terça-feira, 6 de março de 2012

Moçambique: Fracas punições contribuem para aumento de caça ilegal



Deutsche Welle

Em Moçambique a caça furtiva está a comprometer o repovoamento animal. Por causa disso o Krüger Park, da África do Sul, já não vai derrubar a vedação para permitir a livre circulação de animais nos dois territórios.

Caçadores furtivos moçambicanos e sul-africanos estão cada vez mais a desencadear ações do lado moçambicano, à procura de rinocerontes e outros animais com alto valor comercial.

As razões são várias. Em Moçambique, por exemplo, as penas para este crime são válidas por alguns meses de prisão, enquanto na África do Sul chegam até 20 ou 24 anos.

A guarda florestal sul-africana, também conhecida por Rangers, tem igualmente estado a reportar casos de indivíduos que se encontravam a caçar animais ilegalmente mortos dentro do Parque Nacional Krüger.

A outra razão prende-se com o facto de os animais, especialmente os rinoceronetes, atravessarem para Moçambique à procura de água que está disponível quase toda a época, tal como diz João Zimaima, da polícia moçambicana: “E assim os caçadores aproveitam para abater cá do lado moçambicano."

A polícia moçambicana, que não possui grandes meios de patrulhas, explica que quando há patrulhamento intensivo de helicópetros, do lado sul-africano, significa que há uma movimentação massiva de caçadores furtivos. E isso aconteceu na última semana.

O último rinoceronte preto?

Supõe-se que os caçadores furtivos tenham abatido o último rinoceronte negro do parque transfronteiriço de Limpopo, em Gaza, província a sul do país. O animal foi abatido com o objetivo de extrair o corno que tem um alto valor comercial.

Os asiáticos acreditam que o corno deste animal seja medicinal - daí que a sua venda custe 70 mil dólares o quilograma. O corno de um rinoceronte adulto pesa 12 quilos. Segundo João Zimaima: “Estamos aqui, o que significa que há preocupação dos governos moçambicano e sul-africano e, em particular, das fazendas e do Krüger Park. Há coordenação.”

Jonathan Beck, da guarda florestal sul-africana, diz que com o abate do último rinoceronte negro os caçadores furtivos moçambicanos poderão voltar a caçar na África do Sul. Beck relata as circunstâncias em que foi encontrado o animal: "O rinoceronte negro foi abatido há três ou quatro semanas e descobrimo-lo morto. É preocupante e acreditamos que seja o último.”

Esquemas bem orquestrados

Por seu lado, o administrador do Parque do Limpopo, Baldeu Chande, tem a certeza que os caçadores têm a proteção de indivíduos poderosos no país vizinho, e esquematiza o provável plano usado pela rede de caçadores ilegais: “Alguém na África do Sul contacta os intermediários e estes falam com os que vivem à volta do Parque Nacional do Limpopo. [Então] penetram no Krüger e fazem abate das espécies e depois voltam a introduzir [os produtos] na África do Sul."

Ainda de acordo com explicações de Baldeu Chande, os caçadores, com maiores posses financeiras, aliciam a comunidade que vive à volta do parque e assim caçam ilegalmente. "Para evitar que sejam encontrados na África do Sul, usam Moçambique para fazer esta transição”, explica o administrador do Parque do Limpopo.

A África do Sul possui a maior população mundial do rinoceronte negro. Devido a procura deste animal por caçadores furtivos, esta espécie foi declarada como extinta em alguns países.

Autor: Romeu da Silva (Maputo) - Edição: Nádia Issufo / Renate Krieger

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