Mussá Baldé - Agência Lusa
Bissau, 17 abr (Lusa) - Enquanto os políticos e os militares da Guiné-Bissau debatem as soluções para a saída da crise motivada por mais um golpe de Estado, centenas de pessoas estão a levar solidariedade ao hospital Simão Mendes, através da água, comida e combustível.
Quase sempre o Simão Mendes (hospital de referência na Guiné-Bissau) tem carência de tudo. Mas o golpe militar do passado dia 12 veio agravar ainda mais a situação.
Para superar as carências, já que não há Governo no país e os bancos estão fechados, a direção do hospital decidiu lançar um SOS na Internet e criou uma página com um pedido de apoio: água, comida, material sanitário, combustível. Tudo o que se pode arranjar para socorrer os doentes, sobretudo as crianças internadas na pediatria ou as mães parturientes.
Adilson Teixeira e Albano Barai são dois amigos. Viram o anúncio na Internet (numa página do Facebook que o hospital criou) e decidiram agir, juntando apoios para responder ao grito de socorro do Simão Mendes. Juntaram-se no grupo Amigos de Boa Vontade e fizeram uma 'vaquinha', com outros companheiros e no total são já 15, tendo feito já três visitas ao Simão Mendes.
A Agência Lusa testemunhou hoje o momento em que o grupo, constituído essencialmente por jovens licenciados recém-regressados ao país, distribuía o pequeno-almoço para os doentes e enfermeiros nos serviços da pediatria, maternidade e recobro.
Não era até muita coisa, mas deu para perceber que leite, a água ensacada e uma sanduíche de atum fizeram as delícias dos doentes e do pessoal de apoio médico que recebeu as ofertas das mãos dos jovens.
"Como esta sandes e bebo leite e ponho-me a dormir durante várias horas", disse à Lusa, uma doente nos serviços do recobro (unidade dos queimados).
Quem não esconde também a sua satisfação com a onda da solidariedade é o chefe da cozinha, Flaviano Silva. "Tenho comida suficiente para dar aos doentes nas próximas duas semanas", disse à Lusa, com visível satisfação.
O cozinheiro regozija-se sobretudo que as ofertas lhe estão a facilitar a vida. "Dantes tinha algumas dificuldades para arranjar certos ingredientes para preparar as refeições, agora não. Tenho quase tudo graças às ofertas que as pessoas trazem ao hospital", diz o chefe Flaviano.
A solidariedade é tanta que a direção do Simão Mendes decidiu hoje mandar algumas ofertas para uma outra unidade clínica de Bissau. Os jovens Amigos da Boa Vontade prometem ajudar outros hospitais, mas para já é o Simão Mendes que prende as atenções.
Ainda os jovens não tinham terminado a distribuição do pequeno-almoço, já alguém anunciava que estava a dar entrada no hospital um camião cisterna com "7 mil litros de gasóleo para o gerador".
"Deus seja louvado", grita uma jovem do grupo dos que servem o pequeno-almoço aos doentes.
A comunidade libanesa anunciou que vai entregar uma tonelada de alimentos na terça-feira. Os bancos, as empresas das telecomunicações também prometem trazer ajudas, conta Albano Barai, um dos impulsionadores da iniciativa.
Normalmente o guineense é solidário mas não é comum levar essa solidariedade para fora da sua casa. O que se vê esses dias, então, é uma nova faceta nestes dias de crise no país, onde na quinta-feira um golpe militar depôs o Presidente interino e o primeiro-ministro, ambos em parte incerta.
Um Conselho Nacional de Transição foi criado no domingo pelos partidos de oposição, numa reunião em que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), não participou.
O golpe de Estado na Guiné-Bissau mereceu ampla condenação internacional, incluindo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que, após uma reunião de ministros no sábado em Lisboa, decidiu propor uma força de interposição com aval da ONU e sanções individualizadas contra os golpistas.
MB (HB)
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