EL - Lusa
Luanda, 29 abr (Lusa) - O Jornal de Angola, órgão estatal angolano e único diário do país, destaca hoje em editorial que o golpe de estado "fracassado" do passado dia 12 na Guiné-Bissau "está a chegar ao fim".
Assinado por Filomeno Manaças, diretor-adjunto do diário, o editorial representa a primeira posição oficiosa do Governo angolano acerca dos recentes desenvolvimentos na situação na Guiné-Bissau, na sequência do acordo alcançado entre os golpistas e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Angola, que preside atualmente à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ainda não se pronunciou formalmente sobre o acordo alcançado pela CEDEAO.
"A história de um golpe de Estado fracassado está a chegar ao fim na Guiné-Bissau", sublinha o editorial, que dá conta do prazo negociado entre os militares golpistas guineenses e os dirigentes da CEDEAO, que teve como primeiro sinal a libertação, na sexta-feira, do Presidente interino, Raimundo Pereira, e do primeiro-ministro Caros Gomes Júnior.
"Trata-se de um primeiro passo que precisa de ser complementado com outros, com relevância para o facto de a junta militar ter de assegurar que todas as figuras que haviam sido presas ou que ainda se encontram cativas possam gozar e exercer os seus plenos direitos civis e políticos em território da Guiné-Bissau", acentua o editorial de Filomeno Manaças.
No seu texto, o diretor-adjunto, depois de destacar as condenações que chegaram de "todos os quadrantes", classifica como sendo "mínimo atípica e absurda a atitude da oposição angolana de abster-se em bloco na votação, na Assembleia Nacional", da resolução que condenou o golpe de Estado na Guiné-Bissau.
"Por mais argumentos que possam ser apresentados, por mais primário que seja o conceito de oposição que entre nós se cultiva, parece pouco inteligente, diante de todos esses factos, que a abstenção tenha lugar sem se lhe acrescer sequer uma declaração de condenação do golpe militar, afinal uma posição elementar de defesa dos valores da democracia", vincou Filomeno Manaças.
No debate que precedeu a votação na Assembleia Nacional, a oposição optou em bloco pela abstenção sob o argumento de que o golpe de estado, que condenou, foi desencadeado em reação à presença do contingente militar angolano e do material bélico, desproporcional às necessidades para cumprir o objetivo do envio para a Guiné-Bissau.
Neste ponto, Filomeno Manaças replica que "mais absurdo ainda é questionar a presença militar angolana e o seu armamento, quando se sabe que a CEDEAO vai agora para a Guiné-Bissau com praticamente o dobro ou quase o triplo dos efetivos de Angola (entre 500 e 600 homens)".
Segundo Filomeno Manaças, os efetivos a enviar pela CEDEAO vão cumprir "a mesma missão que Angola estava a desenvolver no âmbito de um acordo firmado com as autoridades legítimas da Guiné-Bissau".
"Seguramente não estarão lá, parafraseando o vice-ministro da Defesa, Salviano de Jesus Sequeira, com "paus ou brinquedos", adiantou o diretor-adjunto do Jornal de Angola, a citar a afirmação proferida no debate pelo governante, a justificar o tipo de armamento na posse do contingente angolano.
Filomeno Manaças conclui o editorial dedicado à Guiné-Bissau, considerando que os militares angolanos na Guiné-Bissau "devem merecer todo o apoio, de forma incondicional", e reafirma que o golpe de Estado representou "um recuo" nas aspirações dos guineenses ao reforço da democracia no seu país.
Segundo o acordo alcançado entre os golpistas e a CEDEAO, a retirada dos militares angolanos deverá proceder-se de forma enquadrada pelos efetivos que vão ser enviados por aquele organização sub-regional, que será liderada pelo coronel Barro Gnibanga, do Burkina Faso.
A missão da CEDEAO vai ser composta por tropas do Burkina Faso, Costa do Marfim, Togo, Nigéria e Senegal.
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