quarta-feira, 4 de abril de 2012

ALGUÉM ACREDITA NO QUE ELE DIZ?




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O ministro da Administração Interna de Portugal, Miguel Macedo, determinou hoje que essa coisa de polícias agredirem jornalistas não pode ficar impune.

Vai daí avançou com a instauração de um processo disciplinar ao agente envolvido nas agressões à fotojornalista da France Presse e a abertura de inquérito para prosseguir a investigação no caso do fotojornalista da Lusa.

Miguel Macedo continua a mostrar de que raça é feito este governo. E por isso a legalidade não se compadece com imoralidades. Já tinha sido assim quando foi revelado que recebia todos os meses cerca de 1400 euros por subsídio de alojamento, apesar de ter um apartamento seu na área de Lisboa onde reside durante toda a semana.

Recordo-me, aliás, de ter ouvido Miguel Macedo, então líder parlamentar do PSD, acusar no dia 15 de Julho de 2010 o primeiro-ministro de viver na fantasia e de ter feito um discurso sobre a situação do país que insulta as dificuldades dos 600 mil portugueses desempregados.

E em pouco menos de dois anos o governo que agora integra conseguiu, o que é obra, passar os desempregado de 600 mil para 1.200 mil. É que, do ponto de vista estatístico, o impacto de um insulto dividido por 1.200 mil é menor do que repartido por 600 mil…

Sempre achei piada a este tipo de discussões de políticos que são fuba do mesmo saco, que são pares no tango que continua a pôr o país de tanga, que gostam – com tonalidades muito similares – de gozar com a chipala dos portugueses, julgando que todos eles são matumbos.

"O que temos hoje no país é impostos a mais, endividamento a mais, despesa pública a mais, riqueza a menos, poder de compra a menos, dificuldades a mais para as famílias e para as empresas", declarou na altura o líder parlamentar do PSD durante um debate sobre o (mau) “Estado da Nação”, no Parlamento.

Ou seja, disse o mesmo que hoje diz o PS deste governo. É que a situação do país dos portugueses, não o país da maior parte deles, passa sempre pela mesma receita, pelo mesmo diagnóstico e – é claro – pelas mesmas vítimas.

Miguel Macedo apontou na altura os "mais de cem mil portugueses que abandonam por ano o país porque não encontram em Portugal um presente e, sobretudo, não vislumbram em Portugal um futuro", e criticou os resultados invocados e o tom utilizado pelo então primeiro-ministro, José Sócrates, no seu discurso.

E então? Nada. O PSD, por falta de melhores argumentos, tem garganta suficiente para ir dizendo algumas verdades mas, até agora, apresenta-se como um partido castrado ou, pelo menos, detentor de tomates amovíveis. Sendo que a maior parte das vezes os deixa na gaveta.

"Desculpe que lhe diga, senhor primeiro-ministro, está a insultar a dificuldade de 600 mil portugueses que estão no desemprego", disse o líder parlamentar do PSD, acusando José Sócrates de ter demonstrado "insensibilidade social e de autismo político" e de ter feito uma intervenção de quem vive no "país da fantasia".

Mais uma vez o PSD esquece-se que ladrão tanto é o que entra em casa como o que fica à porta. E em Portugal, agora, alteraram-se as posições. Apenas isso. É o PSD quem entra na casa dos portugueses, mas quem fica à porta (desejoso de regressar para fazer o mesmo) é o PS.

Segundo o então líder parlamentar do PSD, "os portugueses hoje não vivem melhor depois de cinco anos de Governo socialista" e Portugal é "um país com mais pobres, mais excluídos e mais desigualdades", ao contrário do que alegou o primeiro-ministro.

Só faltou dizer que os portugueses que estão a aprender a viver sem comer são cidadãos de terceira. De primeira, e sem esses problemas, são agora os do PSD, de segunda e também sem grandes problemas são os do CDS, de terceira os do PS e de quarta são todos aqueles que trabalham, todos os que pensam pela sua própria cabeça e que não têm nem coluna vertebral nem tomates amovíveis.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Os angolanos (não) comem e calam. Até quando aceitarão ser escravos do regime?

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