FP - Lusa
Bissau, 11 mar (Lusa) - Vicente Fernandes, candidato apoiado pela Aliança Democrática, pequeno partido da Guiné-Bissau, tem centrado a campanha para as eleições de dia 18 na educação e diz que, nesse aspeto, o país está "no fundo do poço".
Longe dos comícios que arrastam multidões, o candidato a Presidente tem preferido uma campanha de esclarecimento, porta-a-porta, tabanca a tabanca (pequenas aldeias do interior), porque, justifica, percebeu em eleições anteriores que os comícios não representam nada e que as pessoas "são sempre as mesmas".
Em declarações à Lusa em Bafatá, no intervalo de ações de campanha na Guiné-Bissau "mais profunda", faz um balanço "muito positivo" da primeira semana de campanha e garante: "vai haver surpresas, esperamos um bom resultado em Oio, Bafatá, Gabu (leste), e também no norte".
Mas aponta como "muito negativo" o estado do ensino no país, com um Estado a "promover o analfabetismo" e um governo com "ministros quase analfabetos".
"Entendi que devia levantar a minha voz, com os demais da minha geração, de forma a lutar pela alteração da situação política que se vive. Foi decisão minha mas é perfilhada por muitos guineenses descontentes com a situação social, política e económica do povo. Não sou mais do que uma caixa de ressonância dessa indignação", diz.
Formando em Portugal (em Direito), empresário em Bissau, Vicente Fernandes tem sido acusado de nem sequer falar crioulo guineense mas não é verdade. À Lusa fala em português para dizer que ele mesmo ficou admirado com o atraso do interior do país, onde por todo o lado a inteligência é relegada para segundo plano.
O país, diz, não tem falta de quadros, mas os incentivos são tão poucos que os melhores professores foram para Cabo Verde e os que se formaram em Medicina, em Portugal, ainda por lá estão.
"A Educação para mim é o ponto fulcral, sem ela não há progresso para nenhum outro setor, é hipotecar o país", diz Vicente Fernandes, que acusa o partido no poder, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), de "usar as fraquezas populares para amarrar as pessoas".
"Os quadros vindos da luta de libertação tornaram-se agentes adversos ao desenvolvimento. O que Amílcar Cabral disse caiu em saco roto. Porquê então a luta de libertação? Para termos uma bandeira e um hino?", questiona.
É que, diz o candidato, não se entende como é que tantos anos após a independência continua a haver tanto analfabetismo, como é que não se potencia a grande capacidade agrícola do país, que podia ser autossuficiente em termos alimentares, e como é que não se potencia o turismo, aproveitando o arquipélago dos Bijagós.
"Não acredito que haja vontade dos agentes do PAIGC em levar o país ao desenvolvimento", diz à Lusa, propondo uma mudança completa de valores na Guiné-Bissau, começando por rever a Constituição, reduzir substancialmente o número de Ministérios e reduzir o número de deputados para 50, porque os outros "nem sabem ler o português".
Vicente Fernandes vai andar pela zona leste do país na próxima semana, sempre na mesma toada: "levar as pessoas a inteirar-se da realidade e propor-lhes soluções".
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