sexta-feira, 9 de março de 2012

UMA TELENOVELA EDIFICANTE




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

O guião da telenovela Lusoponte, em cena há mais de uma década, foi pioneiro no uso do emocionante "plot" que são as Parcerias Público-Privadas, negócio em que, para efeitos de maquilhagem orçamental, o público corre os riscos e, por sua parte (por isso são "parcerias"), o privado fica com os lucros. A concessão foi assinada em 1994 pelo ministro das Obras Públicas Ferreira do Amaral (PSD), hoje... administrador da Lusoponte, e revista em 2000 pelo ministro das Obras Públicas Jorge Coelho (PS), hoje CEO da Mota-Engil, um dos maiores accionistas da... Lusoponte.

No último (?) episódio, o actual Governo (PSD/CDS) paga à Lusoponte 4,4 milhões como "compensação" pela não cobrança, em Agosto de 2011, de portagens na Ponte 25 de Abril que a Lusoponte... cobrou. Na AR, três semanas antes do Dia das Mentiras, o primeiro-ministro garante que não sabe de nada.

Passados uns minutos, porém, já sabe, fazendo questão de "deixar claro" que tal duplo pagamento não existiu. Menos de 24 horas depois, não só o secretário de Estado dos Transportes o desmente, revelando que, afinal, houve duplo pagamento, como a própria Lusoponte o confirma, adiantando que não tenciona devolver nem um cêntimo.

Aguarda-se o final, embora previsível e, como de costume, edificante: o rapaz casará com a rapariga e todos, PSD, PS, CDS, Lusoponte e Mota-Engil, serão felizes para sempre. E o vilão contribuinte pagará de novo pelos seus crimes.

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