Martinho Júnior, Luanda
1 – Em plena campanha eleitoral em França, Sarkozy revela-se por inteiro numa posição ultra liberal, que resgata muitas das intenções da direita mais conservadora que tem na família Le Pen seu máximo expoente político.
À direita de Sarkozy só existe o abismo, ou seja, o fascismo e o nazismo perenes e não itinerantes conforme se passa pelo menos com este Sarkozy em campanha.
Na outra eleição a que saiu vencedor, Sarkozy terá recebido apoios financeiros de Kadafi, mas isso não obstou a que a França sob sua orientação não se tivesse empenhado militarmente até ao assassinato do coronel, que conduziu à situação presente na Líbia: uma nação dividida, feudal, enfraquecida, esvaziada de suas finanças (colocadas no exterior por um Kadafi pouco previdente), uma nação em “ponto rebuçado” para os monopólios do petróleo, sedentos de produto “bom e barato”…
Esse tipo de aparentes ambiguidades, procuram esconder com o seu jogo o essencial: Sarkozy é um fiel servidor do capital tutelado pelas mais conservadoras famílias de banqueiros da Europa e dos Estados Unidos, famílias de banqueiros que integram a aristocracia financeira mundial, que por seu turno constituem os principais interessados nos monopólios que se ligam à indústria energética: foram eles que se tornaram decisivos, por via de processos elitistas do conhecimento humano aplicado à ciência e à tecnologia, sobre tudo o que foi ocorrendo a partir da Revolução Industrial (Rapidinhas do Martinho – 59 – França – Pequena radiografia do poder global – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html).
A carreira de Sarkozy está cheia de episódios, que redundam dessa sua trilha ultra liberal, sem programa definido e agindo a coberto duma mentalidade oportunista, que por vezes aparenta responder muito mais aos instintos do que a qualquer tipo de conceito bem elaborado.
Reitor do neo colonialismo em África, é toda a África francófone a principal vítima: são muitos dos países dessa região que estão nos últimos lugares dos Índices de Desenvolvimento Humano, mas é sobre eles que a França, a França regida por Sarkozy de há vários anos a esta parte, continua a fazer valer medidas radicais de migração, que não hesitarão a pôr em causa até o Acordo de Shengen!
A França de Sarkozy, na sequência de políticas anteriores não menos nefastas para África, a França que contribuiu e contribui para a mancha de miséria que se estende sobretudo no Sahel e no Oeste Africano, pretende proibir aos jovens migrantes africanos dispostos à aventura em função da miséria e da total ausência de oportunidades dos seus países, um modo mais digno de sobrevivência.
Sarkozy aplicou duma forma geral e salvo muito escassas excepções, enquanto está no poder, uma política de desprezo para com os africanos e para com seus interesses.
O caso do Níger é um exemplo que já foi por mim evocado na Rapidinha nº 19 (Níger – o neo colonialismo francês mortal e a pleno vapor – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/06/rapidinhas-do-martinho-19.html): o país onde a AREVA vai buscar uma parte substancial do urânio que é utilizado nas centrais nucleares francesas, está na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano e possui problemas que nunca foram ultrapassados, inclusive problemas ambientais resultantes da exploração do urânio!
Onde há morte no continente africano, a França faz-se presente: foi assim na Argélia, foi assim no Ruanda, foi assim na Costa do Marfim, foi assim na Líbia, está a ser assim na Somália, será sempre assim enquanto o capital decidir impunemente, por via dos Sarkozy de ocasião para quem não cabe o Tribunal Penal Internacional!
Publiquei em 2011 “A NATO sempre presente em África” (http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/nato-sempre-presente-em-africa.html) e lembro o que referi em relação à França, quando o colonialismo se fazia prevalecer na Argélia:
“A 2ª potência colonial a utilizar os T-6 em África foi a França, durante a guerra da Argélia, de 1 de Novembro de 1954 a 19 de Março de 1962 (“Algerian War” – http://en.wikipedia.org/wiki/Algerian_war).
Foi uma guerra sangrenta, que terá causado cerca de um milhão de mortos argelinos.
Os T-6 constituíram um dos meios operacionais da Aviação Militar Francesa empregue nos ataques ao solo; nesses ataques houve por vezes o emprego de napalm”.
2 – O papel da inteligência francesa na Síria, depois do seu papel na Líbia, continua para aqueles que advogam a globalização multi polar na ordem do dia, por que é um obstáculo para o diálogo e para, por via de meios pacíficos, se resolverem diferendos sociais, de forma a não pôr em risco a soberania dos países, mesmo que conduzam a mudanças do carácter do poder, nem a segurança das populações e comunidades.
Isso é tanto mais razoável quanto correntes islamitas radicais estão a surgir associadas a esse tipo de ingerências que, em nome dos direitos humanos defendem interesses egoístas a coberto das correntes ultra liberais no poder, como a que personifica Sarkozy em França!
A “democracia representativa” está em causa quando isso acontece, tudo para defender os interesses no petróleo “bom e barato” da península Arábica, salvando suas monarquias promotoras de elitismo, de castas e de corrupção, similares cada vez mais às castas existentes nas potências instrumentalizadas pelo capitalismo como os Estados Unidos, a Grã Bretanha e a França!
