quinta-feira, 19 de abril de 2012

Guiné-Bissau - Daba Nah Walna: "VOLTÁMOS PARA A CASERNA"




Porta-voz do Comando Militar da Guiné-Bissau esclarece que a assinatura de um acordo com os políticos representa "a reconfirmação clara" de que "os militares não querem assumir o poder". Ainda não se sabe quem vai ocupar a Presidência, o Governo e o futuro Conselho Nacional de Transição.

Os militares guineenses autores do golpe de Estado do passado dia 12 reafirmaram esta noite o retorno às casernas, depois de um acordo firmado com os políticos para a transferência do poder.

O anúncio do retorno às casernas foi feito pelo tenente-coronel Daba Nah Walna, porta-voz do Comando Militar.

"Assinámos este acordo para dizer à sociedade civil que nós voltámos para a caserna. O nosso lugar é lá. Somos militares por opção. Os políticos quiseram ser políticos. Há que separar as águas para que o país possa progredir", disse Nah Walna.

Para este militar, a assinatura do acordo com os políticos "é um gesto simbólico" que representa "a reconfirmação de forma clara de que os militares não querem assumir o poder" na Guiné-Bissau.

Cinco chefes de Estado da CEDEAO aguardados em Bissau

Cinco chefes de Estado da CEDEAO são esperados na próxima segunda-feiraem Bissau, para conversações com os militares autores do golpe, revelou o porta-voz do Comando Militar.

Os chefes de Estado da Comunidade Económica da África Ocidental (CEDEAO) vão analisar os mecanismos para o retorno à normalidade constitucional na Guiné-Bissau.

"Os militares não podem afastar-se deste processo totalmente, até porque deve chegar ao país já na segunda-feira uma importante delegação da CEDEAO, composta por cinco chefes de Estado", disse Nah Walna, questionado sobre os próximos passos que o Comando Militar pretende encetar no processo da normalização da vida institucional da Guiné-Bissau.

A CEDEAO, tal como a União Africana, a organização da francofonia, a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), a União Europeia e as Nações Unidas exigem aos militares a devolução do poder aos órgãos civis democraticamente eleitos.

O Comando Militar (que reivindica a autoria do golpe) assinou hoje com 22 partidos (a maioria sem representação parlamentar) um acordo, mas sem a presença do PAIGC, o partido no poder até quinta-feira da semana passada, quando se deu o golpe.

O presidente da comissão da CEDEAO, Desiré Ouedreagou, chefiou, na passada segunda-feira, uma delegação composta por alguns ministros e chefes das Forças Armadas de três países da organização, à qual o Comando Militar prometeu a devolução do poder aos órgãos democraticamente eleitos, bem como a libertação do Presidente interino do país, Raimundo Pereira e do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior. Raimundo Pereira e Gomes Júnior continuam ainda detidos, em parte incerta.

Nomes divulgados em "dois ou três dias"

Em nome dos partidos políticos, Artur Sanha, antigo primeiro-ministro de transição e ex-secretário-geral do Partido da Renovação Social (PRS, de Kumba Ialá), afirmou que com o acordo hoje assinado "os militares vão submeter-se aos políticos".

"Os políticos estão de mãos estendidas para receber o poder que os militares detinham desde o dia 12. Agora é apenas uma questão meramente administrativa e jurídica para a regulamentação do período de transição", afirmou Sanhá.

"Dentro de dois ou três dias começarão a ouvir os nomes de figuras que vão ocupar a Presidência da Republica, o Governo e o Conselho Nacional de Transição", sublinhou Artur Sanhá.

"Existe já um consenso entre os partidos para uma pré-seleção que já está nas mãos dos militares", frisou Sanhá, que, no entanto, negou revelar os nomes das pessoas pré-selecionadas para esses cargos.

"Isso é segredo", respondeu Artur Sanhá, quando questionado pelos jornalistas, mas fez questão de notar que a Constituição da República ficará afetada com o acordo hoje firmado com os militares.

"Finalmente conseguimos ir para o primado da Constituição em 80 ou 85 por cento", observou Artur Sanhá, quando confrontado com o modelo da transição que é pretendido.
Dois anos suficientes para "arrumar" casa

O porta-voz do Comando Militar considerou que os dois anos previstos para durar a transição é o período suficiente para a "arrumar a casa", no entender dos políticos e dos militares.

"Esse período é aquilo que se julgou ser razoável para uma transição. Porque a história deste país provou-nos que o problema não são as eleições. Quantas eleições já fizemos aqui e quais têm tido resultados. Falta ao país tempo para arrumar a casa. É o que se pretende fazer agora", explicou Daba Nah Walna.

Sobre as sanções internacionais que pendem sobre a Guiné-Bissau em caso de uma transição do poder fora do âmbito constitucional, como foi hoje acordado, Artur Sanhá não se mostrou preocupado.

"A CEDEAO, a União Africana, as Nações Unidas e outras organizações internacionais devem louvar a Guiné-Bissau pela sua experiencia em transições do poder. Esta é a terceira transição que fazemos", lembrou Sanhá Perante a insistência dos jornalistas sobre as questões que se pretendem com eventuais sanções para o país, Sanhá desafiou os profissionais da comunicação social para um debate.

"Peço aos jornalistas para organizarem uma plateia alargada para um debate com os políticos sobre as viabilidades desta terceira transição na Guiné-Bissau", disse Artur Sanhá.

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