a bandeira nacional. Então fiquemos com a bandeira nacional. Agora se o PAIGC inscreve a sigla sobre a bandeira ela deixa de ser nacional e passa a ser partidária. A opção terá de ser feita, ou o PAIGG fica com essa bandeira e a Guiné-Bissau terá outra, ou o PAIGC arranja a sua própria bandeira. Com esta paródia que estamos a assistir é que não pode ser", diz.

A questão da bandeira é uma das que quer resolver se no domingo for eleito Presidente da República, a par de outras como a "utilização indevida de bens públicos", que acontece frequentemente na Guiné-Bissau.

E Henrique Rosa dá um exemplo: apesar de um Tribunal de Bissau ter proibido a utilização de bens públicos na campanha do candidato apoiado pelo PAIGC, Carlos Gomes Júnior, essa utilização continua a fazer-se todos os dias.

"O Tribunal tem a força que tem. Eu hoje vim do sul e cruzei-me com inúmeras viaturas do Estado a levarem simpatizantes para comícios em Buba e Catió. O Tribunal pode decretar o embargo (fê-lo na semana passada) mas o candidato continua a utilizar", diz Henrique Rosa, acrescentando que se tem cruzado também com viaturas sem matrícula e outras com matrículas estrangeiras, o que pode corresponder a viciação de matrículas de viaturas públicas.

É por isso que como Presidente quer "tentar trazer outra vez a disciplina e a moral" à sociedade guineense. E há também que "dar uma atenção muito especial à corrupção".

"A corrupção grassa na nossa sociedade e é preciso por um ponto final nisso. Há muitas negociatas que estão a ser feitas com os bens públicos e é preciso pôr termo a isso. Temos de dar dignidade ao nosso Estado, temos de reorganizá-lo, discipliná-lo", diz.

Henrique Rosa garante uma boa relação com o Governo mas avisa que vai "questionar uma série de coisas", exemplificando com "os subsídios faraónicos distribuídos aos membros do Governo".

De resto ele mesmo poderá ter um partido político e por conseguinte concorrer às eleições legislativas deste ano. "Estava em curso o processo de formação de um partido político que foi interrompido porque surgiu este projeto da candidatura às presidenciais. Se os que estavam comigo decidirem dar continuação, têm toda a liberdade", diz.

Mas para já é a campanha. E nela a "expressão tem sido muito boa". Nos Bijagós, em Biombo, Quinará, Oio? "Estou animado. E aquele candidato que diz que vai ganhar logo na primeira volta terá imensas dificuldades em efetivar o seu sonho".

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