quinta-feira, 15 de março de 2012

Organizações ambientais pressionam Berlim a retirar garantia financeira para Angra 3



Deutsche Welle

Estudo encomendado pelo Greenpeace e Urgewald, na Alemanha, considera projeto brasileiro "obsoleto" e com sérias falhas, que poderiam comprometer sua segurança. Garantia alemã passa de 1,3 bilhão de euros.

Um estudo divulgado nesta terça-feira (06/03) na Alemanha pelas organizações ambientais Greenpeace e Urgewald, reforçou as críticas ao posicionamento de Berlim por manter uma garantia de 1,3 bilhão de euros para a construção da usina nuclear de Angra 3 no Brasil. O levantamento, assinado pelo engenheiro brasileiro Francisco Corrêa, aponta falhas no projeto de construção da usina que poderiam comprometer seriamente sua segurança.

Segundo o especialista, a continuidade do programa nuclear brasileiro apresenta ainda um grave problema: o país não estaria cumprindo o acordo realizado com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de deixar nas mãos de um órgão independente a fiscalização sobre as atividades nucleares. Corrêa ressalta que atualmente essa fiscalização é feita pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), mesmo órgão que desenvolve as atividades nucleares no país.

"A CNEN não é independente, pois fiscaliza e é dona das indústrias nucleares do Brasil", afirmou Corrêa à Deutsche Welle. Ele foi contratado pelas duas organizações para mostrar os riscos da instalação da usina de Angra 3 no Rio de Janeiro.

Projeto obsoleto

Uma das maiores críticas apresentadas pelo estudo do consultor brasileiro é com relação à falta de atualização do projeto de Angra 3 com tecnologias e práticas modernas usadas nas usinas, hoje em dia. Planejada na década de 70, o projeto das instalações da usina são basicamente os mesmos desde os anos 80. "Angra 3 é totalmente obsoleta", afirma o especialista.

Ele explica que a contenção – construção que protege os reatores nucleares – prevista para a usina fluminense teria apenas 60 centímetros de espessura. "É muito fina, não resiste à queda de avião comercial ou militar, por exemplo", diz o especialista, reiterando que a colocação do governo de que não há linhas aéreas cruzando a região não justificaria a flexibilização. "Reatores modernos utilizam duas paredes de contenção de 1,30 metro."

Corrêa também critica o local escolhido para a construção da terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto – onde já existem as usinas Angra 1 e 2. O município de Angra dos Reis, conhecido pela bela costa, oferece grandes riscos de deslizamentos de terra, como tem ocorrido nos últimos anos, podendo danificar as instalações das usinas e mesmo dificultar uma rota de evacuação da população, em caso de acidente.

"O local onde Angra 3 seria instalada não passaria nem nos critérios atuais estabelecidos pela Eletronuclear para futuras atividades, pois eles não aceitam locais onde possa haver deslizamento de terra, nem onde haja cidades próximas com mais de 5 mil habitantes", aponta o especialista.

Para o Greenpeace, o reator brasileiro descumpre totalmente os critérios básicos de segurança estabelecidos desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e a catástrofe de Fukushima no ano passado. "Este reator não seria passível de aprovação na Alemanha", alfineta o especialista em energia nuclear da organização na Alemanha, Tobias Riedl.

Pressão alemã

O uso de energia nuclear é um tema bastante sensível na Alemanha e tem levantado grandes discussões e gerado protestos contrários ao seu uso na Alemanha. Após o acidente em Fukushima, no Japão, exatamente há um ano, a chanceler federal Angela Merkel foi pressionada a rever a política nuclear do país, e por fim anunciou o fim do programa nuclear do país. "Se a chanceler quer manter a credibilidade de sua política atômica, é preciso acabar com este acordo nuclear no Brasil", afirma Riedl.

Há anos, as organizações ambientais vêm aumentando a pressão para que Berlim não conceda a garantia superior 1,3 bilhão de euros – uma espécie de fiança para proteger as empresas envolvidas do negócio, em caso de fracasso. Angra 3 será construída pelo conglomerado francês Areva, do qual participa também a empresa alemã Siemens.

Apesar das declarações anteriores de que o futuro reator brasileiro seguiria as técnicas usadas na Europa ocidental e de que a produção das peças asseguraria empregos na Alemanha, o governo alemão dá sinais de que pode recuar na garantia. Nesta segunda-feira, durante a feira de informática CeBit, em Hannover, Merkel ressaltou que uma decisão final ainda não foi tomada sobre o assunto.

Questionada pela imprensa, porém, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, recebida no evento pela premiê alemã, reiterou que o projeto Angra 3 está mantido.

Autora: Mariana Santos - Revisão: Augusto Valente

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