JSD - Lusa
Cidade da Praia, 27 abr (Lusa) - O prazo de 72 horas dado na quinta-feira pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) aos golpistas guineenses termina no domingo, disse hoje na Cidade da Praia o Presidente de Cabo Verde.
Jorge Carlos Fonseca, que participou na quinta-feira em Abidjan numa cimeira extraordinária da CEDEAO, afirmou que, caso os golpistas guineenses não acatem o "ultimato", a organização da África Ocidental "tomará as medidas que achar necessárias" em duas reuniões próximas da sub-região.
Segundo o chefe de Estado cabo-verdiano, o envio de uma missão de manutenção de paz ou de interposição da CEDEAO para a Guiné-Bissau, decidida na quinta-feira na cimeira, está "iminente", tendo já sido empossado, na mesma reunião, o comandante da missão, um coronel do exército do Burkina Faso, cujo nome não adiantou.
Os chefes de Estado da África Ocidental decidiram enviar entre 500 a 600 militares para a Guiné-Bissau e três mil para o Mali, para "estabilizar" a transição nos dois países, afetados por crises político-militares.
A CEDEAO decidiu que o contingente a enviar para a Guiné-Bissau vai ter por missão "facilitar a retirada da Missão de Assistência Técnica e Militar de Angola na Guiné-Bissau, dar assistência à estabilização do processo de transição" de um ano após o golpe de Estado de 12 de abril e preparar a reforma do setor da defesa e segurança, indica o comunicado final da cimeira.
Os 500 a 600 homens do contingente serão fornecidos por pelo menos quatro países: Nigéria, Togo, Costa do Marfim e Senegal.
Os responsáveis da CEDEAO garantiram que se o Comando Militar não se submeter às exigências "nas próximas 72 horas", a Comunidade "imporá com efeito imediato sanções dirigidas aos membros do comando Militar e seus colaboradores, bem como sanções diplomáticas, económicas e financeiras à Guiné-Bissau, sem excluir processos no TPI" (Tribunal Penal Internacional).
No mesmo dia em que termina o prazo para o regresso à normalidade constitucional na Guiné-Bissau, reúne-se o grupo de contacto oeste-africano em Banjul, capital da Gâmbia, para analisar a situação no país.
A reunião de domingo em Banjul terá a participação dos chefes da diplomacia de Cabo Verde, Nigéria, Benim, Togo, Senegal, Gâmbia e Gana, que constituem o grupo de contacto, e antecede uma outra, a 03 de maio, em Dacar, capital do Senegal, de chefes de Estado da sub-região, onde será avaliada a situação na Guiné-Bissau e as medidas a adotar.
"Há as sanções pessoais, dirigidas aos golpistas, e económicas, diplomáticas e financeiras", lembrou Jorge Carlos Fonseca, adiantando, porém, que na Guiné-Bissau "todo poderá acontecer" caso os golpistas não cumpram o ultimato.
"Não se pode prever, mas há uma força dissuasora muito forte para pôr termo às veleidades do Comando", acrescentou, aludindo não só à missão militar da CEDEAO, mas também à disponibilidade das uniões Africana (UA) e Europeia (UE), das Nações Unidas, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Estados Unidos e França, igualmente presentes na Cimeira.
"Se o presidente interino (Raimundo Pereira) e o primeiro-ministro (Carlos Gomes Júnior) da Guiné-Bissau não forem entretanto libertados, tal será considerado como falta de cooperação", avisou.
Jorge Carlos Fonseca indicou que Cabo Verde, apesar de se ter disponibilizado não enviará qualquer contingente para a Guiné-Bissau, sublinhando que a Nigéria constituirá o grosso dos cerca de 600 efetivos da missão.
Sobre a missão militar angolana em Bissau, a Missang, o Presidente cabo-verdiano indicou ter ficado decidido que, apesar de haver já garantias de que sairá da Guiné-Bissau, tal só acontecerá após a chegada da força da CEDEAO, de forma a garantir a segurança do contingente de Angola.
Jorge Carlos Fonseca estranhou a presença de uma delegação do Comando Militar guineense à margem da reunião de Abidjan, numa altura em que Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior continuam detidos.
O Presidente cabo-verdiano indicou, todavia, que, na reunião com alguns chefes da diplomacia de países da CEDEAO, o Comando Militar guineense "não foi tão cooperante", facto que se refletiu no aumento da dureza das decisões da cimeira, sobretudo no próprio comunicado final.
Comando Militar aceita todas as exigências da CEDEAO
Bissau, 27 abr (Lusa) - O Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau disse hoje em Bissau que aceitou todas as condições impostas pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEO) para resolver a crise no país.
"Aceitámos", disse hoje em conferência de imprensa o porta-voz do Comando Militar, Daba Na Walna. "Estamos em condições para cumprir todas as exigências da CEDEAO", acrescentou.
O Comando tomou o poder pela força no dia 12 e prendeu o Presidente interino e o primeiro-ministro, mas o golpe foi condenado unanimemente pela comunidade internacional.
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