A inteligência francesa na Síria tem na verdade uma dupla subordinação: à França e aos Estados Unidos, servindo às mil maravilhas aos interesses e vocações do Pentágono!
Em “Verdades e mentiras e a mídia do Pentágono” (http://port.pravda.ru/mundo/27-02-2012/32997-siria_verdades_mentiras-0/), a imprensa não contaminada pela versão da conveniência da aristocracia financeira mundial esclarece muito do que de facto está a ocorrer na Síria:
“A OTAN e a Al Qaeda estão em aliança - Verdade.
Aqui é preciso esclarecer muitas coisas.
Ainda que isso possa parecer inacreditável, para quem foi bombardeado durante anos com a informação de que a rede Al Qaeda de Osama Bin Laden sempre foi uma rede terrorista, que teriam feito os atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, isso pode parecer mesmo um verdadeiro absurdo.
Mas não é.
Escritores, jornalistas independentes e intelectuais progressista a cada dia vêm trazendo informações precisas e importantes que comprovam essa informação.
E os próprios comunicados da organização Al Qaeda pelo seu novo "comandante", o médico pediatra egípcio Ayman Al Zawahiri atestam isso.
Textos recentes da lavra desse senhor ou a ele atribuídos, mencionam a importância fundamental da derrubada do governo sírio em aliança com as forças do autoproclamado Exército Síria Livre.
E essa organização prega o Estado Islâmico.
Essa organização faz questão de não dialogar com o governo. Foi assim na Líbia quando ela apoiou abertamente a queda de Khadaffi e fez aliança com as forças da OTAN. Agora, da mesma forma, conversações de alto (?) nível entre emissários dessa organização militar europeia - agora mundial! - com líderes da Al Qaeda que atuam na Síria mostra essa aliança, que é abastecida fartamente com dólares do petróleo árabe das monarquias do Golfo e dinheiro da CIA e do Mossad de Israel, via território curdo.
Como diz Pepe Escobar, combativo jornalista brasileiro correspondente do Asia Times, quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria é exatamente o que a Al Qaeda deseja para a Síria? Quem imaginaria que o CCG e a OTAN desejam para a Síria é o mesmo que a Al Qaeda deseja para esse país?"
Gravura: Mapa da África francofone. A intervenção de Sarkozy na Líbia influenciou toda a situação em África: quanto mais fragilizada e dividida estiver África, tanto melhor para os interesses neo coloniais.
2 comentários:
A sangrenta estrada para Damasco:
A guerra da tripla aliança contra um Estado soberano
por James Petras [*]
Há uma clara e esmagadora evidência de que o levantamento para o derrube do presidente Assad, da Síria, é uma violenta tomada de poder conduzida por combatentes apoiados no estrangeiro que mataram e feriram milhares de soldados, polícias e civis partidários do governo sírio, bem como a sua oposição pacífica.
A indignação expressa por políticos no Ocidente, em estados do golfo e nos mass media acerca da "matança de pacíficos cidadãos sírios a protestarem contra a injustiça" é cinicamente concebida para encobrir informações documentadas da tomada violenta de bairros, aldeias e cidades por bandos armados, brandindo metralhadoras e colocando bombas nas estradas.
O assalto à Síria é apoiado por fundos, armas e treino estrangeiro. Devido à falta de apoio interno, contudo, para ter êxito, será necessária intervenção militar directa estrangeira. Por esta razão foi montada uma enorme campanha de propaganda e diplomática para demonizar o legítimo governo sírio. O objectivo é impor um regime fantoche e fortalecer o controle imperial do Ocidente no Médio Oriente. No curto prazo, isto destina-se a isolar o Irão como preparativo para um ataque militar de Israel e dos EUA e, no longo prazo, eliminar outro regime laico independente amigo da China e da Rússia...
http://resistir.info/petras/petras_09mar12.html
INSIGHT - military intervention in Syria, post withdrawal status of forces
A few points I wanted to highlight from meetings today --
I spent most of the afternoon at the Pentagon with the USAF strategic
studies group - guys who spend their time trying to understand and explain
to the USAF chief the big picture in areas where they're operating in. It
was just myself and four other guys at the Lieutenant Colonel level,
including one French and one British representative who are liaising with
the US currently out of DC.
They wanted to grill me on the strategic picture on Syria, so after that I
got to grill them on the military picture. There is still a very low level
of understanding of what is actually at stake in Syria, what's the
strategic interest there, the Turkish role, the Iranian role, etc. After a
couple hours of talking, they said without saying that SOF teams
(presumably from US, UK, France, Jordan, Turkey) are already on the ground
focused on recce missions and training opposition forces. One Air Force
intel guy (US) said very carefully that there isn't much of a Free Syrian
Army to train right now anyway, but all the operations being done now are
being done out of 'prudence.' The way it was put to me was, 'look at this
way - the level of information known on Syrian OrBat this month is the
best it's been since 2001.' They have been told to prepare contingencies
and be ready to act within 2-3 months, but they still stress that this is
all being done as contingency planning, not as a move toward escalation...
http://wikileaks.org/gifiles/docs/1671459_insight-military-intervention-in-syria-post-withdrawal.html
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